Explosão em silo da cooperativa C.Vale, em Palotina (PR), acende alerta para a segurança contra os riscos em silos de armazenamento de grãos
Clarisse Sousa – Oito pessoas morreram, 11 ficaram feridas e uma ainda está desaparecida após a explosão em silo de armazenamento de milho no município paranaense de Palotina, localizado no oeste do estado, segundo informações da “Agência Brasil”. O Corpo de Bombeiros local informou que a explosão ocorreu na quarta-feira (26), por volta das 17 horas. A tragédia acende um alerta para os riscos em silos e para a necessidade de aumentar a atenção à segurança nesses equipamentos de armazenamento.
Cerca de 20 bombeiros das unidades de Palotina, Toledo e Cascavel participaram das ações de resgate. Em entrevista à imprensa, o capitão do Corpo de Bombeiros Guilherme Rodrigues afirmou que a “explosão, provavelmente, ocorreu por pó”.
“É um ambiente confinado, extremamente perigoso. Existem partículas de pó em suspensão no ar. Estas partículas são combustíveis. Então, qualquer fagulha pode gerar uma explosão”, disse o capitão. “Esta primeira explosão, próxima ao armazém de número 3, gerou a explosão nos outros armazéns próximos. Então temos quatro armazéns com estruturas colapsadas”, completou.
O major Zajac disse à Agência Brasil que a explosão ocorreu no interior do túnel de um dos silos da cooperativa agroindustrial C.Vale. Na sequência, se estendeu aos outros três túneis interligados. Ele lembra que o período atual é de colheita da safra de milho, e que esses armazéns recebem o produto e o estoca até a secagem, para então ser processado.
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As causas da explosão ainda estão sendo investigadas, mas o major apontou algumas das hipóteses sobre quais substâncias presentes no local poderiam ter servido de combustível para a explosão.
“A compactação da massa de milho pode produzir gás por conta da fermentação. É também possível que a explosão tenha sido causada pela poeira do milho, que também pode gerar uma atmosfera explosiva”, disse. “Esses riscos tornam imprescindível a limpeza rotineira desses túneis”, acrescentou.
A C.Vale, empresa responsável pelo silo, divulgou uma nota sobre o ocorrido: “No momento, a prioridade está centrada na mobilização de todos os esforços e recursos necessários à preservação da integridade dos colaboradores atingidos pelo incidente e apoio aos familiares das possíveis vítimas atingidas”, diz nota, ao informar que todas equipes de segurança da cooperativa estão ativas, colaborando com autoridades.
Segurança em silos
Trata-se de um espaço confinado, pois é um ambiente não projetado para ocupação humana contínua e possui meios limitados de entrada e saída. Além disso, a ventilação existente é insuficiente para remover contaminantes. Essas características, no entanto, são ideais para manter a qualidade dos grãos.
Nos últimos anos, a necessidade de se utilizar essas estruturas aumentou e, segundo estimativas do setor agrícola, ainda não há armazéns suficientes para estocar a produção. Isso porque, ano a ano, o País vem registrando recordes na produção de grãos.
Segundo um levantamento recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa da produção para a safra de grãos é de 317,6 milhões de toneladas em 2022/2023. Um crescimento de 16,5% ou 44,9 milhões de toneladas em relação à safra anterior.
Principais riscos em silos
Embora uma das principais causas de morte em silos seja o soterramento por grãos, outros perigos cercam os trabalhadores que atuam nesses armazéns.
Segundo Paula Scardino, coordenadora nacional da NBR 14.787 e da 16.577 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e Membro do GT Tripartite Patronal e da nova NR-33 – Segurança e saúde nos trabalhos em espaços confinados, entre os principais riscos em silos estão ainda explosão por pós, poeiras ou fibras combustíveis, explosão de gás, como o metano, intoxicação por gases tóxicos, como pelo gás sulfídrico ou sulfeto de hidrogênio (H₂S) , deficiência de oxigênio – causada normalmente pelos gases da família asfixiante simples, como dióxido de carbono (CO2) e metano (CH₄) –, além de inundação, engolfamento, incêndio, choques elétricos, eletricidade estática, queimaduras, quedas, escorregamento, impacto, esmagamento, amputações e outros.
Poeiras combustíveis
A especialista ressalta que “o comportamento de atmosferas perigosas de gases é totalmente diferente do comportamento das poeiras combustíveis”. No caso de poeiras combustíveis, os perigos encontram-se com a junção dos seguintes elementos:
- poeira combustível em suspensão (normalmente presente nas esteiras, nos elevadores ou no processo em geral);
- a concentração da poeira combustível deve estar na faixa ideal, entre o limite inferior de explosividade e o limite superior de explosividade;
- ar – oxigênio presente na atmosfera;
- espaço confinado; e
- fonte de ignição de potência adequada.
Ela afirma que “o controle de fontes de ignição potenciais devem ser conhecidas por todos os profissionais que operam silos ou graneleiros”, diz. Paula também elenca as principais fontes de ignição:
- Origem eletrônica: equipamentos eletrônicos em geral, como rádios, celulares e lanternas;
- Origem elétrica: fios, tomadas, botoeiras, luminárias, arco elétrico, solda, centelhas nas escovas do rotor, descarga atmosférica, raios etc.;
- Origem mecânica: esteiras, elevadores de caneca, moinhos e elevadores;
- Origem eletrostática: fricção, atrito, transferência de gases, líquidos, querosenes de aviação, óleo diesel, óleo lubrificante, gasolina, solventes; e
- Superfícies aquecidas: linhas de energia, resistência de aquecedores e lâmpadas.
Devido à velocidade do processo e ao volume de massa de grãos em movimento, os trabalhadores que atuam em silos, em relação aos demais da cadeia de produção agrícola, estão mais expostos à poeira dos grãos. “Existem estudos que comprovam que a exposição prolongada à poeira também aumenta a prevalência de sintomas respiratórios e de perda acentuada da função pulmonar.”
A especialista destaca ainda o item 3.18, da NBR 16.577 – Espaço Confinado, sobre o engolfamento. “Essa é uma condição em que um material particulado sólido envolve uma pessoa e, durante o processo respiratório, a inalação pode causar inconsciência ou morte por asfixia”, explica. Por isso, Paula completa, é preciso levar em consideração o item 7 da norma:
“Considerar que operações nas superfícies de grãos são extremamente perigosas e que a entrada e movimentação de trabalhadores sobre massa de grãos ou materiais que ofereçam riscos de engolfamento, soterramento, afogamento e sufocamento são proibidas, salvo quando garantidas, por meio de análise de riscos e adoção de medidas de caráter coletivo e/ou individual comprovadamente efetivas. Deve ser mantida a sinalização específica na entrada do local de armazenamento, constando os seus riscos e a proibição de acesso”, diz o trecho.
EPIs para uso em silos
Além do risco de ser sugado e soterrado pelos grãos, há ainda o risco de intoxicação provocada pelos gases provenientes do material armazenado. Por isso é essencial o uso de Equipamentos de Proteção Respiratória (EPR), que devem ser selecionados e utilizados corretamente.
Entre os riscos, destaque também para as quedas de altura. Para evitá-las, é imprescindível que os trabalhadores utilizem cinto de segurança dotado de dispositivo trava-quedas, devidamente ligado a um cabo-guia. Contra o engolfamento, especialmente em espaços com materiais sólidos, como grãos, o trabalho deve ser realizado com talabarte, cinto de segurança e cabo-guia esticado. Dessa forma, caso seja coberto pelo material, o trabalhador poderá ser içado.
ESPAÇOS CONFINADOS, COMO OS SILOS, PODEM CONTER:
• Atmosfera perigosa ou potencialmente perigosa: falta de oxigênio – podendo provocar asfixia, danos cerebrais e até morte; substâncias tóxicas – intoxicação, sequelas e morte; e substâncias inflamáveis – incêndio ou explosão, queimaduras e morte.
• Material que possa engolfar um trabalhador: a parte superior dos silos contendo grãos é uma área que apresenta sério risco de engolfamento, asfixia e morte.
• Paredes que convergem para dentro ou pisos que se inclinam para baixo ou áreas menores que apresentam afunilamento e que podem aprisionar ou asfixiar um trabalhador. Por exemplo, a parte inferior dos silos, como moegas ou tremonhas.
• Outros perigos e riscos como o mecânico, elétrico, hidráulico, vapor e líquidos. Como energias perigosas, máquinas sem proteção na transmissão de movimentos ou fios elétricos expostos, podendo causar ferimentos, eletrocussão e morte.
A NR-33 – Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados também estabelece a presença de um vigia. Ele é o responsável pela entrada e saída de trabalhadores no espaço confinado. O vigia deve permanecer do lado de fora, sempre mantendo contato com os trabalhadores autorizados a entrar no espaço confinado. Ou seja, cabe a ele monitorá-los e protegê-los, assim como acionar uma equipe de salvamento, caso necessário.
Os silos, assim como todos os espaços confinados, são áreas fechadas e enclausuradas. Nesses ambientes, vale lembrar, a movimentação é dificultada, podendo ocorrer o aprisionamento do trabalhador devido a complexidade da geometria, como planos inclinados, paredes convergentes e pisos lisos.
Justamente por se caracterizarem como peças mecânicas fechadas, explosões catastróficas podem ocorrer em operações com solda elétrica ou pela mistura de gases, eletricidade estática, curto circuito em instalações elétricas e chapas aquecidas, entre outros, conforme descrito anteriormente.
As perdas e danos provocados por esses acidentes, como a explosão do silo da cooperativa C.Vale, em Palotina (PR), podem ser catastróficos: perdas de vida, da saúde e integridade física e psicológica dos trabalhadores, além de danos irreparáveis ao patrimônio.
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