Tratores grandes: pesados e potentes, para grandes áreas agrícolas

Tratores de grande porte são indicados para atividades desenvolvidas em áreas agrícolas extensas, como o cultivo de soja e milho, as quais exigem maiores potências

Tratores grandes: pesados e potentes, para grandes áreas agrícolaspor Leonardo Gottems – O mercado de tratores no Brasil contava, no último ano-safra, com 281 modelos, de diversas faixas de potência, produzidos por 17 marcas, segundo o consultor e técnico agrícola Vitor Hugo Baratieri. “Há algumas formas de classificar os tratores e uma delas é quanto à potência, que pode ser medida por diferentes protocolos e parâmetros, apresentados por normas e regulamentos, como ISO, SAE, DIN, entre outras”, aponta.

Uma das classificações adotadas no mercado considera os tratores muito pequenos (potência de até 50cv), os pequenos (50,1cv até 79,9cv), os médios (80cv até 109,9cv), além daqueles que são o alvo desta reportagem: os grandes (potência em torno de 110cv a 159,9cv), os muito grandes (até 199,9cv) e os extragrandes (mais de 200cv).

Segundo o consultor Arno Dallmeyer, até 2005 não havia tratores grandes (ou pesados) no mercado brasileiro e, então, quase simultaneamente a John Deere e a Massey Ferguson apresentaram tratores de 200-220cv. Isso ocorreu porque multinacionais começaram a trazer tratores grandes de outros países para o Brasil. “Todas as empresas (exceto Agrale) que atuam de forma significativa no mercado brasileiro são multinacionais, com sedes em países com mecanização tecnificada. Dos países de origem vieram os tratores de grande porte, como são vendidos nos Estados Unidos, Alemanha, Finlândia, França ou Itália. Nestes países existe uma competição grande por tecnologia, com operadores familiares e bom nível de treinamento. Assim houve um grande salto tecnológico nos tratores, trazendo motores emissionados, transmissões servo-assistidas (power shift), direção automática, GPS, conexão Isobus, e, em muitos casos, preparo para autonomia”, explica Dallmeyer.

O pesquisador Roberto da Cunha Mello, do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico, diz que evolução tecnológica das grandes máquinas está sendo algo sem precedentes. São muitas as inovações, que variam desde a parte estética, passando por mecânica, combustível e até automação e telemetria. “Muitas das inovações são na parte mecânica, como injeção eletrônica de combustível, embreagem caixa de marchas controle eletrônico de tração. Na parte operacional, temos piloto automático, máquinas inteligentes utilizadas em agricultura de precisão e as máquinas autônomas já são uma realidade”, diz.

Características dos grandes

A classificação por categorias de potência não é um consenso absoluto. Segundo Dallmeyer, ao se aprofundar mais nas características, seriam considerados de grande porte os tratores com potência acima de 200cv. “Por projeto, esses tratores são destinados a serviços pesados, como preparo de solo e semeadura (plantio). Poucas vezes são usados para transporte ou cultivo. A demanda de aplicações em ‘janelas’ cada vez mais estreitas de preparo de solo ou semeadura exige velocidades maiores de trabalho. Há pouco tempo, as velocidades de semeadura padrão eram de 8 km/h, exageradamente a 12 km/h, atualmente estão estendidas para até 16 km/h. Essa situação exige maiores potências”, indica. “Essas máquinas são ideais para grandes áreas, principalmente no na região Central do País, onde se cultiva soja, milho e cana-de-açúcar. Trata-se de máquinas mais caras, mais pesadas e com maior consumo de combustível”, completa Mello.

Neste contexto, o especialista em máquinas afirma que o principal fator que diferencia esses tratores dos menores, com relação à tecnologia, são as soluções digitais, basicamente.

“São equipados com transmissões geridas por computador de bordo, acionadas por demanda. Além de sistemas de posicionamento por satélite, cabines confortáveis, com absorção de ruido, de calor e ar-condicionado digital. Conectividade com implementos e transmissão de dados via telefonia ou satélites às sedes da fazenda e de concessionários”, segundo Dallmeyer, o que seriam alguns diferenciais desses equipamentos.

“O conforto e a segurança na operação também são aspectos importantes de incremento de tecnologias, em que principalmente o baixo nível de ruído e a excelente vedação das cabines, no que diz respeito à contaminação por elementos externos (poeira, resíduos de agroquímicos, outros), são aspectos fundamentais para a eficiência e segurança do operador do equipamento”, reforça Baratieri.

A introdução de componentes eletrônicos no sistema hidráulico, proporcionando maior controle de vazão e pressão do sistema, também tem sua influência na eficiência e no conforto, ocasionando maior controle e qualidade nas operações no campo. “Devemos lembrar que a ótima eficiência operacional desses equipamentos de grande porte está também relacionada ao uso de tecnologias como piloto automático, corte de seção, geração de mapas diversos (produtividade, compactação de solo e fertilidade), telemetria, proteção de motor, entre outras funcionalidades que o sistema eletrônico pode proporcionar”, complementa.

As tecnologias embarcadas são as relacionadas à Agricultura de Precisão, com o auxílio do GPS na construção de mapas de produtividade. A telemetria também é muito utilizada, pois permite aos usuários um acompanhamento em tempo real do desempenho e da produtividade da máquina no campo, segundo Mello.

Situação do mercado brasileiro

Se considerados os tratores acima de 100cv, 110cv como de porte grande, “verifica-se que, em 2020, a venda desses equipamentos representou quase 50% do mercado nacional, conforme dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)”, aponta Vitor Hugo Baratieri.

A demanda por alimentos no mundo tem crescido aceleradamente e o Brasil, pela qualidade de solo, clima favorável e pelo empreendedorismo do homem do campo, tem contribuído fortemente para atender a essas demandas. Somente 1% do número de propriedades rurais no País possuem áreas acima de 1000 hectares, mas somente essas representam 45% da área ocupada para produção.

“Então, temos aí uma forte demanda para a utilização de tratores de grande porte, buscando a eficiência operacional e a maior rentabilidade das lavouras. A adequação das janelas de plantio, em especial nas lavouras do Centro-Oeste, por exemplo, contribui na busca de melhores e maiores equipamentos para atender a essas necessidades”, explica Baratieri.

O preço de produtos como soja, milho, laranja e café, entre outros, que tiveram maior rentabilidade ao produtor rural, incentivaram o agricultor a investir no aumento da área plantada e, consequentemente, em novos equipamentos, contribuindo para o atendimento da demanda por alimentos e com a comercialização de equipamentos.

O aumento na demanda por equipamentos de grande porte têm, inclusive, incentivado os fabricantes de máquinas agrícolas a introduzir novas tecnologias para melhorar a eficiência operacional nesses tratores.

“As normas para redução de gases poluentes, por exemplo, têm levado os fabricantes de motores a melhorar os ganhos de potência em seus equipamentos e a atender essa necessidade de redução de emissão de gases poluentes. Exemplo mais gritante dessa preocupação é a introdução da injeção eletrônica em motores diesel para o uso agrícola”, diz o especialista.

Outro exemplo notório da adequação dos tratores a essa nova realidade é a mudança na caixa de câmbio dos veículos. Baratieri considera esse um componente que evoluiu muito nos últimos anos e tem uma importância muito grande na melhora do desempenho das máquinas e também na economia de combustível.

“Também podemos observar que, no que diz respeito às caixas de câmbio, o grande avanço na tecnologia desse componente nos tratores agrícolas é a leitura que motor e caixa de câmbio fazem entre si para atender da forma mais adequada o aproveitamento da tração com o consumo adequado, menor índice de patinagem, velocidade adequada e, consequentemente, ótima eficiência operacional”, cita.

O que reserva o futuro

Segundo Dallmeyer, a mundo vem evoluindo no quesito conectividade e isso poderá impactar diretamente no desenvolvimento de máquinas agrícolas de grande porte, que dependem cada vez mais de internet e podem ser potencializadas com a chegada da tecnologia do 5G. Além disso, a maior preocupação ambiental também deve guiar esse movimento, com diminuição no uso de combustíveis fósseis.

“A efetiva conectividade (implantação de comunicação por internet 5G), autonomia de direcionamento e determinação de velocidades, inteligência artificial. A médio prazo, haverá mudanças na propulsão, na busca por energias limpas, levando ao uso da energia elétrica; talvez via eletrificação com baterias, já conhecido e dominado tecnologicamente; talvez a conversão de etanol em eletricidade”, explica.

Essas são questões que Mello considera como prioridade e tendência. Isso porque o produtor rural está tendo a capacidade de produzir a sua própria energia elétrica, com a instalação de painéis solares, por exemplo. Com isso, tratores movidos a eletricidade podem começar a ser desenvolvidos e o uso do óleo diesel cada vez fica mais superado.

“A principal inovação no curto e médio prazos são as máquinas elétricas recarregadas por energia solar. Como já disse, no Brasil temos sol em abundância, e de graça. O produtor rural agora também vai produzir sua própria energia não necessitando mais transportar nem armazenar óleo diesel. Nós, do Centro de Engenharia Agrícola, estamos trabalhando no desenvolvimento de uma colhedora de cana-de-açúcar movida a energia solar. Essa máquina irá colher a cana com emissão zero de carbono. A evolução não para e quem não se atualizar não terá mais chance de competir neste mercado cada vez mais exigente”, diz.

Para Vitor Hugo Baratieri, se considerarmos a necessidade do aumento da produção e da produtividade agrícola, é preciso também se elevar os índices de mecanização agrícola, que no Brasil está na média de um trator para cada 112 hectares.

Segundo ele, nossa frota “está envelhecida”, e aproximadamente 25% dos tratores no campo têm mais de 10 anos. A mecanização, portanto, tende a ser um agente indutor de novas tecnologias nos sistemas de produção agrícola.

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