Regiões nos extremos do Brasil estão no radar de cientistas do clima

Climatologista da Organização Meteorológica Mundial fala da recorrência de fenômenos extraordinários neste ano; análise global envolve observação de intensidade dos fenômenos El Niño e La Niña

O ano 2024 iniciou com a ação de dois padrões climáticos opostos ligados a episódios extremos do clima: os fenômenos El Niño e La Niña. Secas e chuvas que atingem o Brasil e várias áreas tropicais do planeta ilustram a alteração das condições normais de temperatura que preocupa a comunidade científica que vem acompanhando a situação rara.

As declarações foram feitas pelo climatologista Álvaro Silva, da Organização Meteorológica Mundial, OMM. Ele contou à “ONU News”, de Lisboa, que o atual panorama faz prever um novo período de calor excessivo.

“O El Niño este ano veio acrescentar algo mais ao panorama que já temos em termos de fenômenos extremos em virtude das alterações climáticas. Em anos do El Niño também temos, habitualmente, fenômenos extremos um pouco por todo o mundo com especial enfoque nas regiões tropicais e subtropicais. Este ano, continuamos a verificar isso, tal como historicamente já tínhamos verificado nos eventos fortes de El Niño que tivemos em 97-98 e em 2015-2016. Este ano, voltamos a ver alguns desses efeitos extremos e outros que foram também causados por outros fatores climáticos que se juntam a esta tendência de longo termo de aquecimento do planeta e de aumento da temperatura global, que também contribui bastante para o aumento da intensidade e frequência destes fenômenos extremos.”

Os cientistas observam a intensidade dos fenômenos e seu impacto na temperatura, não somente pelos danos humanos e materiais causados. Uma das constatações é que os choques climáticos estão agravando em nível global.

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“O El Niño este ano tem-se manifestado, por exemplo, na questão da seca na Amazônia, em um período prolongado, no excesso de precipitação que tivemos também no sul do Brasil, na bacia do Rio Paraná, de La Plata, e sobretudo na parte oriental da África, onde depois de vários anos de seca tivemos chuvas abundantes em países como o Quênia, a Tanzânia e a Somália, que veio contrapor essas condições de seca que se vinha, verificando devido ao fenômeno La Niña. É exatamente um pouco ao contrário do El Niño em termos de efeitos no nível de clima global, mas terminamos esse período de anomalia negativa de chuvas nesta região com chuvas abundantes e em muitos locais com inundações. Este fenômeno propicia que esses fenômenos de precipitação intensa que depois levam a que essas condições se intensifiquem.”

Sistemas de alerta precoce

Este janeiro, a OMM confirmou que a temperatura global média anual excedeu os níveis pré-industriais em 1,45°C. Os meses de julho e agosto tiveram altas excepcionais e novos recordes foram estabelecidos entre junho e dezembro. O cientista Álvaro Silva defende que as avaliações sugerem um possível aumento de frequência de eventos extremos e pediu atenção redobrada da população aos sistemas de alerta precoce.

“Em eventos passados, o que aconteceu é que o ano seguinte ao desenvolvimento do El Niño foi mais quente que o ano em que este fenômeno se se desenvolveu. E é isto também que esperamos que possa acontecer em 2024, com desenvolvimento do El Niño, em 2023 desde aproximadamente maio-junho começou a se desenvolver este fenômeno, com alteração da temperatura no Pacífico Equatorial, uma anomalia positiva nessa região, que também tem impacto na temperatura média global.”

A agência da ONU convocou os países para a aplicação de medidas rápidas de mitigação e ao compromisso na tomada de decisões políticas para o alcance das metas climáticas do Acordo de Paris.

 

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