RS: produtor aposta em ILPF

O produtor Ruben Kudiess trabalha com ILPF no noroeste do RS

Promover a geração de renda na propriedade durante o ano inteiro é objetivo da família Kudiess, em Chiapetta, no noroeste do RS, que aposta na Integração Lavoura-pecuária-floresta (ILPF) para otimizar a estrutura produtiva. A área também vai gerar resultados de pesquisas para orientar a adoção dos sistemas integrados.

Desde a fundação na década de 60, a propriedade da família Kudiess trabalha de forma integrada com lavoura de grãos e pecuária em Chiapetta, no Rio Grande do Sul. Nos anos 2000, os irmãos Manfred e Ruben Kudiess passaram a atuar no mercado de sementes, como primeiros multiplicadores do trigo de duplo propósito, com cultivares desenvolvidas pela Embrapa destinadas ao pastejo dos animais com posterior colheita de grãos. O uso da tecnologia exigiu a profissionalização para trabalhar com sistemas integrados, com a atualização constante dos conhecimentos diante da necessidade de validar o produto para os clientes da Sementes Cometa.

Após quase 20 anos trabalhando com integração lavoura-pecuária (ILP), o produtor Ruben Kudiess decidiu apostar também no componente florestal e, em 2019, destinou 54 hectares para integrar lavoura de grãos com engorda de bovinos e produção de madeira. O sistema ILPF corresponde a 5% da propriedade e conta com 18 renques de árvores, cada renque com três fileiras de eucaliptos, totalizando 600 árvores por hectare.

No primeiro ano, a integração iniciou no verão, com milho para grãos e engorda dos animais com pastagem perene de Aruana (espécie de Panicum maximum). No inverno, o produtor investiu em pastagem de trigo duplo propósito e trevo vesiculoso em sobressemeadura no Aruana. “A ideia é utilizar a área com ILPF principalmente no verão, trazendo os animais para a pastagem com conforto térmico das árvores e liberando as outras áreas para a lavoura de soja. No inverno, vamos aproveitar a integração para produzir pasto, ajudando também a reduzir o vazio forrageiro nos meses de primavera e outono. É um planejamento que movimenta toda a propriedade”, conta Ruben.

No total dos 54 hectares com ILPF, 14% da área foi destinada às árvores, cobrindo cerca de 8 ha. A aposta do produtor no eucalipto se deve ao maior conhecimento sobre o manejo da espécie e ao crescimento rápido da árvore. A partir do quinto ano, deverá começar o raleio com a extração de lenha, que deverá suprir parte do secador de grãos, com excedente para comercialização.

O potencial de produção de lenha foi estimado em 80 m³/ha/ano, mas como a lenha representa menor valor agregado, grande parte das árvores serão manejadas visando qualidade na produção da madeira. “O principal desafio no componente florestal é o manejo, de forma a equilibrar a penetração da luz para o desenvolvimento das pastagens”, conta Kudiess, lembrando que o trabalho de raleio deve se intensificar entre o quarto e o quinto ano.

Entre as vantagens do sistema ILPF, Ruben Kudiess faz questão de destacar o bem estar-animal: “O gado gosta de SPA: Sombra, Pasto e Água. Em função do conforto térmico, estimo o aumento no ganho de peso dos animais entre 15 a 20%, melhorando também a conversão alimentar”.

O microclima criado pelas árvores favorece tanto o solo quanto os animais, protegendo das geadas no inverno e do sol no verão. “Com as árvores atuando como quebra-vento e sombra, a umidade do solo também deve melhorar, o que pode representar um aumento de até 60% no crescimento das pastagens, especialmente em anos de estiagem”, estima o produtor. Segundo ele, o benefício também pode ser observado no inverno, quando as árvores podem reduzir o impacto das geadas, garantindo a oferta de pastagens por mais tempo.

Interação no aprendizado

O trabalho do produtor é acompanhado por uma equipe da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS). A base de conhecimentos é a Rede ILPF, que reúne profissionais das mais diversas especialidades com o objetivo de acelerar a adoção das tecnologias de integração lavoura-pecuária-floresta por produtores rurais visando a intensificação sustentável da agricultura brasileira.

“Cada propriedade tem particularidades de solo, clima, perfil de produção que exigem a adaptação dos conhecimentos sobre sistemas integrados. A participação ativa e até a ousadia do produtor são decisivos nesse processo de adoção do ILPF, já que não existe receita pronta, é experimentar e ajustar o que temos disponível para cada região de forma a atender as necessidades do produtor”, explica o pesquisador Renato Fontaneli.

Para Ilvandro Barreto de Melo, engenheiro agrônomo da Emater/RS, as dificuldades do produtor em trabalhar com sistemas integrados também representam oportunidades de aumentar a renda: “Tiramos as árvores para a entrada das lavouras no RS na década de 1950, mas não abandonamos o gado. Agora precisamos recolocar as árvores, tanto por demanda legal quanto pela consciência dos benefícios do componente florestal para o sistema. Mas trabalhar de forma integrada aumenta os desafios no manejo. Não basta entender só de lavoura, ou só de árvores ou só de pastagens. É preciso ver a propriedade no todo, um sistema produtivo mais complexo, mas também com maior possibilidade de ganhos e maior estabilidade financeira, já que não depende de apenas um fator de produção”.

Impactos no solo

Uma das atividades de acompanhamento da pesquisa na área com ILPF na propriedade da família Kudiess busca avaliar possíveis alterações na qualidade do solo ao longo dos anos. Definido como marco zero na implantação do sistema ILPF, em julho de 2020, foi realizada a amostragem em 12 trincheiras abertas no solo para coletas estratificadas de 5 em 5 cm até 40 cm de profundidade. As análises apontaram um solo já com boa qualidade, presumidamente em função da integração da lavoura com pecuária que já era realizada nesta área.

“Observamos nas amostras bons índices para nutrientes importantes como potássio, cálcio, magnésio e fósforo”, conta o analista de transferência de tecnologias Marcelo Klein. As coletas deverão ser realizadas novamente no período de cinco anos para avaliar os atributos de fertilidade que sofreram alterações na área: “Acreditamos que os ácidos orgânicos gerados pelo esterco e pela urina dos animais serão capazes de neutralizar o alumínio tóxico do solo, aumentando a saturação de bases e dispensando correções com calagem. Vamos tentar confirmar esta hipótese com este experimento de ILPF nas condições de clima e solo do noroeste do Rio Grande do Sul”.

Fonte: Embrapa Trigo

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