por Sueme Mori e Eric Ramos Pinheiro – Em um ano marcado por eventos geopolíticos de alta relevância, um deles tem o Brasil como um dos seus protagonistas: o anúncio da ampliação dos Brics durante a 15ª Cúpula do bloco, ocorrida em agosto. Além de Brasil, Rússia, China e África do Sul, passaram a compor o Brics+, a partir de 2024, Argentina, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã.
Apesar do anúncio, a eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina coloca um grande ponto de interrogação sobre a entrada do país no Brics expandido. Esta semana, a possível futura chefe da chancelaria argentina declarou que, no momento, não vê vantagem para o país.
Fato é que a conjuntura global e os motivos que levaram à formação inicial do bloco não são os mesmos de 2006, quando houve a primeira reunião formal dos integrantes originários: Brasil, Rússia, China e Índia. À época, os quatro representavam as maiores economias emergentes e, por isso, o alinhamento e cooperação entre eles fazia muito sentido. O economista que cunhou o termo, em 2001, acreditava que essas quatro nações dominariam a economia global até 2050.
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Passados mais de 20 anos, a realidade econômica dos países do bloco mudou muito, causando uma divergência que levou à origem do agrupamento. Basta olhar a lista dos países que foram convidados a entrar no Brics para ter certeza disso. Se por um lado, a Arábia Saudita possui um PIB de US$ 1,11 trilhão, o PIB da Etiópia é de US$ 120 bilhões, segundo dados do FMI. Trata-se de um grupo extremamente heterogêneo.
Essa heterogeneidade vai além dos indicadores econômicos. A diversidade cultural e política entre os membros do Brics+ é notável e também se reflete em termos de comércio internacional. Um dos resultados esperados para o bloco é a ampliação da relação comercial entre os países integrantes.
Em 2022, as exportações brasileiras intrabloco somaram US$ 99,4 bilhões, sendo 90% destinado à China. Dentre os novos integrantes do bloco estão importantes importadores de produtos agropecuários do Brasil, como Irã que, em 2022, foi o quarto principal destino das exportações do agro. Egito e Emirados Árabes Unidos ocuparam a 13ª e 14ª posição.
Embora não configure um grupo econômico formal, isto é, sem preferências comerciais concretas, é inegável que qualquer forma de parceria dessa natureza eleva os laços entre seus integrantes a um nível distinto. Tal colaboração cria um ambiente propício para o estreitamento de relações e fomenta uma atmosfera favorável à cooperação em diversas áreas.
Ao mesmo tempo em que os Brics+ se apresentam como uma oportunidade para alavancar a competitividade de seus membros, por outro lado há desafios significativos que precisam ser gerenciados em função das perspectivas e interesses diferentes dos países em questões globais, como direitos humanos e governança.
De acordo com o governo brasileiro, o principal objetivo do bloco é alterar o sistema de governança global, por meio da cooperação, com a reforma de mecanismos como o Conselho de Segurança da ONU, e apresentar alternativas às instituições como o FMI para o fomento às economias emergentes, como o NDB – New Development Bank, atualmente liderado pelo Brasil. Na prática, isso quer dizer: uma aliança, em prol dos interesses dos países em desenvolvimento, em contraponto aos países mais ricos, ou seja, o G7 formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá.
Em um cenário global cada vez mais polarizado, com o progresso de duas guerras, a ampliação dos Brics precisa ser avaliada para além das questões econômicas. O tensionamento entre as duas principais potências mundiais, Estados Unidos e China, amplia a corrida dois lados para conquistar o maior número de países aliados. Como os Brics+ vão se comportar em relação à essa questão ainda não está claro.
O Brasil, como a terceira maior economia do bloco, possui boas relações diplomáticas e comerciais tanto com os países mais ricos quanto com os emergentes. Navegar nesse cenário de tensões não é tarefa simples e requer pragmatismo para que se consiga tirar o máximo proveito das oportunidades que esse contexto oferece.
Sueme Mori é diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Com a colaboração de Eric Ramos Pinheiro, assessor de Relações Internacionais da CNA
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