Por Marcos Matos e Lilian Vendrametto*
A questão de Boas Práticas Agrícolas, incluindo nesse tema a Tecnologia de aplicação de agrotóxicos vem tomando cada vez mais espaço nas discussões sobre sustentabilidade na agricultura.
Após a decisão de ser realizado o controle químicos de pragas, doenças e plantas daninhas ou espontâneas, é necessário tomar atenção para uma série de etapas relacionadas a segurança e eficácia, para garantir o uso correto e seguro dessa ferramenta de suporte aos agricultores.
Primeiramente é necessário analisar com precisão o cultivo agrícola e responder a alguns questionamentos iniciais para determinar o tratamento fitossanitário e garantir bons resultados agronômicos: Qual é o alvo biológico (praga, doença ou planta daninha/espontânea) que precisa ser controlado/manejado? Qual o tratamento mais recomendado para esse controle? De que forma a aplicação deve ser realizada para conferir resultados eficazes?
Uma aplicação realizada de forma equivocada ou quando não são respeitadas as instruções de rotulagem bem como as Boas Práticas agrícolas podem além de gerar prejuízo e desperdício, aumentar consideravelmente os riscos de contaminação das pessoas, do ambiente e dos organismos não alvo.
As perdas podem ocorrer por deriva descontrolada, lixiviação ou escorrimento, podendo atingir áreas não alvo como áreas urbanas ou de proteção ambientais como também transeuntes ou animais domésticos. Para melhorar este desempenho, são essenciais a utilização e a capacitação da mão-de-obra treinada no curso da Norma Regulamentadora 31 para o uso eficaz dos equipamentos de aplicação, sempre seguindo e recomendações de rótulo e bula dos produtos bem como as orientações do engenheiro agrônomo responsável.
A Tecnologia de Aplicação de Produtos Fitossanitários pode ser considerada como o emprego de todos os conhecimentos científicos que proporcionem a correta colocação de determinando produto químico biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica, com o mínimo de contaminação de outras áreas.
A pulverização consiste no processo físico-mecânico de transformação de uma substância líquida em partículas ou gotas. Já a aplicação é a deposição de gotas sobre um alvo desejado, com tamanho e densidade adequados ao objetivo proposto. Qualquer alteração no tamanho e densidade das gotas pode comprometer em demasiado a qualidade da aplicação.
Quando se pensa em pulverização, deve-se ter em mente que fatores como o alvo a ser atingido, as características do produto utilizado, a máquina, o momento da aplicação e as condições climáticas e ambientais não estarão agindo de forma isolada. A interação destes fatores é responsável direta pela eficácia ou ineficácia do controle. Quando qualquer uma destas interações for desconsiderada, ou equacionada de forma errônea, poderá ser a responsável pelo insucesso da operação. Portanto a verificação de características locais nos momentos que antecipam a aplicação como: velocidade do vento, temperatura, umidade relativa do ar e previsão meteorológica são primordiais para determinar o suces so ou fracasso da aplicação.
Vale destacar alguns passos importantes a serem realizados/verificados:
a) Manter a calda agitada: Principalmente para formulações pó-molhável (PM) ou suspensão concentrada (SC), por risco de se depositarem no fundo do pulverizador em condições de agitação ineficiente. Formulações concentrado emulsionável (CE), por tenderem a migrar para a superfície, ocasionando uma má distribuição mesmo quando a dose por área está adequada.
b) Importância de usar os filtros corretos: Formulações pó-molhável (PM) ou suspensão concentrada (SC), por possuírem partículas sólidas em suspensão na calda, uma vez que o diâmetro das partículas de pó poderá ser superior ao da abertura de peneiras muito finas.
c) Regulagem e calibração dos equipamentos: ajuste dos componentes da máquina às características da cultura e produtos a serem utilizados. Cuidados em relação a: tipos de pontas, espaçamento entre bicos, altura da barra, ajuste da velocidade, etc, verificando a vazão das pontas, determinando o volume de aplicação e a quantidade de produto a ser colocada no tanque. Essa etapa é fundamental para garantir a qualidade da aplicação e evitar perdas significativas de tempo e de produto.
O volume de pulverização a ser utilizado depende de fatores tais como: o alvo desejado, o tipo de ponta utilizado, as condições climáticas, a arquitetura da planta e o tipo de produto a ser aplicado. Também é necessário cuidado na escolha das gotas adequadas às condições climáticas locais, principalmente a umidade relativa do ar. Gotas de pulverização que se elevam ou se deslocam para fora da área de aplicação deverão ser evitadas. Aplicações de herbicidas poderão causar danos irreversíveis se atingirem além das plantas daninhas.
Qualquer quantidade do produto químico que não atinja o alvo não terá qualquer eficácia e estará representando uma forma de perda, dessa forma, observa-se que a eficácia da aplicação está diretamente ligada ao volume chegando no alvo e não ao volume pulverizado, de forma direta (quando se coloca o produto em contato com o alvo no momento da aplicação) ou indireta (quando se atinge o alvo posteriormente, pelo processo de redistribuição, que poderá se dar através da translocação sistêmica, translaminar ou pelo deslocamento superficial do depósito inicial do produto).
Em relação aos pulverizadores, devem ser verificados todos os itens recomendados pelo fabricante a respeito de calibração e regulagens, limpeza e higienização, segurança, presença de vazamentos e condições climáticas.
A deriva, por definição, é o deslocamento da calda de produtos fitossanitários para fora do alvo desejado. Este fenômeno, pode se dar pela ação do vento, escorrimentos ou mesmo volatilização do diluente e do produto. Ele é uma dos principais causas da contaminação do aplicador, do ambiente e de insucessos nas aplicações.
Quando da aplicação de um produto fitossanitário em área total de uma cultura (visando a sua parte foliar), muitas gotas podem passar pela folhagem e atingir o solo, principalmente nas entrelinhas. Outras gotas que atingem as folhas podem se aglutinar de tal maneira que não são mais retidas e escorrem para o solo. Essas perdas internas, isto é, dentro da área cultivada, estão muito ligadas às aplicações de altos volumes e com gotas grandes que geralmente ultrapassam a capacidade máxima de retenção de líquidos pelas superfícies foliares. O deslocamento de gotas para fora da área da cultura, causado pela ação do vento e da evaporação da água usada na preparação da calda, principalmente nas gotas de tamanhos menores, é denominado de “Exoderiva”. Esse tipo de perda externa, é um dos principais responsáve is pelos prejuízos causados a outras culturas sensíveis e pela contaminação ambiental.
As principais causas da deriva são o tamanho das gotas: O tamanho das gotas produzidas pelas pontas de pulverização depende do tipo da ponta, da vazão, pressão, do ângulo do jato e das propriedades do líquido pulverizado. Quanto menores forem estas gotas, mais sujeitas à deriva serão. Atenção especial deve ser dada as condições climáticas principalmente correntes de ar e inversões térmicas.
Em se tratando de meio ambiente, devem ser tomadas ações para proteger os corpos de água e áreas de preservação permanente e reserva legal, para evitar sua contaminação e preservar flora e fauna locais, e em relação a segurança do aplicador, é imprescindível o uso de equipamento de proteção individual adequado e higienizado a cada aplicação de agrotóxico. O período de carência, que é o intervalo entre a última aplicação de agrotóxicos e a colheita precisa ser atendido para que a planta consiga metabolizar os compostos químicos absorvidos e não deixar resíduos acima dos limites que possam ser considerados danosos ao ser humano.
Para finalizar é importante destacar que as questões relacionadas a segurança do alimento (principalmente no que diz respeito aos atendimentos aos Limites Máximos de Resíduos de cada um dos agrotóxicos utilizados) é condição essencial para garantir qualidade do alimento produzido, além de evitar restrições comerciais. Para os alimentos exportados, deve-se verificar as regulações individuais de cada um dos países que se pretende exportar e tomar atenção para seus limites máximos de resíduos específicos.
Portanto, o respeito as instruções e orientações contidas em rótulos e bulas dos agrotóxicos é extremamente necessário, pois tem papel importante na conscientização dos agricultores buscando evitar quaisquer restrições comerciais entre os países.
* Marcos Matos é diretor-geral do CECAFÉ; Lilian Vendrametto é gestora de Sustentabilidade.