Felippe Serigati, Roberta Possamai e André Diz
De acordo com as métricas da pesquisa “Desempenho Comercial do Agronegócio” do FGV Agro, em 2022, o agronegócio brasileiro registrou um superávit recorde de US$ 107,3 bilhões. Esse valor é 29,4% superior àquele obtido em 2021.
No entanto, para ter uma ideia mais clara da dimensão desses valores, se o agronegócio brasileiro fosse um país de forma isolada (com todos os vieses e imprecisões que a comparação implica), ele seria o sexto país com o maior volume líquido de entrada de divisas, ficando atrás apenas da China (US$ 329,6 bi), Rússia (US$ 259,3 bi), Arábia Saudita (US$ 161,5 bi) e de Taiwan (US$ 122,6 bi). Em outras palavras, o superávit obtido pelo setor é um montante expressivo, literalmente, em qualquer lugar do mundo.
Os 10 maiores saldos de balanço de pagamento do mundo e o saldo comercial do agronegócio brasileiro em 2022 (US$ bilhões):
Como o setor atingiu esse recorde?
Entre janeiro e dezembro do ano passado, o total das exportações do setor atingiu US$ 162,7 bilhões, ao passo que a soma das importações totalizou US$ 55,4 bilhões, gerando um superávit comercial de US$ 107,3 bilhões, um crescimento (nominal) de 29,4% frente ao resultado de 2021 (US$ 83,2 bilhões).
Parte majoritária desse resultado foi gerada pelo desempenho do setor agropecuário, responsável por um saldo equivalente a US$ 69,4 bilhões (64,5% do saldo total) enquanto a agroindústria contribuiu com 34,8%, gerando um saldo de US$ 37,5 bilhões.
Esse crescimento do superávit da balança comercial do agronegócio brasileiro ocorreu em uma conjuntura bastante específica. Por um lado, o País foi capaz de expandir o valor de suas exportações (+31,4% frente a 2021) em um contexto de menor crescimento da economia mundial. Apesar da maioria dos países ainda não ter divulgado os resultados consolidados do Produto Interno Bruto para o ano de 2022, a última previsão do Fundo Monetário Internacional estimava um crescimento da economia global na ordem de 3,2% em 2022, patamar muito inferior ao crescimento registrado no ano de 2021 (6,0%).
O crescimento do saldo da balança comercial se torna ainda mais relevante quando, observando os dados, nota-se que essa expansão do valor das exportações ocorreu para além de um simples aumento dos preços dos produtos exportados, uma vez que o quantum das exportações apresentou elevação de 12,9% (frente a 2021) para o agronegócio brasileiro. Entre seus componentes, o crescimento do volume (milhões de toneladas) da agropecuária (+14,3%) foi superior à variação das vendas externas da agroindústria (+11,2%).
Outro aspecto que deve ser destacado, para além do crescimento das exportações em um cenário de desaceleração do crescimento da economia mundial é que ao longo de 2022 o preço das importações (+20,9% para o agronegócio) registrou um crescimento significativamente superior ao crescimento dos preços das exportações (14,8%).
De outra maneira, o agronegócio foi capaz de gerar superávit da balança comercial mesmo em um contexto de piora dos termos de troca, que ocorreu de forma mais acentuada para a agroindústria do que para agropecuária, uma vez que a diferença da variação entre os preços médios de exportação e importação do primeiro foi de -32,1% entre 2021 e 2022, enquanto que para a agropecuária, a elevação dos preços das exportações (15,5% frente a 2021) foi próximo ao encarecimento das importações (17,5%), resultando em uma piora de -2% nos termos de troca.
Entre os produtos com maiores altas de preço para importação ao longo de 2022 destacam-se os grupos de adubos e fertilizantes, com alta dos preços de importação de 66,5%, insumos (+69%) e produtos intermediários para produção de fertilizantes, com alta de 81%. Essa forte elevação de parte significativa dos custos de produção pressionou as margens de comercialização do setor agropecuário como um todo, com destaque para a produção destinada ao mercado doméstico, que não estava exposta ao crescimento dos preços de exportação.
Quais foram os principais destinos?
Entre os destinos de nossas exportações, China segue sendo o país principal, respondendo por 31,7% do total das exportações do agronegócio brasileiro (US$ 51 bilhões), com União Europeia (15,3%; US$ 25,9 bilhões), Oriente Médio (7,6%; US$ 12,4 bilhões) e Estados Unidos (6,5%; US$ 10,6 bilhões) sendo destaques entre nossos principais parceiros comerciais.
Para o ano de 2023, por um lado, um menor crescimento da economia mundial (2,7%, segundo o FMI) tende a frear parte do crescimento das exportações brasileiras, embora parceiros importantes como China (4,4%) e países do Oriente Médio (3,6%) apresentem boas perspectivas de evolução da atividade econômica. Em termos de preços, as dificuldades da Argentina devem contribuir para uma pressão maior sobre os preços de soja e milho, enquanto as exportações de carne bovina seguem sob as incertezas do caso de vaca louca no Pará. Por fim, a taxa de câmbio deve seguir em cenário instável, respondendo aos ajustes de política monetária ao redor do mundo e às incertezas fiscais da economia brasileira.