Plataforma apresenta dados de uso da terra no Cerrado

Cerrado brasileiro possui 49,4% de vegetação natural primária, aponta o TerraClass Cerrado 2018

O mapeamento de uso e cobertura da terra finalizado em 2020 identificou que 28,9% do bioma são constituídos por pastagens e 4,7% por vegetação natural florestal secundária. As informações completas do mapeamento estão disponíveis ao público no GeoPortal TerraClass.

Esses dados foram produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no âmbito do projeto FIP Paisagens Rurais.

De acordo com o estudo, 76% da área destinada à agricultura se manteve como área consolidada e estável, entre 2013 e 2018. Com relação à agricultura temporária de dois ciclos, os dados mostram que, em 2018, 77% destas atividades ocorreram sobre áreas já consolidadas de agricultura, 14% sobre pastagens e 5% sobre áreas naturais de 2013.

Outro dado importante apontou a estabilidade da área das pastagens no período, representando aproximadamente 29% da área total. A constatação dessa estabilidade, associada à expansão da área de agricultura temporária sobre as pastagens, indica que houve um deslocamento de parte das pastagens para outras classes de uso e cobertura de 2013.

A comparação considera o mapeamento do ano-base de 2013, realizado pelo Programa de Monitoramento Ambiental dos Biomas Brasileiros (PMABB), apesar de algumas limitações relacionadas à diferença das metodologias adotadas na execução dos mapeamentos históricos. A inclusão da classe vegetação natural florestal secundária é uma das inovações nos dados de 2018. Em termos de paisagem, essas unidades territoriais assumem papel similar à cobertura natural do Cerrado, ajudando na recomposição dos ecossistemas naturais.

“Outra inovação do TerraClass Cerrado é o mapeamento da agricultura temporária de um e de mais de um ciclo produtivo por ano agrícola, que permite o monitoramento da dinâmica de intensificação das atividades agrícolas relacionadas à produção de grãos e fibras”, conta Alexandre Coutinho, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária.

A agricultura de dois ciclos é uma tecnologia nacional que possibilita ao produtor obter duas safras e não apenas uma no mesmo ano agrícola. Os pesquisadores verificaram que uma parte importante do crescimento da produção agrícola nacional provém de ganhos advindos do aumento da produtividade, por meio da adoção de tecnologias inovadoras e disrruptivas, e outra parte se deu por meio da otimização e do reuso de uma mesma área, para a produção de mais de uma safra.

Para a diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Mapa, Mariane Crespolini dos Santos, “a disponibilidade de uma ferramenta tecnológica capaz de mapear e quantificar o quanto de área degradada, com baixa produtividade, se transformou em área produtiva é um grande passo para o Brasil”. Ela explica que o TerraClass soma-se a outras tecnologias, como o Pronasolos e o Cadastro Ambiental Rural (CAR) dinamizado, disponíveis para a sociedade em geral, que compõem um leque de ferramentas de diagnóstico e elaboração de estratégias de curto, médio e longo prazo. “Vejo um oportuno uso para fortalecer políticas públicas, como o ABC+ e o Programa Águas do Agro”, comenta a diretora.

Na visão de João Adrien, diretor de Regularização Ambiental do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), “os mapeamentos do TerraClass serão fundamentais para o processo de implantação do Código Florestal, principalmente na área de regularização ambiental porque vamos conseguir monitorar essa recuperação da vegetação nativa e compreender como as propriedades rurais estão se adequando à legislação. É extremamente importante termos esses dados para conseguirmos planejar políticas públicas, entender onde são as áreas de maior restauração ambiental e como o governo pode disponibilizar crédito e gerar incentivos para essa restauração. Ao mesmo tempo, também ajuda o País a mensurar suas emissões de carbono”.

TerraClass e FIP Paisagens Rurais

Conhecer e mapear o uso e a cobertura da terra para identificar e qualificar quais são as principais atividades antrópicas desenvolvidas nas unidades territoriais é o objetivo do TerraClass. Fruto de uma parceria entre o Inpe e a Embrapa, o projeto começou em 2008, com foco em áreas desflorestadas na região da Amazônia Legal.

Expandido para o Cerrado, o TerraClass fornecerá ao Governo Federal e público em geral dados oficiais sobre o uso e cobertura da terra, referentes a este bioma. Com isso, a ferramenta assume papel estratégico no projeto “Gestão Integrada da Paisagem no Bioma Cerrado”, conhecido como FIP Paisagens Rurais e apoiado pelo Programa de Investimento Florestal (FIP – Forest Investment Program).

O FIP Paisagens Rurais tem como principal escopo fortalecer a adoção de práticas de conservação e recomposição da vegetação nativa, além de práticas agropecuárias de baixa emissão de carbono no bioma Cerrado, que serão mensuradas por meio do monitoramento da dinâmica da paisagem, via satélite.

O projeto é financiado com recursos do Programa de Investimento Florestal, via Banco Mundial. A coordenação é do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Mapa, com parceria da Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), da Embrapa e do MCTI, por meio do Inpe.

Esse monitoramento terá a contribuição do TerraClass, bienalmente, oferecendo informações sistemáticas e tornando possível determinar a dinâmica e o histórico do uso e cobertura das terras nas áreas antropizadas da região. O TerraClass identifica e qualifica qual é o tipo de uso e cobertura das terras presentes nas áreas já antropizadas, previamente detectadas e delimitadas pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes) e não está focado no desmatamento.

Adotando escala cartográfica de maior detalhe, o TerraClass também irá identificar, delimitar, mapear e analisar as mudanças do uso e cobertura da terra, e da paisagem, em 10 bacias hidrográficas definidas para a implementação das ações de recuperação de áreas degradadas nas propriedades rurais aderentes ao FIP Paisagens Rurais.

“O projeto TerraClass Cerrado oferece subsídios e informações ao Governo Federal e também a toda sociedade civil para o enfrentamento de questões ligadas ao planejamento da produção agropecuária no Cerrado, a proteção do meio ambiente, sustentabilidade e gestão dos recursos naturais, contribuindo com o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro”, diz Claudio Almeida, pesquisador do Inpe.

Com a atuação do Inpe e da Embrapa Informática Agropecuária, o TerraClass apoiará ainda a execução de mais dois mapeamentos, correspondentes aos anos base de 2020 e 2022, com o apoio da Embrapa Cerrados, Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Senar.

Plataforma digital

Outro aspecto estratégico é o aperfeiçoamento e modernização da plataforma digital GeoPortal TerraClass, desenvolvida pela Embrapa Informática Agropecuária, em conjunto com a Embrapa Amazônia Oriental, para a organização, distribuição, análise e disseminação dos dados de uso e cobertura da terra identificados em áreas desmatadas da Amazônia Legal e que agora passa a englobar o bioma Cerrado.

“A plataforma tecnológica ajuda nas análises da dinâmica geoespacial da região e se constitui em uma ferramenta importante de apoio à gestão das políticas ambientais, contribuindo para a elaboração de políticas públicas de desenvolvimento socioeconômico”, destaca a chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá.

Além de disponibilizar toda a base de dados original, por meio de interface intuitiva e extremamente amigável, o portal dá acesso ao WebGIS TerraClass, sistema de geoinformações que oferece aos usuários um ambiente de fácil interação para a visualização dos mapas, e execução de diversas análises sobre a dinâmica territorial.

Com a rápida evolução na área de tecnologia da informação, disponibilizando novos ambientes, ferramentas e funcionalidades para desenvolvimento de sistemas de gestão territorial, torna-se necessária a atualização dos componentes de software dessa plataforma. Neste sentido, será criada outra arquitetura de software para acesso aos mapeamentos produzidos e ainda será desenvolvida uma interface web inovadora para facilitar a organização e a visualização das informações.

Fonte: Embrapa/Nadir Rodrigues

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