Tratores de pequeno porte e compactos ganham espaço no mercado brasileiro e podem se beneficiar com a retomada de um programa federal voltado à agricultura familiar
Com potência abaixo de 100 cavalos, os modelos são compactos nas dimensões, principalmente de largura, para poder trafegar em áreas restritas, como nas plantações de café e de fruticultura, e em áreas de hortifrutigranjeiros e viticultura, onde há não apenas restrição de largura como também de altura.
Especializada em tratores desse tipo, a LS Tractor chegou ao mercado brasileiro em 2013, quando lançou por aqui modelos de 40, 50, 65 e até 100 cv. “Na época, esse portfólio abaixo de 100 cv revolucionou o mercado de tratores, pois passamos a oferecer uma série de tecnologias até então não disponíveis para tratores nessa faixa de potência. Sem contar que, praticamente, todos os modelos mais compactos eram a partir de 75 cv. Essas novas tecnologias mudaram até mesmo o olhar de outras marcas, pois muitas delas não desenvolviam máquinas específicas para esse segmento de mercado, composto tanto por agricultores familiares quanto grandes produções agrícolas com restrição de espaço”, contextualiza Astor Kilpp, gerente de Marketing e Vendas da LS Tractor.
Segundo ele, essa mudança de postura ocorreu em paralelo ao fortalecimento do Programa Mais Alimentos, lançado pelo governo federal em 2008 para fomentar a produtividade da agricultura familiar por meio da mecanização e assistência técnica.
Produtor melhora o aproveitamento do feijão com plataforma da Colombo/Miac
“Esse programa abriu uma possibilidade para o pequeno agricultor se qualificar e adquirir uma máquina nova, não só um trator de pequeno porte, mas todos os implementos e a tecnologia necessária para conseguir produzir com mais eficiência”, explica Kilpp.
“Uma observação importante é que, até hoje, existem tratores de 150 cv que não possuem essa gama de velocidade. Nós decidimos oferecer essa grande quantidade de opções justamente porque sabemos que o pequeno produtor geralmente tem um único trator para desempenhar diversas tarefas e, para cada uma, precisa de uma velocidade específica. Dessa forma, consegue a melhor performance mesmo com um equipamento de pequeno porte”, afirma o executivo da marca.
Com os anos, a empresa também passou a agregar soluções como o piloto automático e até um sistema de proteção eletrônica do motor. Como o pequeno produtor pode não ter tanta habilidade na utilização de uma máquina agrícola, o motor fica sujeito a diversas avarias, seja com o superaquecimento ou o vazamento de água e óleo lubrificante.
Setor avança rumo a uma agricultura mais sustentável
“Nós criamos um sistema no qual o motor simplesmente desliga se algum desses problemas acontecer – tudo para resguardar a máquina de um dano mais significativo”, comenta Kilpp. Segundo ele, esse tipo de tecnologia ajuda a reduzir o custo de manutenção – fator determinante para qualquer produção agrícola, mas especialmente para o agricultor familiar, que tem recursos mais limitados e, ao mesmo tempo, precisa ter a máquina 100% disponível para trabalhar.
Na linha de tratores da Mahindra, os pequenos e compactos também têm destaque, como é o caso dos quatro modelos da linha 6000 (6060, com 57 cv; 6065, 65 cv; 6075, 80 cv; e 6075E, 80 cv), comercializados pela multinacional indiana em mercados como Brasil, Estados Unidos, Austrália e Sudeste Asiático. Eles são úteis em aplicações que necessitam de velocidades reduzidas e agilidade de manobras, como batedor de cama em aviários, encanteiradores, colhedoras de forragem, aplicações com carregador frontal e culturas semi-adensadas (café e citrus).
Uma reflexão sobre os aspectos gerais da mecanização dos algodoais
O primeiro lançamento da Mahindra nessa categoria no Brasil foi em meados de 2017, com o modelo 6060. Mais recentemente, em maio de 2022, foi apresentado o 6075E em sua versão plataforma; e em março de 2023, chegou a versão cabinada. “Sem dúvida esse segmento é um dos principais do mercado brasileiro. A Mahindra é especialista no desenvolvimento de tratores para pequenos e médios produtores, além é claro da agricultura familiar. Atualmente, temos tratores que vão de 25 a 110 cv”, explica Gilberto Dutra Nascimento Junior, especialista em Marketing de Produto.
Os compactos da marca são aplicados na horticultura, fruticultura, pecuária leiteira e de corte e produção de grãos, entre outros. A faixa de potência mais vendida está entre 70cv e 80cv, representando mais de 40% das vendas da companhia. Agora, a empresa acaba de anunciar o lançamento uma nova família de tratores subcompactos e compactos, a série OJA, fruto do trabalho do seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Mahindra Research Valey), na Índia, com a Mahindra Mitsubishi Tractors, no Japão. Os novos equipamentos estarão disponíveis em breve no Brasil.
Questionado sobre as características dos produtos comercializados na Índia e no Brasil pela empresa, o executivo considera que os tratores têm em comum a robustez, a facilidade de operação e manutenção, o baixo consumo de combustível e o reduzido custo de manutenção. “Poucas adaptações são realizadas, apenas as necessárias para atender alguma legislação local, como a homologação dos motores para MAR-1, e algumas opções locais de pneus e rodas para atender a demandas regionais”, aponta Nascimento Junior. Os tratores compactos são produzidos fábrica da Mahindra no Rio Grande do Sul e podem ser financiados pelos programas de incentivo que exigem a nacionalização do produto.
Um novo subsídio
Ao que tudo indica, a indústria deve continuar aprimorando os equipamentos agrícolas de pequeno porte. E o principal incentivo vem do Programa Mais Alimentos, recomposto pelo governo federal, com verba de R$ 71,6 bilhões destinada ao crédito rural no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O valor é o maior da série histórica, e 34% superior ao anunciado na safra passada.
Como parte do Pronaf, o Programa Mais Alimentos prevê a concessão de linhas de crédito diferenciadas, com redução de juros de 6% para 5% ao ano, além de assistência técnica com foco em práticas de produção sustentável de alimentos e o uso adequado de máquinas e implementos. Nessa nova roupagem, a inciativa inclui ainda a articulação para parcerias com instituições públicas de desenvolvimento industrial e inovação; investimento em programas de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias; e atração de investimentos externos para fortalecer o parque industrial brasileiro de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas e agroindustriais.
Outra novidade do programa é o acordo de cooperação técnica entre os ministérios de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e o de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A ideia é desenvolver ações conjuntas para aumentar o acesso e o desenvolvimento de maquinário agrícola para a agricultura familiar, além do compartilhamento de recursos e monitoramento de resultados.
“Nós estamos tentando diminuir a desigualdade que ainda é muito grande entre o pequeno [produtor] e o grande, entre aqueles que trabalham e aqueles que são donos das empresas que produzem trabalho. Há uma diferença que não pode continuar existindo”, pontuou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no discurso de retomada do programa, anunciado no final de junho.
Potencial de expansão
Segundo dados do MDA, a agricultura familiar representa 77% das propriedades rurais no Brasil, mas somente 18% delas possuíam um trator até 2017, quando foi feito o levantamento. Para além do potencial de venda de equipamentos de pequeno porte para esse público, a indústria ainda tem uma oportunidade para entender melhor suas necessidades e propor grandes inovações.
No dia do anúncio da retomada do Programa Mais Alimentos, o ministro Paulo Teixeira ressaltou a importância de olhar as atividades rurais para as quais ainda é possível explorar a mecanização. “Como trabalha a pessoa que colhe açaí no Norte? Ela sobe na árvore, colhe e desce. Nós podemos desenvolver pequenos elevadores para levantá-la, e o ideal é que eles pudessem ser dirigidos”, exemplificou.
Até bem pouco tempo, uma atividade que também não tinha um equipamento para facilitar o trabalho era a criação de frango. “Nós ocupamos esse mercado com muita força por meio dos modelos pequenos da LS Tractor. Como é um trabalho indoor, eles são ajustados para ficar sem o toldo e são úteis para uma série de tarefas, como a retirada da cama aviária”, relembra Kilpp. Segundo ele, como os modelos são de baixa potência, o ruído também é baixo para não provocar muito estresse nos animais.
Outro ponto importante é que, ao lançar equipamentos compactos, a indústria não capta apenas a atenção dos pequenos agricultores, mas de todo o agro. “Costumo dizer que não existe um trator específico para o pequeno, médio ou grande produtor. Isso porque o modelo não pode ser atrelado exclusivamente ao tamanho da propriedade e, sim, à atividade desenvolvida”, enfatiza o executivo da LS Tractor. Para ilustrar, ele conta que um dos maiores produtores de soja do Brasil tem mais de 50 unidades do modelo U60 da marca, que tem apenas 65 cv, para realizar diversas tarefas de apoio.
Atualmente, a empresa possui três modelos de tratores compactos oferecidos ao mercado brasileiro. O 5060EN e o 5080EN, com 60 e 80 cv, respectivamente, são fabricados aqui mesmo. E, neste ano, a marca lançou o modelo 3036EN, que é fabricado na Índia. Com menos de um metro de largura e 128 centímetros até o volante, ele serve para inúmeras operações agrícolas que exigem um equipamento mais estreito, além de outras atividades como corte de gramados, roçagem, perfurações e reboques.
“O modelo 3036EN entrou no mercado para ser o menor e mais versátil trator já comercializado pela John Deere no Brasil, com foco na agricultura familiar e de pequenas e médias propriedades, podendo também ser utilizado no cultivo de árvores frutíferas e granjas”, relata Cassol.
Segundo o executivo, para o ano que vem, a marca pretende incluir cabines nos equipamentos estreitos fabricados aqui para oferecer um sistema de agricultura de precisão completo.
Um mercado de muitas facetas
O Brasil é o maior produtor de café do mundo. Esse cenário faz com que os modelos compactos sejam utilizados em todo o território nacional.
De acordo Flávio Scalioni, gerente da rede de concessionárias ASAP, que comercializa tratores compactos e de pequeno porte, o público é bastante heterogêneo. “Nós atuamos hoje em 280 municípios do Sul de Minas. Temos grandes frotas em grandes propriedades. Exemplo disso é que temos clientes com quase 30 tratores compactos de baixa e média potência na mesma propriedade, atuando no café”, explica.
Para conseguir atender as especificidades de cada público, a concessionária atua de forma distinta. “A região do Sul de Minas tem muitas pequenas comunidades agrícolas e procuramos estar mais próximos com a realização de Dia de Campo, quando reunimos esses agricultores familiares e apresentamoa os modelos compactos. Assim eles conseguem ver todas as funcionalidades na prática. Já para o médio e grande produtor, adquirimos tratores diretamente da fábrica e deixamos em uma propriedade com maior potencial de negócio por dois ou três dias, em uma espécie de teste-drive. Ou seja, são públicos diferentes que exigem uma atuação diferente”, afirma Scalioni.
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