O Brasil é o quarto produtor mundial da fibra, que é cultivada em 1,6 milhão de hectares e gera 1,5 milhão de empregos no País
Neste ano, o Brasil praticamente repetiu a área plantada de algodão na safra 2021/22, 1,65 milhão de hectares, e a cultura ocupará 1,66 milhão de hectares, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo sem acréscimo de área, o clima ajudou e o País está perto de confirmar uma produção recorde de 3,07 milhões de toneladas de algodão beneficiado (pluma) na safra 2022/23. Em 20 anos, a marca foi atingida apenas uma vez, no ciclo 2019/20. O provável incremento de 19,8% na colheita será resultado direto do avanço da mesma ordem (18,9%) na produtividade, estimada em 1,84 mil quilos de pluma por hectare, contra 1,54 mil quilos por hectare, no ciclo anterior.
O algodão é produzido em mais de 70 países, onde são plantados, anualmente, 32 milhões de hectares, e movimenta US$ 10 trilhões por ano. As estimativas atuais para a produção mundial são de cerca de 25 milhões de toneladas ou 110 milhões de fardos anualmente, o que representa 2,5% das terras aráveis do mundo. A cultura garante o sustento de 100 milhões de famílias em todo o mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, a estimativa é de que a cultura gere cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos.
Atualmente, o País é o quarto produtor mundial, atrás somente da China (26%), Índia (22%) e Estados Unidos (12%), e ocupa o primeiro lugar em produtividade em sequeiro, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Em 2021, o Brasil se consolidou como o segundo maior exportador, e a meta é se tornar o primeiro até 2030, conforme a entidade. No ano passado, o Valor Bruto da Produção (VBP) de algodão foi de R$ 41 bilhões, sendo a quarta cultura mais importante da agricultura brasileira, depois da soja, cana-de-açúcar e milho.
O algodão é explorado economicamente em vários estados, destacando-se Mato Grosso, Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Maranhão, onde os sistemas de produção utilizados e as condições do ambiente (clima e solo) permitem a obtenção de elevadas produtividades.
“O maior produtor é o Mato Grosso, que, na safra 2022/23, deve plantar 1,20 milhão de hectares. O estado estima colher 2,119 milhões de toneladas, o que representa 70% da produção do Brasil”, destaca o presidente da Abrapa, Alexandre Pedro Schenkel.
Mecanização
Hoje, quase toda produção de algodão no Brasil é mecanizada. A adoção desse tipo de colheita foi impulsionada pelo lançamento de novas cultivares resistentes a pragas e doenças, incentivos fiscais, uso de tecnologia durante todo o ciclo de produção e a expansão da cultura para extensas áreas planas e condições climáticas favoráveis, como no Centro-Oeste. No semiárido da região Nordeste, no entanto, ainda há colheita manual, conduzida em pequenas propriedades.
A mecanização aparece na preparação do solo, na semeadura e no beneficiamento, mas é fundamental na colheita, o ponto-chave para o sucesso do algodão. Afinal, é nessa etapa que a qualidade da fibra é definida. “A colheita é toda mecanizada. As colhedoras colhem o algodão, fazem o enfardamento na própria máquina em rolos que depois são liberados na lavoura”, explica Schenkel.
Nas grandes áreas do Centro-Oeste, rodam tratores computadorizados, colheitadeiras equipadas com recursos de Agricultura de Precisão (AP), pulverizadores autopropelidos com grande capacidade de carga e barras de até 42 metros, além de semeadoras capazes de semear de forma precisa e uniforme.
A adoção de tecnologia, no entanto, não se resume apenas ao preparo do solo, à semeadura e à colheita. Os produtores têm investido cada vez mais em equipamentos que garantem informações precisas sobre clima, mercado, qualidade do solo, quantidade de água e fertilizantes a serem utilizados, entre outros subsídios que ajudam os agricultores a tomarem a decisão certa, no tempo certo, e assim, diminuir custos e aumentar a produtividade. “Os drones agrícolas são utilizados na lavoura de algodão não apenas para identificar doenças e pragas, mas também na pulverização”, salienta o presidente da Abrapa.
Semeadura
A Tatu Marchesan produz semeadoras e tem em seu portfólio quatro modelos da série USAP, lançada em 2007. Com a proposta de realizar a semeadura apenas de sementes e não colocar o fertilizante, o modelo atende a um perfil de agricultor que faz a fertilização em separado, principalmente nas áreas de Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Piauí e Tocantins.
“A máquina tem 6,60 metros quando fechada e foi lançada para atender a uma demanda do mercado norte-americano, que já possuía tratores de alta potência”, explica o coordenador de Marketing da Tatu Marchesan, Luis Fernando Varella. Com a evolução e disponibilidade de tratores de alta potência no Brasil, a semeadora também passou a ser comercializada no Brasil.
Em 2021, a marca apresentou um equipamento que efetua a semedura e a distribuição de adubo na mesma passada. Em junho, a empresa levou para a Bahia Farm Show a versão com adubo plantado. A semeadora articulada possui 12 linhas e espaçamento de 762 milímetros. O modelo nessa configuração complementa o projeto anterior, máquina com mobilidade nas versões de adubo plantado, sementes ou grãos graúdos.
O produto conta com sistema que permite que ele seja transportado com as caixas de adubo e semente carregadas. Seu fechamento é eletro-hidráulico, e depois de rebatido fica com 3,2 metros de largura. “O principal diferencial está na logística de transporte. É de fácil operação e sem necessidade de desmontar ou fazer uso de ferramentas para fechar”, diz Varella. Outro destaque é a qualidade na distribuição de sementes. A velocidade recomendada para o modelo é de 6 a 7 quilômetros por hora, mas ele pode trabalhar de 10 a 12 quilômetros por hora.
Pulverização
O algodão é uma cultura que exige várias entradas do pulverizador na lavoura para fazer o controle químico de pragas, doenças, insetos ou diversas outras ameaças. “Trata-se de uma lavoura de alto valor agregado, mas que exige grandes investimentos em tecnologia. É comumente cultivado em grandes áreas do Mato Grosso e da Bahia e em fazendas tecnificadas”, afirma Rodrigo Nogueira, gerente de Negócios da Jacto.
Os primeiros pulverizadores eram equipados com reservatórios de calda com capacidade para 2 mil litros, operavam em velocidades de 10 a 12 quilômetros por hora e saíam de fábrica equipados com barras de pulverização de 18 a 20 metros. Os modelos atuais possuem tanques com capacidade de 2,5 a 4,5 mil litros. “Hoje, os produtores de algodão utilizam pulverizadores com barras de aplicação de 36 metros. Mas, vez ou outra, a gente vê grandões com barras de 42 metros”, observa.
O maquinário incorporou tecnologias de ponta, como a AP, em que a aplicação dos insumos é realizada de forma localizada e à taxa variável, buscando redução de custos e máximo potencial produtivo. “Na lavoura de algodão, a aplicação de agroquímicos precisa ser ainda mais precisa”, diz Nogueira, acrescentando que o equipamento conta com sensores de estabilidade e altura das barras. “O controle automático bico a bico permite uma redução de até 10% de agroquímicos”, garante o gerente de Negócios da Jacto.
Colheita
Até pouco tempo, os produtores de algodão adotavam dois sistemas de colheita: o stripper e picker. As colhedoras automotrizes tipo picker extraem de forma seletiva o algodão dos capulhos abertos da planta sem puxar as cascas, pois seus pinos giram em alta velocidade, enrolando a fibra nos fusos, extraindo somente a fibra com o caroço. Esse sistema costuma apresentar preços elevados, exigindo uma maior produção da cultura para ter rentabilidade. Além disso, as perdas da lavoura podem chegar até 16%.
No entanto, por retirar somente a fibra da planta, e não restos vegetais como o sistema de pente, o sistema picker apresenta baixo nível de impurezas e permite maior qualidade da fibra colhida. Por ser mais seletiva, a colhedora picker é a mais utilizada atualmente pelos cotonicultores, porém, é mais cara quando comparada ao modelo stripper, principalmente no momento de sua aquisição e nas manutenções preventivas e corretivas. Esse maquinário é usado em entrelinhas maiores que 76 cm.
Já as colhedoras tipo stripper possuem um conjunto de dedos que formam um pente fino, um molinete, um caracol e dutos com jatos para transportar o algodão até os sistemas de limpeza. Essas máquinas são mais utilizadas em sistemas de plantio adensado (espaçamento entre linhas menor que 76 cm) e ultra adensado. Esse sistema de colheita mecânica é mais econômico, além de apresentar menores perdas quantitativas, ou seja, recolhe quase todo o algodão da lavoura. Por outro lado, tende a apresentar menor qualidade nas fibras recolhidas.
A John Deere importa dois modelos de colhedoras de algodão, ambos do tipo picker. O gerente de Marketing Tático da marca, Igor Almeida, destaca que os equipamentos evoluíram a partir do adensamento e enfardamento da fibra colhida. Essa revolução logística permitiu uma agilidade e redução nos custos operacionais, segundo ele. “Ao longo de mais de dez anos de evolução das colhedoras com fardo, a capacidade operacional média foi de 1,7 mil hectares por ano por máquina”, aponta.
A tecnologia de manuseio de fardos também foi aprimorada no modelo mais novo da marca. A colhedora, assegura Almeida, incorpora um sistema de última geração que reduz o tempo necessário para ejetar os fardos em 33%. O produto também foi projetado com foco na eficiência de combustível e proporciona uma eficiência 20% melhor por arroba de algodão colhida, o que resulta em uma redução dos custos operacionais e do impacto ambiental.
O produto inova com enfardamento mais denso, que permite embalar uma maior quantidade de algodão em cada fardo e reduzir custos anuais de amarração, e na possibilidade de fazer fardos com diâmetros maiores, o que gera economia nos custos de enfardamento e transporte.
“A nova colhedora oferece fardos 2% maiores e 5% mais densos, se comparada à máquina lançada há dois anos”, compara Almeida. Outro ganho, indica o gerente, foi o aumento na velocidade de colheita, que permite aos agricultores cobrir uma área maior em um único dia de trabalho.
A colhedora possui unidades de linha equipadas com elevadores de talos de alta velocidade, o que garante um contato suave com a cultura, reduz a perda de capulhos ao colher em altas velocidades e assegura maior quantidade de algodão colhido. A colhedora foi projetada para melhorar a eficiência de combustível, reduzindo custos em até 20% por arroba de algodão colhida, graças ao uso de um motor mais eficiente e um sistema hidráulico atualizado. A colhedora apresenta tecnologias integradas, como monitoramento de rendimento em tempo real, rastreabilidade dos fardos e outras ferramentas para análise e gerenciamento dos dados de colheita.
COLHEDORA PARA AGRICULTURA FAMILIAR
A Embrapa é uma das instituições que ajudou o Brasil no salto produtivo na produção de algodão, principalmente por meio das pesquisas realizadas pela Embrapa Algodão, de Campina Grande (PB). Além de novas variedades mais produtivas e o desenvolvimento de um descaroçador, a unidade mostrou que a colheita mecanizada na agricultura familiar pode ser viável, com o desenvolvimento do protótipo de uma colheitadeira de uma linha, dentro do projeto + Algodão. A iniciativa, que começou em 2013, envolve a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), além de 80 entidades dos setores público e privado do Brasil e de outros países: Argentina, Bolívia, Equador, Colômbia, Haiti, Paraguai e Peru.
A máquina, desenvolvida pelos pesquisadores da Embrapa Algodão Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva e Valdinei Sofiatti, consiste em uma colheitadeira de uma linha, acoplada em trator e reboque para armazenamento do algodão colhido. O equipamento pode colher 1 hectare em 3,5 horas, o equivalente a 120 hectares em 30 dias. O equipamento, indicado para pequenas áreas de produção, passou por testes nos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais e Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte e foi levado até para demonstração e teste de campo no Paraguai, dentro do processo de validação da tecnologia. Os primeiros testes iniciaram em 2019, no município de São Desidério (BA). Na primeira validação, o protótipo teve um rendimento de 389 quilos de fibra de algodão por hectare e um custo 70% menor em comparação à colheita manual.
A máquina é uma adaptação das colheitadeiras do tipo picker, que colhe o algodão por meio de fusos e suja pouco o algodão. “A colhedora já foi testada em grandes lavouras na Bahia, com áreas de alta tecnologia e produtividade, com um desempenho muito bom, igual ao de uma máquina de 5-6 linhas”, afirma Silva. Ajustes Em testes preliminares, o algodão colhido no protótipo apresentou em torno de 4,5% a 5,5% de impurezas, o que é considerado normal em relação às colheitadeiras do tipo picker. As perdas na colheita ficaram em torno de 4% a 5%.
“Ainda estamos fazendo ajustes, mas o equipamento pode se tornar uma opção altamente viável para os pequenos produtores de algodão na América Latina, bem como para as suas organizações e cooperativas”, salienta Silva. O pesquisador da Embrapa Algodão sublinha que o algodão é uma cultura extremamente importante que já foi cultivada em grandes áreas no Nordeste por pequenos produtores. Mas, hoje, as atividades do campo estão muito difíceis porque a mão de obra está cada vez mais escassa.
Por isso, atualmente, o cultivo de algodão por pequenos produtores é quase insignificante, em relação ao cultivo empresarial. Silva destaca que a colheita mecanizada traz vários benefícios para o pequeno agricultor, já que a colheita manual gera um alto custo de produção e pela dificuldade de conseguir mão de obra capacitada. “A colheita representa cerca de 50% do custo de produção para o pequeno produtor”. O especialista lembra que a colheita manual gera um grande risco de contaminação da pluma. E que o mercado prefere comprar algodão que seja colhido com a colheitadeira para evitar o problema.
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