Manutenção no período certo permite melhor aproveitamento do equipamento e mais tempo em atividade
Por Gustavo Paes – O maquinário agrícola é fundamental no processo produtivo. Mas para reduzir a intensidade do desgaste provocado pelo uso diário na lavoura, o produtor precisa adotar práticas de manutenções rotineiras que, quando realizadas no período certo e de forma correta, permitem um melhor aproveitamento do equipamento e maximizam sua vida útil. Esses cuidados evitam danos prematuros e possibilitam operações com qualidade e menor custo operacional.
A manutenção periódica também é importante para evitar quebras inesperadas e desgastes prematuros, além de garantir eficiência, produtividade e assegurar o valor do equipamento na hora da colheita. “Sem os cuidados diários com o maquinário, os danos e as panes dos equipamentos se tornam frequentes e acarretam perdas econômicas significativas para o produtor”, destaca o instrutor de operação e manutenção de máquinas e implementos agrícolas e rodoviários Joel Sebastião Alves, de Cachoeira do Sul (RS). Os tipos mais comuns de manutenção, ensina o consultor, são a preventiva, corretiva e preditiva.
Manutenção preventiva
A preventiva procura prevenir a ocorrência da falha. A intervenção programada é realizada para reduzir ou evitar a queda de desempenho do maquinário. Tarefas programáveis como inspeções, reformas, lubrificação e trocas de alguns componentes e fluídos são classificadas como atividades preventivas. Os serviços a serem executados são preestabelecidos por horas de funcionamento, semanas e quilômetros rodados etc. Com base nos manuais do fabricante, histórico de manutenção do equipamento ou ensaios de desgastes.
“A preventiva é muito importante e deve ser feita conforme a orientação do fabricante, o que é determinado por horas de funcionamento da máquina”, frisa Alves.
Manutenção corretiva
A corretiva é a manutenção executada quando o equipamento deixa de funcionar ou entra em pane parcial ou acusa defeito. Ela apresenta um alto custo, pois normalmente envolve troca de peça e componentes que, se a manutenção preventiva tivesse sido executada, não haveria necessidade de substituição.
“Além de acrescentar o custo do equipamento parado no momento em que necessita de sua utilização, o que aumenta significativamente os custos, pois a máquina fica indisponível justamente no momento que mais se precisa”, ressalta.
Manutenção preditiva
Já a manutenção preditiva fundamenta-se no acompanhamento de parâmetros do sistema e a intervenção é programada quando esses parâmetros indicam a aproximação da falha. Seu objetivo é predizer as condições dos equipamentos com eles produzindo, o que privilegia a disponibilidade do maquinário para a operação. E, assim, aproveitar a vida útil total dos componentes e da máquina.
O especialista destaca a importância da qualificação do operador para uma maior vida útil do maquinário agrícola. “Não adianta nada fazer a manutenção preventiva, com a necessária troca dos filtros e fluidos e líquido de arrefecimento no período recomendado, se o operador ‘esmerilha’, se ele dá um ‘pau’ na máquina”, alerta. “Com as janelas de plantio e colheita cada vez menores, é até comum alguns gerentes orientar os empregados a correr para recuperar um serviço atrasado, mas isso ‘detona’ os equipamentos”, orienta. Alves também alerta que o maquinário não pode ficar muito tempo parados. E o ideal, após uma revisão minuciosa, é colocá-los para funcionar. “Uma colheitadeira, por exemplo, tem de ser ligada a cada 30 dias”, aconselha.
Configuração do equipamento
Thiago Cibim, gerente de Suporte ao Cliente da John Deere para América Latina, diz que o primeiro ponto que precisa ser levado em consideração para aumentar a vida útil das peças e dos componentes de máquinas agrícolas é a configuração do equipamento, ou seja, ele deve estar dimensionado adequadamente para a operação desejada. “Com isso, os limites de potência e capacidade não serão extrapolados, assegurando a manutenção da vida útil esperada”, declara.
Outro ponto importante também apontado por ele é seguir à risca as orientações do manual do operador onde as manutenções preventivas estão descritas. “A combinação desses dois pontos trará a tranquilidade que o proprietário/usuário espera do seu equipamento”, observa.
Cibim avalia que as peças que demandam mais atenção do produtor são os grandes componentes, como motor, transmissão, eixos e sistemas hidráulicos. Segundo ele, esses componentes são responsáveis pela transmissão da força dos conjuntos para as rodas e sistemas de operação. “A devida atenção e cuidado nesses sistemas garante a execução do trabalho com qualidade e aumenta a disponibilidade operacional, ou seja, o equipamento estará pronto para ser utilizado no momento certo”, assinala.
O gerente lembra que, geralmente, desgastes acentuados ou prematuros estão ligados ao uso incorreto do equipamento, o que pode exceder a sua capacidade, ou ainda pelo uso de matérias não aprovadas pelo fabricante como lubrificantes, graxas e outros componentes que não passaram pelos testes de validação. “Por isso, o uso do manual do usuário, a devida configuração do equipamento e as manutenções periódicas conforme as recomendações do fabricante são muito bem-vindas”, afirma.
Tipos de manutenção
◗ Reativa: intervenção necessária para evitar graves consequências;
◗ Corretiva: manutenção para corrigir falhas funcionais, conhecidas por panes ou quebras repentinas;
◗ Preventiva: ação realizada antes que as máquinas estejam com falha, diminuindo o risco de parada;
◗ Preditiva: período exato em que deverá ser realizada uma intervenção, com base nos dados de vida útil do componente (disponíveis nos manuais dos fabricantes);
◗ Detectiva: busca evitar falhas que estão ocultas, aquelas que a operação e manutenção não conseguem detectar, sendo possível com a instrumentação, o controle e a automação dos sistemas embarcados;
◗ Proativa: tem uma nova filosofia, deixando a manutenção corretiva não planejada de lado, ao contrário da manutenção corretiva planejada, preventiva e preditiva, buscando inferir diretamente nas caudas da falha-raiz.
Atenção ao motor
Thiago Cibim aponta que a manutenção preventiva e periódica é fundamental para a vida do motor, um componente de extrema importância da máquina, pois é nele que se inicia todo o processo de funcionamento. O motor passa a ser a peça-chave na disponibilidade do equipamento para trabalho. Cibim recomenda práticas saudáveis como respeitar o limite de carga do motor (não operar acima da sua capacidade). Outra dica é respeitar os intervalos de troca de lubrificantes e fluídos, usar os fluídos com a especificação correta (isso garante o bom funcionamento das partes móveis).
O coordenador de Serviços da Fendt, Yasser Alabi Oiole, avalia que, para ter uma maior durabilidade do maquinário são necessários cuidados especiais porque as máquinas começam a deteriorar e com uso recorrente o desgaste é inevitável. “As práticas de manutenções rotineiras são indispensáveis”, sublinha.
Há três fatores que devem ser observados constantemente com o intuito de reduzir as interrupções: desgaste, calor e impurezas. Para tal, tem o uso de lubrificantes, substituição dos elementos de filtragem, limpezas de rotina, entre outras ações que são chave para prolongar a vida útil das máquinas agrícolas. Os componentes que necessitam de uma atenção especial dentro das manutenções são os sistemas de filtros (primário e secundário), alimentação de combustível, lubrificação do motor, sistemas de arrefecimento, embreagem, diferencial, redutores, sistema hidráulico, entre outros.
Alguns componentes se desgastam mais e outros um pouco menos. Nesta situação é necessário observar com mais cuidado os itens móveis, sendo eles com ou sem lubrificação, pois se movimentam por mais vezes e ocasionam o desgaste, como exemplo, é possível considerar as bombas hidráulicas, alimentadoras, injetoras, rodados, entre outros, que são especificados no manual do fabricante com o intuito de orientar os períodos ideais para substituição com base em um histórico recorrente.
O motor, responsável por transformar a energia dos combustíveis em energia mecânica, sendo direcionada aos rodados e fazendo com que a máquina se movimente, exige cuidados especiais. É necessário verificar constantemente seu estado de funcionamento com o intuito de aumentar sua vida útil, e para facilitar podemos dividir em quatro sistemas: alimentação de ar (filtragem), combustível (bombas, bicos injetores e tubulações), lubrificação (cárter, bomba de óleo, filtro e respiro), por último o arrefecimento (radiador, mangueiras, correias, ventilador, válvula termostáticas).
E não se deve usar ar comprimido para retirar as partículas e diminuir a saturação do filtro de ar. Isso, segundo Oiole, tem uma influência bastante negativa na vida útil do motor. O recomendado é fazer a substituição do componente. Ao retirá-lo, o filtro perde seu acondicionamento, a borracha de vedação afrouxa, elemento filtrante sofre uma expansão devido à pressão e, quando monta novamente, perde a vedação e fica uma pequena abertura, praticamente imperceptível, que permite a passagem de pó aumentando a quantidade de sílica no motor e consequentemente perdendo força até fundir.
A recomendação é utilizar peças novas e genuínas sempre, pois possuem maior qualidade, durabilidade e originalidade. São desenvolvidas no tamanho exato, com materiais próprios para a máquina agrícola e auxiliam no tempo de vida do produto, além de oferecerem garantia e segurança, por serem rigorosamente testados. “Já as peças não originais poderão encurtar o tempo da máquina e dar maiores prejuízos para o produtor rural, ou seja, onerando a operação e duplicando os custos”, alerta.
Combustíveis de qualidade
O produtor precisa ainda monitorar e utilizar combustíveis de qualidade e procedência (os sistemas de injeção modernos requerem combustíveis limpos e em condições adequadas para um bom funcionamento) e realizar análises de fluídos em laboratório idôneo (para acompanhar os desgastes naturais e possíveis contaminações), além de utilizar da tecnologia disponível (sensores e códigos de falha) para um monitoramento adequado.
O gerente da John Deere entende que o ambiente em que as máquinas trabalham, com muito pó, barro, palha e folhagens soltas não contribui para a redução da vida útil do maquinário. Justamente porque “os equipamentos foram desenvolvidos para operar nestes ambientes”, diz. Porém, a manutenção adequada e a limpeza dos sistemas de forma periódica e bem orientada fazem a diferença. “O que quero dizer aqui é que não é onde o equipamento trabalha, mas como ele trabalha. Consulte sempre o manual do operador e seu concessionário para a correta orientação”, explica.
Como os equipamentos por muitas vezes funcionam de forma sazonal, ou seja, somente em períodos de plantios e/ou períodos de colheita, Cibim alerta que máquinas expostas a longos períodos sem utilização podem trazer alguns inconvenientes que podem ser eliminados com algumas boas práticas de armazenagem. “O produtor precisa fazer um armazenamento correto, permitir o funcionamento periódico do equipamento por curto tempo, limpar e lavar antes de armazenar, lubrificar as partes móveis antes de armazenar, entre outras medidas”, recomenda.
Revisões diárias
Para aumentar a vida útil das máquinas agrícolas, o produtor deve manter as revisões em dia, capacitar o operador e também diariamente checar se o pré-filtro de diesel possui água e eliminá-la, conforme Astor Kilpp, gerente de Marketing de Vendas da LS Tractor. Ele precisa verificar se os filtros de ar não estão saturados (excesso de poeira) e os níveis de todos os fluídos lubrificantes (motor, transmissão, eixo dianteiro).
Os principais conjuntos que o produtor deve ter atenção são a transmissão, sistema hidráulico, motor e eixo dianteiro, pois são conjuntos essenciais para o funcionamento da máquina agrícola. A quebra de um desses conjuntos acarretará na parada do equipamento. “Nesses conjuntos a atenção deve ser diária verificando os níveis dos lubrificantes, obtendo uma maior disponibilidade de trabalho”, recomenda.
O mal dimensionamento dos implementos utilizados é um forte vilão quanto a um maior desgaste nos componentes internos da máquina, por isso é muito importante que o produtor entenda a correta relação de CVs necessárias de sua máquina em relação ao implemento que ele de fato necessita. Uma vez que essa relação de Implemento x CVs da máquina não estejam alinhadas (um implemento exige mais CVs do que o trator) poderá ocorrer o desgaste prematuro da máquina agrícola.
Outro ponto importante a se destacar é a falta de lubrificação, provocada por excesso de horas trabalhadas, em que o produtor acaba não respeitando o tempo de intervalo de horas. Com isso, o lubrificante perde suas propriedades, aditivos e acaba não conseguindo manter a correta lubrificação, ocasionando a quebra de componentes internos.
Desgaste dos itens móveis
Para determinar o melhor período de manutenção é necessário consultar as recomendações e intervalos informados no manual do operador oferecidos pela fábrica, pois precisam ser seguidas rigorosamente pelo produtor rural e/ou operador, porque é possível aumentar a vida útil da máquina, além de evitar quebras prematuras de componentes ou parada indevida durante a operação, sabendo que o trabalho é realizado em ambientes adversos com excesso de pó, barro, palha, galhos, soqueiras, entre outros que interferem diretamente na vida útil.
O produtor deve se preocupar com o armazenamento do maquinário, já que a agricultura possui seus períodos sazonais, ou seja, tem preparo de solo, plantio e colheita, sendo atividades realizadas por alguns dias ou meses e o restante ficam paradas. A recomendação é, após o término lavar minuciosamente, lubrificar e acondicionar em locais cobertos, que não sofra influência de intempéries, assim é possível evitar oxidações de componentes, ressecamento das borrachas, ataque de roedores nos circuitos elétricos entre outras avarias.