Das máquinas autônomas à redução de emissões, as inovações que podem transformar o campo
por Leonardo Gottems – A evolução das máquinas e implementos agrícolas acompanha as tendências e avanços da própria atividade primária. Com a intensificação da agricultura, surgiram avanços rápidos nos equipamentos, como o desenvolvimento de ferramentas especializadas para arar, semear, adubar e proteger as culturas. Saltos significativos de produtividade surgiram após a Segunda Guerra Mundial, quando a necessidade de produzir mais alimentos levou ao desenvolvimento de sistemas sofisticados para uso na agricultura. Diversos tratores, semeadoras, plantadoras e colhedoras foram criados para enfrentar a luta contra a fome.
Agora, outra tendência começa a se firmar, uma vez que a adoção da agricultura sustentável é essencial para garantir a segurança alimentar e a preservação do meio ambiente a longo prazo. Com o aumento da população e a crescente demanda por alimentos, práticas agrícolas não sustentáveis podem resultar em danos ao solo, à biodiversidade e à qualidade do ar e da água.
A agricultura sustentável visa equilibrar a produção de alimentos com a proteção dos recursos naturais, utilizando técnicas ambientalmente amigáveis. É de suma importância adotar práticas agrícolas responsáveis para assegurar um planeta saudável e garantir a disponibilidade de alimentos para as futuras gerações.
Nesse contexto, pesquisadores brasileiros analisaram tecnologias sustentáveis para o setor agrícola, visando reduzir as emissões de gases de efeito estufa provenientes de máquinas movidas a combustíveis fósseis. O estudo busca abordar a questão da sustentabilidade ambiental na produção agrícola em grande escala, considerando as diretrizes de diferentes países em relação às emissões de gases poluentes. O estudo foi realizado por pesquisadores das universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Santa Maria (UFSM) e da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI).
Para atingir as concentrações desejadas de poluentes conforme as normas, é fundamental empregar sistemas de controle de emissões pós-tratamento. Essas estratégias tecnológicas são desenvolvidas pelos fabricantes de máquinas agrícolas para tratar os poluentes gerados pela queima de combustíveis fósseis nos motores a diesel. No Brasil, o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), criado em 1986 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), é responsável por estabelecer as regulamentações, prazos e padrões legais de emissões admissíveis para as diferentes categorias de veículos automotores, nacionais e importados.
De acordo com Franco da Silveira, Pesquisador do Núcleo de Ergonomia e Capacitação em Segurança e Saúde Ocupacional (NECSSO/UFRGSS), para atender aos padrões de emissões determinados pelas regulamentações existentes em diferentes países, estão sendo desenvolvidos novos motores ciclo Diesel equipados com sistemas inovadores de controle de emissões.
“Esta condição é relevante, pois estabelece novos paradigmas no processo de desenvolvimento de motores de máquinas agrícolas fabricados no Brasil para os próximos anos, visto que o mercado brasileiro engloba uma série de diferentes modelos de tratores agrícolas em suas operações agropecuárias, além dos distintos projetos de colhedoras e demais maquinários”, explica Silveira.
Tecnologias que auxiliam a sustentabilidade
De acordo com Kleber Jorge Gomes, gerente regional de Vendas e Marketing da TeeJet, existem várias tecnologias que atualmente são utilizadas para o futuro da agricultura e que impulsionam a sustentabilidade no setor. Ele cita, por exemplo, a Agricultura de Precisão (AP).
“A adoção crescente da AP é uma tendência fundamental. Com o uso de tecnologias avançadas, como o GPS, sensores e sistemas de mapeamento, os agricultores podem realizar aplicações mais eficientes de defensivos agrícolas, reduzindo desperdícios e minimizando o impacto ambiental”, comenta o gerente.
A combinação de sensoriamento remoto e inteligência artificial possibilita o monitoramento preciso das condições das culturas, solo e clima por meio de drones, satélites e análise de dados. Essas informações em tempo real permitem tomadas de decisão mais informadas, otimizando a aplicação de insumos e recursos hídricos na agricultura. “Tecnologias para redução de deriva, como pontas de pulverização de alta performance, estão em alta. Essas soluções minimizam a dispersão dos defensivos para áreas não-alvo, preservando a saúde do meio ambiente e dos ecossistemas próximos”, indica.
Além disso, o desenvolvimento de máquinas e robôs autônomos para a aplicação de defensivos agrícolas está avançando, o que traz eficiência e precisão ainda maiores nas operações, permitindo economia de recursos e maior sustentabilidade. “A busca por práticas agrícolas mais sustentáveis também impulsiona a adoção de tecnologias que permitem o uso mais responsável de defensivos agrícolas, garantindo a aplicação correta na quantidade certa, conforme a necessidade real das culturas”, diz ele.
Franco afirma que os programas de regulamentação resultam em limites rigorosos de emissões de poluentes em suas amplificações de fases. “Suas diretrizes instigam o aprimoramento das concepções dos motores de máquinas agrícolas e de suas tecnologias de pós-tratamento, resultando em melhorias para o controle das emissões atmosféricas provenientes dos gases de escape. Como as distintas classes de potência de motores são responsáveis por diferentes níveis permissíveis de emissões de poluentes, os projetos de sistemas de pós-tratamento para os motores podem ser alterados significativamente entre cada uma das classes de potência. Porém, as tecnologias de pós-tratamento comumente adotadas para alcançar os limites permissíveis de poluentes são: Redução Catalítica Seletiva, Recirculação de Gases de Exaustão, Filtro Particulado Diesel e Sistema de Injeção Eletrônico de Combustível”, cita.
Benefícios econômicos
Além dos benefícios ambientais que essas práticas da agricultura sustentável podem trazer para o nosso planeta, produzir alimento de forma sustentável pode trazer também alguns benefícios econômicos. Nesse caso, Gomes afirma que o uso de boas práticas e principalmente da pulverização de alta performance traz notáveis benefícios econômicos e ambientais. Evita-se, por exemplo, o desperdício de água e produtos químicos através de volumes de aplicação adequados e respeitando as recomendações dos defensivos agrícolas, além de reduzir a necessidade de reentradas na cultura, economizando tempo e recursos como água, produtos químicos e combustível.
“Os benefícios econômicos e ambientais obtidos com o uso das boas práticas combinadas com as pontas de pulverização de alta performance são notáveis, uma vez que é possível utilizar volumes de aplicação mais adequados, que respeitam a bula dos defensivos agrícolas, evitando desperdício de água e produtos químicos por escorrimento, evaporação ou ainda deriva por arraste das gotas para fora do alvo. Além disso, é importante mencionar que uma aplicação de baixa qualidade pode exigir novas reentradas na cultura, ocasionando perda de tempo do operador e do equipamento, desperdício de água, mais produtos químicos e combustível”, diz ele.
Além de Gomes, Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, engenheiro agrônomo e mestre em Máquinas Agrícolas, afirma que a questão ambiental não traz novos benefícios, mas potencializa ainda mais aqueles que já existem. Isso inclui algo bastante interessante, como o reaproveitamento dos recursos utilizados pelos agricultores e pela agricultura em geral.
O especialista ressalta que muitas dessas práticas trazem benefícios similares aos já existentes, porém com uma menor pegada de carbono em sua manufatura. Entre elas, destaca-se o reaproveitamento de resíduos de processos para novos fins, como o processo de pintura de máquinas agrícolas conhecido como e-colt, que já é utilizado há muitos anos pelas fabricantes. Além disso, a reutilização da água também é uma prática importante adotada para minimizar o impacto ambiental.
Quais os desafios atuais?
Existem alguns desafios e entraves que ainda dificultam esse tipo de desenvolvimento na agricultura brasileira, como a questão da energia elétrica, por exemplo. Ripoli diz que o setor agrícola enfrenta desafios significativos, como o alto consumo de energia e a necessidade de fornecer alimentos suficientes para uma população mundial em crescimento. Além disso, a escassez de água é uma preocupação importante devido à alta demanda por parte de diversos setores, superando a oferta disponível.
Segundo ele, as mudanças climáticas representam uma ameaça, com extremos climáticos podendo aumentar devido às alterações climáticas globais. Os recursos hídricos são intensamente explorados, resultando em prejuízos aos ecossistemas e à biodiversidade, devido ao desmatamento e à pesca excessiva. Diante desses desafios, a importância da agricultura como fonte de energia renovável está em ascensão, tornando a busca por práticas agrícolas sustentáveis ainda mais essencial.
De acordo com Gomes, agricultores que desejam adotar práticas mais sustentáveis e tecnologias avançadas de pulverização enfrentam alguns entraves. “Esses desafios estão quase sempre ligados ao entendimento de como adotar as melhores técnicas de aplicação, realizando suas aplicações nas melhores horas do dia, em condições climáticas favoráveis, com o uso da ponta de pulverização correta, para sua cultura específica, de acordo com o estádio fenológico da sua cultura”, explica.
“Assim, entendendo os fatores que impactam a qualidade da sua aplicação e tomando as melhores decisões, o produtor será capaz de realizar uma aplicação com o mínimo de desperdício, atingindo seu alvo de forma eficiente e eficaz e otimizando assim seus recursos para aumentar sua lucratividade”, completa o gerente regional de Vendas e Marketing da TeeJet.
Perspectivas para o futuro
Segundo Gomes, o futuro reserva um cenário em que a sustentabilidade e a eficiência serão cada vez mais valorizadas e incorporadas às práticas agrícolas. Acredita-se que a tecnologia de aplicação terá um papel central na busca por uma aplicação de defensivos agrícolas ainda mais eficiente. “Com a crescente demanda por alimentos e a necessidade de preservar os recursos naturais, esperamos que mais agricultores adotem práticas sustentáveis e invistam em tecnologias que permitam o uso eficiente da água e dos insumos agrícolas. O avanço contínuo da pesquisa e da inovação também trará novas soluções e abordagens para enfrentar os desafios da agricultura”, indica.
Além disso, ele acredita que parcerias colaborativas entre empresas, produtores, governos e instituições serão fundamentais para promover a adoção em larga escala das boas práticas agrícolas de forma sustentável e impulsionar assim a transformação positiva no setor agrícola.
“Estamos confiantes de que, com a dedicação contínua em desenvolver novas tecnologias, a adoção das boas práticas agrícolas e o uso de produtos de alta qualidade, como nossas pontas de pulverização, acessórios e equipamentos, unidos com o compromisso de todos os envolvidos na cadeia produtiva, o futuro da agricultura será mais produtivo, eficiente e, acima de tudo, sustentável”, completa.
Para finalizar, Ripoli diz que, no futuro, a sustentabilidade estará integrada em todos os aspectos de nossas vidas. “Não será uma reflexão tardia ou algo que façamos do lado. Teremos empresas, produtos e até cidades mais sustentáveis. A razão pela qual a sustentabilidade está em ascensão é devido aos seus benefícios econômicos. É uma tendência global que está ocorrendo com cada vez mais frequência”, explica.
“Com o tempo, ficará evidente que as pessoas estão procurando maneiras de viver um estilo de vida sustentável, bem como as empresas estão pressionando para produzir produtos que sejam sustentáveis para que possam se diferenciar de sua concorrência. A tendência para a sustentabilidade só vai continuar a crescer e devemos começar a integrá-la em nossas vidas cotidianas agora para nos prepararmos para o que está por vir no futuro”, conclui.