De olho na maior rentabilidade do grão, os produtores fazem mais investimentos em tecnologia para a cultura do milho
por Gustavo Paes – O milho (Zea mays) é um cereal cultivado em grande parte do mundo e extensivamente utilizado como alimento humano ou para ração animal devido às suas qualidades nutricionais. Evidências científicas levam a crer que seja uma planta de origem mexicana, já que a sua domesticação começou de 7,5 mil a 12 mil anos atrás na área central do México. Tem um alto potencial produtivo e é bastante responsivo à tecnologia. O seu cultivo geralmente é mecanizado, beneficiando-se muito de técnicas modernas de plantio e colheita. O milho é cultivado em diversas regiões do mundo.
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A produção mundial em 2022/23 deverá totalizar 1,159 bilhão de toneladas, contra 1,212 bilhão do ano anterior. No levantamento anterior, o número era de 1,157 bilhão. A leve alta na previsão foi determinada pela expectativa de maior produção na Ucrânia, apesar de o país estar envolvido em uma guerra com a Rússia. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indica produção global de 1,147 bilhão., enquanto o Conselho Internacional de Grãos estima safra de 1,150 bilhão de toneladas.
O maior produtor mundial de milho são os Estados Unidos, seguidos da Argentina. O Brasil aparece na terceira posição e produz 10% de todo o milho do mundo, conforme a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). A produção total brasileira de milho 2022/23 foi estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 124,88 milhões de toneladas, influenciada pelo incremento da produção de 8,8% na 1ª safra e de 11% na 2ª, podendo chegar a 27,24 milhões de toneladas e 95,32 milhões de tonela das, respectivamente.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta um aumento de 11,2% na produção nacional, totalizando um recorde de 122,5 milhões de toneladas. Já o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê uma safra de 125 milhões de toneladas.
O milho é a segunda maior colheita do agronegócio brasileiro em 2023. A liderança do setor ainda segue com a soja, com uma produção estimada em 153,6 milhões de toneladas, segundo dados da Conab. A produção de milho no Brasil, juntamente com a de soja, contribui com cerca de 80% da produção de grãos. Dentre os cereais cultivados no Brasil, o milho é o mais expressivo e tem sua produção voltada para o abastecimento interno, embora recentemente a sua exportação venha sendo realizada em quantidades expressivas.
No entanto, até 2011 o milho era considerado o “patinho feio” da lavoura e os agricultores brasileiros praticamente não investiam em tecnologia para cultivar o cereal, que tem como destino o consumo animal em sua maior parte e também ao consumo humano, na forma de grãos ou milho verde.
Mas a situação mudou a partir de 2012, e o plantio de milho mostrou-se rentável, o que fez com que os produtores voltassem sua atenção para a cultura e trocassem os equipamentos. Os produtores agora investem em agricultura de precisão, agricultura 4.0, drones, sensores e softwares de gestão agrícola, entre outras ferramentas.
Afinal, na safra 2022/2023, a projeção é de um aumento de 3,5% na área plantada de milho e de 7,5% da produtividade do setor no Brasil. A guerra entre Ucrânia e Rússia continua afetando a produção de milho na União Europeia, cuja safra deve ser a menor desde 2008. E os EUA, um dos maiores players do mercado exportador, também registraram queda na produtividade do grão.
O resultado da queda na produção global de milho é um cenário de escassez do grão em 2023, o que pode favorecer os produtores brasileiros e permitir que eles aproveitem o momento para abastecer os mercados e reduzir os prejuízos causados pelo conflito armado e pela estiagem.
Semeadoras de precisão
Para se tirar o melhor proveito do potencial dessa cultura e atender às demandas dos mercados nacional e internacional, a mecanização adequada às suas condições é fundamental para aumentar a produtividade e rentabilidade da lavoura.
Uma das máquinas mais importantes, quando se pensa na etapa de plantio do milho, é a semeadora. Os modelos desse equipamento utilizados na lavoura de milho evoluíram muito nas últimas décadas. A indústria passou de pequenas semeadoras, focadas em plantio convencional, com tratores pequenos em propriedades familiares, onde a produção era focada para o consumo próprio e local, para a profissionalização da produção agrícola, com plantio direto, sementes de alta tecnologia e fertilizantes de alto aproveitamento.
Essas máquinas aumentaram de tamanho e receberam um grande incremento tecnológico. Hoje existem no mercado equipamentos com mecanismos dosadores de alta precisão, como os pneumáticos, monitores eletrônicos de fluxo de semente e fertilizante, e até aplicação em taxa variável de fertilizante e sementes, considerando os princípios da Agricultura de Precisão.
O produtor, por sua vez, busca semeadoras equipadas com componentes que possibilitem o aumento na produtividade do trabalho, a redução de custos, a melhoria da qualidade da operação de semeadura e o conforto e a segurança ao operador.
“O milho é uma das culturas que mais incorporou tecnologia embarcada e é 100% mecanizado”, assegura Paulo Menzani, gerente de Plantio da Baldan.
A empresa, situada em Matão (SP), tem em seu portfólio diversos modelos de semeadoras para milho. Um deles foi projetado para produtores que exigem alto rendimento e acabamento de plantio em níveis extremos de palhada, segundo Menzani.
O maquinário, disponível com 17, 19 e 21 linhas de plantio, traz em seu DNA uma grande plantabilidade, com coeficiente de variação de sementes menor que 15%. A semeadora, que foi tropicalizada pela Baldan, conta com o Sistema Fertsystem de distribuição de adubo por gravidade, corte de seções para adubos e sementes e dosador pneumático V7 da Precision Planting.
A máquina possui disco de corte com design que possibilita o mínimo revolvimento da palhada, sulcador para adubação mais profunda, construção em três módulos para flexibilidade em solos irregulares e curvas de nível, e acabamento e fechamento do sulco que prometem maior proteção para a semente.
O equipamento ainda possui um sistema hidráulico independente para acionamento da turbina e depósito de semente com alta capacidade (1,5 mil litros), sistema de aplicação de inoculante com capacidade para 1 mil litros de calda, depósito de adubo com capacidade para 2,5 mil litros.
A semeadora de precisão, apesar do seu tamanho, foi projetada com um sistema eficiente de abertura e fechamento. “A máquina tem 3,20 metros de largura e é fechada em menos de 1 minuto, sem o uso de ferramentas. Isso torna o transporte fácil e seguro e permite um melhor rendimento operacional, já que ela abaixa e já sai trabalhando”, destaca o gerente de Plantio. Os modelos de 17 e 19 linhas exigem um trator de 240 a 300 hp de potência, enquanto o de 21 linhas requer um trator com 260 a 300 hp de potência.
Plataformas tecnológicas
A colheitadeira usada na lavoura de milho é praticamente a mesma máquina utilizada na soja. O que muda entre uma cultura e a outra é a plataforma, que no milho tem a função de arrancar a espiga e, no caso da oleaginosa, recolher toda a planta.
“Com a maior rentabilidade do milho, os produtores voltaram a investir mais na cultura e a demandar equipamentos com maior tecnologia”, comemora a engenheira agrônoma Gislene Pessin, gerente de Parcerias Estratégicas da John Deere.
As avançadas plataformas para milho encontradas hoje no mercado apresentam alta performance, maior tempo de trabalho no campo e maior durabilidade, já que o chassi é fabricado em aço carbono de alta resistência ou em alumínio. E entregam ainda mais capacidade, menor custo de operação e produtividade para a colheita.
Confira a edição anterior de Máquinas & Inovações Agrícolas (MIA 74)
Uma das linhas de plataformas da marca, lançada no ano passado, possui chapas despigadoras hidráulicas, que substituíram as antigas chapas despigadoras mecânicas. “Elas permitem ajustes mais fáceis desde a cabine da colheitadeira, de acordo com a condição da colheita, por exemplo, se o milho estiver acamado ou mais verde”, explica Gislene.
As plataformas possuem de oito a 23 linhas, com espaçamento de 45, 50 e 60 centímetros. O equipamento tem sensor de altura e o ajuste é feito automaticamente da cabine. Isso evita que o operador levante e abaixe constantemente a plataforma e possa aumentar a velocidade, de acordo com o terreno e o tipo de milho. “Isso, no final da operação, permitirá que ele colha mais hectares, tenha maior produtividade e reduza a fadiga do operador”, destaca a engenheira agrônoma. Outra tecnologia da marca é a Autotrac Rowsense, que possibilita o alinhamento entre as plantas e as linhas de colheita.
O implemento tem baixo custo de manutenção. As caixas das linhas têm intervalos de manutenções estendidos de três anos, 1,2 mil horas ou 2,5 mil hectares. Todos os pontos de lubrificação (pontos de manutenção diária) são de fácil e rápido acesso, o que garante maior disponibilidade. “Além disso, as plataformas recebem caixas de transmissão seladas e lubrificadas”, completa Gislene.
Tecnologia aumenta produtividade do milho 2ª safra
Ganhos médios diários de produtividade entre 1,5 e 2,3 sacas por hectare, com a antecipação do plantio do milho nas entrelinhas da soja antes da colheita da leguminosa para aumentar a produtividade de grãos em épocas de semeaduras realizadas fora do calendário agrícola preconizado pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). Esses são os resultados obtidos com o Sistema Antecipe, método de cultivo intercalar antecipado desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo, que permite o plantio da segunda safra (safrinha) do cereal em até 20 dias antes da colheita da soja.
Os resultados mais expressivos foram obtidos na segunda safra de 2021 em experimentos conduzidos em Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo, onde o sistema Antecipe registrou ganhos médios de até 46 sacas de milho por hectare.“Essa é uma tecnologia totalmente inovadora. Não existe nada no mundo parecido com essa tecnologia que nós começamos a pesquisar há 15 anos”, ressalta Emerson Borghi (foto ao lado), pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.
Resultado de 15 anos de pesquisa e validação, a tecnologia é formada por três pilares: um sistema inédito de produção de grãos, uma semeadora-adubadora – desenvolvida pela Embrapa e aprimorada pela empresa Jumil, de Batatais (SP) – e um aplicativo para auxiliar o produtor a planejar a execução do Antecipe no campo.
O milho é semeado pelo equipamento nas entrelinhas de soja, durante o estádio R5 da leguminosa. Na hora da colheita, o milho é cortado junto com a soja, ficando apenas um pequeno caule de cada planta do cereal. Só que, nesse momento, toda a lavoura de milho já está implantada, com raízes em pleno desenvolvimento e pronta para continuar crescendo. Esse plantio antecipado permite um ganho de até 20 dias e faz o cereal aproveitar condições climáticas mais favoráveis.
Os ganhos apresentados pelo sistema Antecipe em todas as regiões onde a tecnologia vem sendo implantada, demonstram que a produtividade de grãos é maior nesse sistema quando comparada à semeadura tardia. “Assim, o milho semeado em melhores condições de clima poderá ter produtividade superior ao Antecipe”, afirma o pesquisador. “Pelo que está demonstrado, o Antecipe produz mais que o milho semeado tardiamente”, completa Borghi. A estatal garante que a tecnologia é viável também para o sorgo, que está em franca expansão no Brasil.
Em 2019, a Embrapa desenvolveu o protótipo da semeadora-adubadora e, em seguida, a Jumil tornou-se parceira do projeto para desenvolver a novidade em escala comercial. Desde 2020, o equipamento já está disponível para os produtores. A máquina é oferecida em duas versões, de quatro e seis linhas. “Ela é voltada para pequenos e médios produtores, que sempre plantam fora da janela ideal de plantio de sua região. Com a máquina, eles podem ter a opção de antecipar o cultivo do milho ou de outras culturas, como o sorgo ou só forrageiras”, completa o pesquisador da Embrapa.
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