Cultivo ocupa 2,26 milhões de hectares, envolve 300 mil cafeicultores e representa parcela significativa do PIB brasileiro
por Gustavo Paes – O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café. Também somos o segundo maior consumidor de café do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
A produção brasileira de café em 2023/24 deve atingir 54,94 milhões de sacas de 60 quilos, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produtividade média estimada é de 27,4 sacas por hectare, apenas 3,7% superior à safra de 2021, que foi um ano de baixa produção da planta, e 22,2% inferior à safra de 2020, um ano de alta produção. A colheita total deve ser 5,6% maior do que a de 2021, mas 20,13% menor do que o recorde de 2020, quando alcançou 63 milhões de sacas.
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Na safra anterior, o Brasil exportou cerca de 2,2 milhões de toneladas, o equivalente a 39,4 milhões de sacas de café, com embarques para 145 países, segundo a Conab. Os principais compradores foram os Estados Unidos e a Alemanha, com 20,2% e 18,2%, respectivamente, seguidos pela Itália (9%), Bélgica (7,9%) e pelo Japão (4,8%).
O faturamento das lavouras de café no Brasil alcançou R$ 55 bilhões em 2022, um valor 25% maior do que o total gerado em 2021, que foi de R$ 44 bilhões. O País espera aumentar sua participação nas próximas safras, com a possibilidade de abertura de novos mercados para produtos diferenciados, além de aumentar a participação em países que já importam nosso café. Na Ásia, a China desponta com um bom potencial de crescimento no consumo da bebida.
O cultivo de café representa uma parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Além disso, é uma indústria que emprega milhões, desde produtores até trabalhadores nas indústrias de torrefação e exportação. No ranking dos produtos brasileiros com maior faturamento, o café ocupa a sexta posição, perdendo para a soja, em primeiro lugar com R$ 338 bilhões, seguida do milho (R$ 148 bilhões) e dos bovinos (R$ 152 bilhões).
Regiões produtoras
No País, o grão ocupa 2,26 milhões de hectares, sendo 1,9 milhão de hectares destinados às lavouras em produção e 355 mil hectares em formação, o que indica um aumento de apenas 0,8% em relação à área da safra anterior. A cadeia produtiva do café envolve mais de 300 mil cafeicultores espalhados pelos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Goiás, Amazonas, Mato Grosso e Pará.
As duas principais espécies de plantas produzidas nas cinco regiões geográficas do Brasil são a arábica e a conilon. A arábica, de menor porte, produz grãos maiores, um café mais fino e de maior qualidade. Para o seu cultivo, é necessário que a lavoura esteja a uma altitude de 800 metros. Sua produção se concentra nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Bahia. Já no caso do conilon ou café robusta, por ter menos acidez e mais cafeína, também é utilizado como um tipo de pó voltado para produtos solúveis. Ele é cultivado especialmente no Espírito Santo, na Bahia e em Rondônia.
Mecanização da lavoura do café
Na lavoura cafeeira, o plantio e a colheita, que envolvem operações como a aração, derriça, varrição, recolhimento e abanação, são as que registram o maior índice de mecanização, chegando a 70%. No entanto, em regiões onde existem declives muito acentuados, como a Zona da Mata, em Minas Gerais, a adoção de máquinas não passa de 30%.
No País, estima-se que 40% da produção cafeeira ocorra em regiões montanhosas. “Essa característica representa um grande desafio para a mecanização das operações nas lavouras, exigindo do agricultor maior cuidado na aquisição de máquinas e a adoção de técnicas adequadas”, afirma o gerente de negócios da linha de colhedoras de café da Jacto, Paulo Guirao.
A colheita mecanizada do café teve início no Brasil em 1979, com o lançamento da colhedora de café K3, da Jacto. O modelo foi desenvolvido com tecnologias e pesquisas brasileiras e possibilitou que o Brasil se tornasse o maior produtor e exportador de café do mundo.
A cultura do café envolve uma atividade de elevado custo, sendo que a colheita corresponde entre 30% e 40% dos gastos totais de produção e exige um grande contingente de mão de obra. Estima-se que a máquina, em determinadas condições de trabalho, chegue a fazer em um dia o equivalente a 150 a 200 pessoas colhendo manualmente.
Pacote tecnológico
Nestes 43 anos, a Jacto buscou promover melhorias em sua colhedora de café. Por isso, atualmente, ela possui o equipamento mais especificado do mercado. “Essa máquina conta com um pacote tecnológico que permite colheita em grandes velocidades, com o máximo índice de retirada de café da planta, sem prejudicá-la, e o mínimo de perda”, detalha Guirao.
Na última edição da Agrishow, a empresa de Pompeia (SP) lançou duas novas colhedoras, uma delas automotriz e outra tracionada. A primeira possui um reservatório de café de 2000 litros, potência de 84 cv, altura livre de colheita de 3,1 metros e capacidade de correção de inclinação lateral de até 30%. Já o modelo tracionado vem com reservatório de café de 1800 litros. Também possui altura livre de colheita de 3,1 metros e capacidade de correção de inclinação lateral de até 30%.
“Ambas têm capacidade para colher em diferentes tipos de terrenos. São máquinas mais leves, com largura máxima de 3,2 metros, com grande capacidade de manobra em espaços reduzidos e que podem trabalhar em terrenos inclinados em até 30%”, destaca o gerente da Jacto.
As máquinas são equipadas com um novo recolhedor, que possui altura mínima do solo de 210 mm e conta com lâminas em novo formato e aplicadas em maior quantidade. As lâminas são fixadas com apenas três parafusos, podendo ser desmontadas individualmente para manutenção. “O novo recolhedor permite ao cafeicultor colher de forma mais eficiente as lavouras novas, onde os primeiros ramos produtivos estão mais próximos do solo. Também vai reduzir a perda de café para o chão, uma vez que as lâminas estão mais sobrepostas e ficam mais tempo fechadas durante a passagem do tronco de café”, analisa o executivo.
A empresa conta com quatro modelos de pulverizadores para cultivos adensados, como o café. Na feira de Ribeirão Preto (SP), a Jacto apresentou um pulverizador cujo formato da torre faz com que os bicos fiquem mais próximos da copa da cultura, aperfeiçoando a qualidade de aplicação, com uma melhor distribuição de gotas em toda a planta.
“A torre estreita é uma funcionalidade que permite trafegar mesmo em ruas estreitas, evitando choques entre a torre da máquina e a cultura”, destaca o gerente de pulverizadores tratorizados da Jacto, Paulo Bueno. A distância entre os bicos e a planta se mantém constante, o que favorece a aplicação de uma mesma dose em todos os estratos da cultura, desde a saia até o ramo mais alto da árvore.
Tratores estreitos
Geralmente, os tratores usados na lavoura cafeeira são estreitos e de baixa potência, variando de 18 a 60 cv. Esse maquinário é utilizado no transporte e em operações de cultivo com grade, roçadeira, enxada rotativa e pulverizadores. Porém, no cultivo de café da montanha, a potência conta muito. “Máquinas que trabalham em terrenos irregulares ou declinados precisam de motores mais potentes”, diz Guirao. O torque também é importante e é medido no Brasil por quilograma-força por metro (kgf.m). Essa métrica informa quantos quilos um trator consegue carregar a cada metro. Assim, não adianta ter um motor com boa potência, mas com um torque inadequado, pois tornaria mais lentas as operações.
O especialista em Marketing de Produto da New Holland, Juliano Perelli, explica que os modelos de tratores que atendem a lavoura cafeeira têm especificações e dimensões compatíveis com as operações para o grão. Ele frisa que os pés de café são plantados muito próximos, o que demanda equipamentos que consigam adentrar as ruas, realizar as operações de cultivo e não danificar a planta nem o fruto.
O executivo afirma que só após mudanças no manejo do café mecanizado é que os fabricantes de implementos e máquinas agrícolas criaram opções que atendessem às necessidades da produção do café, no quesito colheita. Hoje, boa parte das colheitas é realizada por máquinas, sem desperdício ou dano ao fruto.
“Porém, ainda existem algumas limitações, principalmente em relação a inclinações de terrenos, que ainda precisam ser realizadas de forma manual”, admite Perelli.
O especialista destaca que a tecnologia nos tratores ajuda o agricultor a diminuir o custo de operação. Os modelos possuem tecnologias que evitam perdas durante as operações, mesmo sendo máquinas que, na maioria das vezes, não têm eletrônica embarcada. Algumas opções, inclusive, já podem ser instaladas pelo próprio cliente, como piloto automático, controle de pulverização e a telemetria.
O coordenador de Marketing Produto Tratores da Massey Ferguson, Eder Pinheiro, observa que o trator cafeeiro tem um raio de giro menor, o que diminui o tempo de manobra, facilita o trabalho e ainda reduz o consumo de combustível, com economia de até 12% durante a operação.
Recentemente, a marca lançou duas séries de tratores para entrar no espaçamento das plantações de café: a primeira, projetada para proporcionar uma produção agrícola mais simples e potente, e a outra, com o menor raio de giro do segmento, quatro opções de transmissão, além de estar disponível nas versões cabinada e plataformada.
“Uma característica que buscamos nos tratores compactos é manter a robustez. Nossos modelos mantêm as características de um trator agrícola convencional na relação peso/potência para que a máquina alcance a máxima eficiência operacional”, destaca.
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