Estudo mostra que agricultura digital vai crescer após a pandemia, para reduzir dependência de mão de obra.
O isolamento social em tempos de pandemia despertou no setor agropecuário a necessidade de adotar tecnologias que reduzam a dependência de mão de obra em algumas atividades e que aproximem produtor e consumidor. A constatação é da consultoria global de gestão e estratégia Boston Consulting Group, que ouviu produtores de alguns países e revelou que os brasileiros estão tão interessados em agricultura digital quanto seu principal concorrente, os Estados Unidos. Assim, 45% dos agricultores brasileiros entrevistados disseram que planejam investir mais em automação depois que a pandemia passar, ante 50% nos EUA e Canadá e 27% na Alemanha. “Os brasileiros estão dispostos a empreender mesmo com o prolongamento da crise econômica da covid19 porque não contam com subsídios elevados como os seus pares e buscam sempre ampliar as margens apertadas de rentabilidade”, diz Fleuri Arruda, diretor do BCG. » Aprendizado. As incertezas com a pandemia fizeram o setor “despertar” para a agricultura digital, dizem os produtores. Segundo Arruda, além de diminuir a dependência de mão de obra, ferramentas digitais podem ajudar a entender mudanças em padrões de consumo. “A pandemia trouxe à tona esses problemas.” Para ele, tecnologias ligadas à gestão e que não exigem conectividade em tempo real devem ser as mais procuradas.
» Em escala. O estudo da Boston mostra, ainda, que 36% dos entrevistados brasileiros investem regularmente em digitalização. A maior parte está no Centro-Oeste e no oeste da Bahia. Produtores de pequeno e médio portes tendem a ganhar representatividade nesse processo, acredita Arruda, embora em menor intensidade. Entre as culturas, soja, algodão e cana-deaçúcar devem receber o maior volume de investimento em automação.
» Online. A JBS vai conectar nas granjas sensores a softwares para ampliar e automatizar o monitoramento da produção de aves e suínos. O projeto “Granja 4.0” será aplicado no primeiro ano em cem granjas da região de Seara (SC). Em três anos, a meta é ter habilitadas 70% das 10 mil unidades que atendem à JBS, conta José Antônio Ribas Jr., diretor de Agropecuária. Fora dispositivos tradicionais, de medição de consumo de água e temperatura, estão sendo desenvolvidos outros, como câmeras 3D para monitorar o comportamento dos animais. A partir daí, algoritmos de inteligência artificial recomendarão mais ações para produtividade e conforto animal.
» Big Brother. Nessa iniciativa, a JBS conta com a F&S Consulting, que desenvolve sensores, tecnologias de inteligência artificial e softwares, e com a TIM, que garantirá a conectividade das granjas com o exterior. Em cerca de 40% das propriedades do piloto, a Tim terá de instalar novas torres com 4G. “Meu sonho é ter granjas com câmeras 24 horas por dia ligadas, para que as pessoas vejam que nosso processo é limpo, transparente e de respeito ao animal”, diz Ribas.
» O olho do dono… A Bloxs Investimentos lançou na semana passada sua primeira oferta pública de investimento coletivo e online para interessados em aplicar na pecuária de corte. O sistema funciona por meio de “crowdfunding”, arrecadação coletiva para financiar, neste caso, a compra e o confinamento de bovinos. Os recursos vão bancar o alojamento em fazendas de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, diz Felipe Souto, CEO da Bloxs, corretora regulada na Comissão de Valores Mobiliários e que atua nos termos da ICVM 588, que normatiza essa ferramenta.
» …engorda o boi. A ideia de financiar coletivamente o confinamento de bois partiu de Carlos Pimenta, pecuarista e sócio-fundador da Edafo Pec, parceira da Bloxs na iniciativa. “Percebi que o mercado não tinha nenhum produto que permitisse que investidores da cidade participassem da rentabilidade da pecuária”, conta. Até quinta-feira, o Boi Pec Invest I (nome da carteira) havia captado R$ 475 mil, de 49 investidores, ou 45,24% do necessário para fechar os lotes. O investimento mínimo é de R$ 5 mil e a rentabilidade varia de 0,7% a 1,3% ao mês, a depender do valor da arroba e do aplicado, com prazo de resgate de um ano.
» Procura. A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira recebeu pedidos de ajuda de Egito, Marrocos, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Bahrein e Kuwait para localizar fornecedores de alimentos no Brasil, principalmente carne bovina, frango, arroz, milho e frutas. Segundo Tamer Mansour, secretário-geral da Câmara Árabe, os governos desses países estão atuando diretamente como compradores, seja por meio de seus ministérios, seja por importadores recém-credenciados pelo Estado, para reforçar estoques de alimentos na pandemia de coronavírus.
» Tem pressa. Os pedidos foram tantos que a Câmara promoveu na quinta-feira reunião com representantes de 23 entidades setoriais e da Câmara de Comércio Exterior (Camex). A entidade vai enviar uma lista das demandas e fazer a intermediação entre exportadores e importadores. “Existe espaço para produtos brasileiros de valor agregado que antes eram fornecidos pela Europa”, disse Tamer Mansour.