Por Marcelo Avelar *
Sabe-se que a pecuária leiteira é uma das mais antigas atividades agrícolas, sendo que a criação do gado destinado a este fim remonta há aproximadamente 5000 anos. Dados da Embrapa, mostram que o Brasil é um dos maiores produtores de leite do mundo e a tendência é crescer cada vez mais porque a partir desta matéria prima derivam-se inúmeros produtos que obtêm preços variados no mercado e são base da alimentação dos brasileiros.
Para chegar à mesa das casas, das escolas e outros estabelecimentos, o leite passa por um processo de produção e industrialização que requer alto grau de controle para manter a qualidade do produto até o seu destino final. A eficiência de uma cadeia produtiva leiteira é atribuída a uma relação de produtividade com menor custo possível e também a comercialização a parceiros de confiança e que tenham uma política clara de remuneração ao produtor. Neste sentido, as cooperativas são importante elo deste setor pois possibilitam, ao pequeno produtor, ter condições de competitividade e ganho em escala e, ao consumidor, a certeza de estar adquirindo um produto de qualidade comprovada.
Isso porque, todo o processo de industrialização é feito na cooperativa, que também é a encarregada pela venda e distribuição do produto para clientes de vários portes. Assim, garante renda, recolhe impostos no Estado de origem e fortalece a agricultura familiar, possibilitando até que alguns cooperados possam se manter residindo no campo, evitando o êxodo rural.
Também é preciso levar em conta que o leite pasteurizado barriga mole, como é mais popularmente conhecido, traz inúmeros benefícios aos consumidores. O processo de pasteurização deste tipo de leite requer um tratamento térmico a cerca de 74 graus Celsius, depois é rapidamente resfriado. Esse choque térmico mata os micro-organismos nocivos, mas preserva quase todas suas propriedades e principalmente os micro-organismos benéficos, como os lactobacilos vivos, as vitaminas do complexo B; as proteínas e açúcares.
Sendo assim, a pecuária leiteira com o fim de produzir o leite pasteurizado no interior do Estado de São Paulo, além de fortalecer o produtor local, gerar emprego e renda, deixa os impostos dentro do Estado e também é responsável por fabricar um produto altamente nutritivo, sem conservantes e acessível. Tanto que há muitos anos é este tipo de leite que é distribuído pelo governo paulista nos programas sociais de atendimento a crianças e idosos carentes (Vivaleite) nas merendas das creches e escolas públicas estaduais.
Se a agricultura de pequeno e médio porte consegue sobreviver em determinado mercado, esta condição já pode ser um indicador de que o ambiente cooperativo está gerando melhor distribuição de renda e divisas no Estado. Portanto, o cooperativismo, se devidamente apoiado por parceiros públicos ou privados, transforma-se em facilitador para a melhoria das condições sociais dos pequenos produtores. Por meio das cooperativas, é possível realizar ações de educação básica ou cursos de capacitação profissional, estratégias coletivas de compras ou comercialização e discussão de iniciativas relacionadas às demais carências sociais e econômicas.
A busca pela sustentação da pecuária leiteira de pequeno e médio porte no Estado de São Paulo é complexa e desafiadora, por envolver diversas dimensões e variáveis que não dependem somente do produtor. Mas é certo que o cooperativismo é a melhor forma de atender aos requisitos de sustentabilidade desta atividade nas áreas econômica, social e ambiental.
* Marcelo Avelar é engenheiro agrônomo especializado em cooperativismo com ênfase em Administração e Finanças. É também presidente da Cooperativa Nacional Agroindustrial (Coonai) e membro do Conselho Diretor da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (OCESP).