Projeto de irrigação terá equipamentos movidos a energia solar

Para ampliar a produção de algodão de forma sustentável, fazenda do Oeste da Bahia investe na aquisição de 12 pivôs e para suprir a falta de energia elétrica na região, agricultor substituirá geradores por painéis fotovoltaicos

A pequena cidade de Formosa do Rio Preto, localizada no Oeste da Bahia, de pouco mais de 25 mil habitantes, é gigante quando o assunto é o agronegócio. Além da forte vocação para os grãos, o município se destaca no cultivo de algodão. Por sua qualidade é considerada a melhor pluma do Brasil e uma das melhores do mundo. É neste solo precioso que está localizada a fazenda de 26 mil hectares, pertencente ao Grupo Leal.

O grupo alagoano, que além do cultivo de algodão também tem negócios no ramo de soja, madeira, no cultivo de eucalipto, grãos e cana-de-açúcar, é gerido por João Toledo de Albuquerque. Desde o ano passado, o grupo tem se estruturado em um projeto bem audacioso e corajoso com objetivo de implantar nas lavouras nada menos que 12 pivôs para irrigação na propriedade, uma região que não tem rede de energia elétrica.

Para resolver essa escassez energética das concessionárias, a solução virá do céu, ou melhor, do sol. “Estamos realizando uma grande transformação com a irrigação em um sistema integrado. Além de resolver o déficit energético, ao mesmo tempo produziremos uma energia limpa com sustentabilidade por meio de painéis solares”, diz o produtor.

Inicialmente, a fazenda começou com o cultivo da pluma de forma experimental em 2017, com o plantio de 400 hectares. Já no ano seguinte a área mais que quadruplicou atingindo 1.700/ha. Já na atual safra 2022/23 foram plantados 3.200/ha “Nosso projeto é chegar a 5 mil hectares e aproveitar ainda mais a potência da nossa fábrica”, acrescenta o gestor.

A fazenda conta com uma algodoeira própria com capacidade para suprir a produção de até 15 mil hectares da cultura. “Observei que as fábricas próximas tinham um problema crônico: a capacidade de produção era baixa e quando expandiram as lavouras, o negócio ficava travado, pois ficaria muito caro construir uma segunda fábrica ou reformar a primeira. Por isso, projetamos a nossa pensando no crescimento futuro”, cita o empresário.

Tecnologia da irrigação

Para possibilitar esse grande salto na produção, aumentando a produtividade na mesma área, mas de forma sustentável utilizando da melhor maneira os recursos naturais disponíveis, o Grupo recorreu à tecnologia da irrigação, um projeto inédito não somente na fazenda, mas também na região de Formosa do Rio Preto. “Temos um abundante rio que corta a fazenda. Com a irrigação, projetamos ter duas safras ao invés de uma. Primeiro plantamos a soja no começo de outubro e colhemos em janeiro. Na sequência, semeamos o algodão para colher em julho”, calcula o produtor.

Além de ter a garantia da soja e do algodão produzidos, Albuquerque terá a certeza que não faltará água nos momentos mais importantes para a sua lavoura. Outro ponto muito importante é a possibilidade de ampliar a produtividade. Atualmente a média brasileira é de 55 sacas por hectares, no Oeste da Bahia, há produtores colhendo acima de 60 sc/ha, e nas áreas irrigadas essa produtividade atinge até 80 sc/ha.

O mesmo raciocínio acontece com o algodão. Enquanto a média brasileira de produtividade é de 250 arrobas/ha, no Oeste da Bahia, esse índice chega 300@/ha. Com a irrigação este número salta para 400@/ha. “É uma diferença absurda, não há nem o que discutir. A irrigação vale muito e são esses resultados que estamos buscando”, ressalta o produtor.

Na primeira fase do projeto traçado por Albuquerque foram instalados seis pivôs de uma vez, que começaram a operar neste ano. Assim, a área irrigada atingiu 1.340/ha. Entretanto, outros seis equipamentos estão em fase final de instalação e nas próximas semanas estarão aptos para funcionar. Com isso, a área total irrigada somará 2.240/ha. O projeto final completo deverá chegar a 8 mil/ha. “O que tem que se fazer é ter coragem de irrigar, porque são investimentos altos, mas na realidade é uma vez só e o retorno é certo”, acrescenta ele.

Matriz energética própria

Para substituir aos poucos os geradores movidos a diesel, que além de pouco sustentáveis têm um alto custo, a fazenda buscou alternativas para tornar eficiente o funcionamento dos pivôs e da fábrica. Para ter uma matriz energética mais econômica, a alternativa escolhida foi a energia solar, ou seja, por meio de painéis fotovoltaicos, aproveitar o sol que é abundante na região, para produzir toda a energia que consomem.

Os painéis começam a ser instalados a partir de outubro e a previsão é que até dezembro tanto a fábrica quanto os pivôs sejam abastecidos por eles. O projeto está sendo implantado com a revenda Pivot, de Luiz Eduardo Magalhães/BA, através dos equipamentos e tecnologia Zimmatic, by Lindsay. De acordo com João Morais, gerente comercial da loja, o projeto do Grupo Leal vai ser algo extremamente inovador, e o maior nesse modelo do Brasil. “Vamos gerar cerca de 3 megawatts (MW) só para a irrigação. O maior gerador que existe hoje e temos conhecimento é de 1.2 MW, em Jaborandi/BA”, destaca.

Potencial do Oeste baiano

De acordo com gerente comercial da Pivot, de 2020 para 2021 a região do Oeste da Bahia teve um crescimento exponencial na área irrigada. São vários fatores atribuídos a esse número, entre eles: demanda aquecida, valorização dos preços de commodities e a localização privilegiada. “As culturas de milho, soja, feijão, o próprio algodão, impulsionaram o produtor a estar capitalizado e a investir e mecanizar a produção. Em vez de ficar comprando terra, ele vai produzir mais na área que ele já possui, verticalizando a sua produção”, cita.

A região também é privilegiada quando o assunto é água, são diversos mananciais, rios, além do Aquífero Urucuia. Responsável pela vazão dos principais afluentes da margem esquerda do rio São Francisco, entre eles o rio Grande, seu principal afluente na Bahia que está localizado em sua maior parte no Oeste do estado baiano. Com isso, tem uma disponibilidade hídrica subterrânea da região é enorme.

Já foram feitos estudos em 2020, onde observou-se que está sendo utilizado apenas 11% do potencial desse Aquífero. Ou seja, existe uma possibilidade enorme para a agricultura no Oeste baiano. “Contamos com uma topografia privilegiada, muita disponibilidade de água, condições ideais para a irrigação. O que ainda trava esse desenvolvimento é a questão de infraestrutura energética, mas casos e investimentos como da fazenda do Grupo Leal mostram que problemas assim estão com os dias contados”, finaliza o gerente comercial da Pivot.

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