Uma abordagem sobre a aplicação das teorias que norteiam a gestão operacional e administrativa na produção de grãos
Por Rodrigo Yudi Palhaci Marubayashi1, José Leonardo Bruno2 e Ricardo Ralisch3
Prezados leitores!
Finalizamos mais um ano e é comum realizarmos nesta ocasião uma retrospectiva.
É isso que nos propomos a trazer para esta edição, uma avaliação dos recentes acontecimentos na área da mecanização e quais são as perspectivas mais concretas.
Deve ser claro para todos que a Mecanização Agrícola é uma das tecnologias mais empregadas na agropecuária e uma das mais antigas. Desde o uso das ferramentas mais rudimentares no início da civilização humana, podemos considerar como adoção da mecanização no apoio à produção agropecuária. Fica evidente, então, quanto a mecanização tem evoluído.
Mesmo atualmente, quando se dá mais ênfase ao surgimento de novas tecnologias, como a engenharia genética e a digitalização do agro, observa-se que a mecanização acompanha esses avanços, mesmo que de forma pouco perceptível.
Melhores condições de obter produção
Isso acontece porque a Mecanização Agrícola é uma tecnologia de apoio à produção. Ou seja, não se trata de uma tecnologia que visa a produção propriamente dita, mas que propicia aos agricultores melhores condições de obter essa produção, empregando, inclusive, as demais tecnologias. Neste aspecto, a mecanização não deve ser uma barreira ou uma limitação na adoção dessas outras tecnologias e sim uma alternativa para seu uso adequado.
O surgimento de novas tecnologias de produção agropecuária com eficiência comprovada, como as de ordem genética, de fertilização ou de controle sanitário das culturas, para citar algumas, impõe à mecanização alguma adequação para que tais tecnologias possam ser aplicadas de forma adequada.
Isso exige uma constante atualização dos agricultores quanto a estes avanços e o que está disponível a custos razoáveis. Não se pode imaginar que a cada evolução tecnológica, haja a troca do parque de máquinas dos agricultores. Deve-se, então, verificar quais recursos cada equipamento dispõe para se adaptar a essas novas propostas.
Uma forma conveniente dos agricultores se manterem atualizados e com acesso a informações de qualidade é justamente consultando sistematicamente revistas técnicas de qualidade, como esta que vocês estão lendo. Manter um acervo dessas revistas permite, inclusive, consultar edições anteriores que tragam artigos que possam interessar. Esse acesso às boas informações técnicas deve ser propiciado a todas as pessoas envolvidas num processo de produção de uma fazenda, podendo ser criados fóruns de debates internos para tratar dos assuntos mais sensíveis e importantes, o que facilita a tomada de boas decisões pelos responsáveis.
Para ter uma boa equipe
Esse processo de acesso às informações deve fazer parte de uma estratégia de capacitação contínua da equipe da fazenda.
A capacitação da equipe também envolve os treinamentos, a adoção de métodos de programação das atividades, controles de execução das tarefas e indicadores de qualidade e de resultados.
O envolvimento de toda equipe no processo de produção de uma fazenda aumenta o comprometimento das pessoas e pode ser empregado, inclusive, para ampliar a participação no gerenciamento das atividades e do processo produtivo. Analogamente, é importante que as pessoas envolvidas também sejam valorizadas e, para tal, podem ser empregados as participações remuneratórias nos resultados das atividades. Mas há outras formas de reconhecimento que podem ser adotadas paralelamente, que dependem do tamanho da equipe e da originalidade dos gestores.
A eletrônica embarcada é a evolução tecnológica associada à mecanização mais recente e em evidência. Isso vem permitindo dotar os equipamentos de sensores que permitem os sistemas eletrônicos associados a verificar em tempo real a qualidade e a eficiência da operação sendo realizada. Os processos eletrônicos têm mais acurácia que a sensibilidade humana, portanto, os equipamentos estão “lendo” o que está sendo realizado melhor que os operadores.
O gerenciamento de dados obtidos a partir desses sensores, associados ao georreferenciamento em máquinas agrícolas, é outro ponto que merece destaque. A análise desses dados, realizada por meio de profissionais especializados, ou através do desenvolvimento de sistemas de IA (Inteligência Artificial), possibilita conhecer melhor as características da propriedade, como: os tipos e variações de solo, os fatores meteorológicos, o relevo e a topografia. Com esse conjunto de informações em mãos, o produtor reforça notavelmente a qualidade e a pertinência de suas decisões, reduzindo os custos, maximizando seus ganhos e sendo mais eficiente.
Como tudo na eletrônica, as novidades surgem com valores muito caros e pouco acessíveis. Porém, paulatinamente vão reduzindo de preço. É exatamente isso que vem acontecendo na mecanização. Os sistemas de monitoramento eletrônico iniciaram nos equipamentos maiores e mais caros, mas hoje há uma clara tendência de democratização desse acesso, vindo a equipar máquinas médias e pequenas. Isso é muito significativo para essa característica fundiária, pois é para esses segmentos da produção agrícola que a eletrônica embarcada nas máquinas traz os melhores resultados no aumento da rentabilidade. Isto é tão importante e evidente que nós consideramos que deveria ser alvo de uma política pública.
Tecnologias recentes de monitoramento das condições ambientais ampliaram e facilitaram a compreensão dos efeitos da mecanização em diversos parâmetros ambientais, como solo, água, atmosfera e biodiversidade. A maior compreensão permitiu propor e adotar medidas de redução desses impactos negativos da mecanização.
Há, inclusive, uma evolução de alguns conceitos importantes, como a compactação e a descompactação do solo, por exemplo, associados a essa evolução tecnológica. A redução dos impactos negativos citados da mecanização e o aumento de seus impactos positivos, como a racionalização do uso de insumos e o aumento da rentabilidade, são os grandes avanços tecnológicos recentes no setor.
Desses avanços tecnológicos que induziram a evolução de alguns conceitos e a criação de novos, a preservação ambiental é a grande oportunidade da nossa agricultura. O ambiente é o principal ativo da atividade e uma agricultura bem-feita, que preserva o ambiente, será a atividade econômica mais valorizada mundialmente, em breve.
Agricultura conservacionista é o que nós, brasileiros, sabemos fazer e é isso que nós ensinamos o mundo a fazer. O Brasil é o único país do mundo que vem desenvolvendo o conceito de Mecanização Conservacionista, criando parâmetros adequados para tal.
Portanto, o momento pelo qual passamos é muito oportuno. A perspectiva de que os temas ambientais retornem às discussões de forma adequada é o assunto mais importante para a agropecuária e para a Mecanização Agrícola brasileiras. Fiquem atentos. Tenham todos boas safras e um excelente 2023!
1Professor de Mecanização Agrícola no Depto de Agronomia – UEL – marubayashi.yudi@gmail.com
2Diretor da Fazenda-Escola da Universidade Estadual de Londrina – leonardobruno@uel.br
3Professor aposentado e conselheiro da FEBRAPDP – ricardoralisch@gmail.com