Gestão da qualidade operacional na semeadura de grãos – Parte II

Nesta segunda parte da discussão, o Conceito de Eficiência aplicado nos sistemas operacionais na semeadura de grãos

Afonso Peche Filho e Roberto da Cunha Mello

Gestão da qualidade operacional na semeadura de grãos - Parte II Nesta parte II sobre gestão da qualidade na semeadura de grãos, abordamos o conceito de eficiência aplicado aos sistemas operacionais.

Eficiência pode ser entendida como a comparação dos resultados produzidos com os resultados que poderiam ser alcançados com os mesmos recursos. Com base nisso, a eficiência de uma operação agrícola pode ser calculada a partir da seleção de variáveis que caracterizam seu desempenho em produtividade com maior representatividade. 

A equação abaixo expressa numericamente o cálculo da eficiência em porcentagem.

Ef = V2 / V1 . 100
Ef  = eficiência
V1 = variável máxima que pode ser alcançada 
V2 = variável produzida   

O resultado do cálculo da eficiência é sempre um valor entre 0 e 1, podendo assim ser expresso em termos percentuais. 

Em operações agrícolas, sugerimos distinguir dois tipos de eficiência: a eficiência mecânica, que reflete a habilidade operacional de obter o máximo de desempenho dentro de parâmetros mecânicos clássicos para cada conjunto de equipamentos; a eficiência agronômica, ou a habilidade de produzir resultados agronômicos dentro de níveis aceitáveis pela análise de variabilidade.

As variáveis que caracterizam a eficiência mecânica sempre estão relacionadas com o desempenho funcional das máquinas durante a jornada operacional, portanto, a escala de trabalho é tempo, metro ou quilômetros percorridos durante toda operação, assim, podemos calcular a eficiência de deslocamentos, consumo, paradas e tempo, entre outros indicadores.

As variáveis que caracterizam a eficiência agronômica estão relacionadas com resultados agronômicos da interação máquinas/insumos/ambiente; a escala de trabalho é variável, partindo de metros lineares, metros quadrados  até hectares ou alqueires, quilos ou litros. Assim, podemos calcular a eficiência de falhas, perdas, plantas medíocres, plantas espetaculares, danos físicos visíveis e danos físicos invisíveis, entre outros.

A base do estudo de eficiência é a amostragem, daí vale a premissa de que quanto mais amostras mais representativo é o resultado. Para facilitar a adoção metodológica e ter uma segurança estatística, estabelecemos de maneira geral que 75 pontos de amostragem geram dados suficientes para análises de variabilidade, com cálculo do índice de eficiência acompanhado de um desvio padrão (DP) e um coeficiente de variação representativa.

Além disso, 75 pontos de amostragem permitem gerar bons dados para uso de tecnologia SIG e técnicas estatísticas do controle de qualidade. Quando os parâmetros forem subjetivos, sugerimos adotar uma escala de notas com valores de 1 a 5 para representar em números o potencial mínimo e máximo das variáveis; neste caso, valores entre 75 pontos mínimos e 375 pontos máximos, ou seja, para esses casos a eficiência varia entre 25% e 100%.

Semeadura: eficiência e competência 

A eficiência operacional da semeadura está relacionada com a capacidade do conjunto semeadora/trator/operador de construir linhas com fertilizantes e sementes dosados, posicionados e cobertos, atendendo a um padrão fiel da prescrição agronômica para a cultura; sem levar em conta as variações de solo e clima. A eficácia operacional da semeadura está relacionada com as condições em que as máquinas foram ou estão sendo disponibilizadas para o trabalho, bem como com a capacidade profissional do operador.

A busca pela competitividade e eficiência exige uma análise ampla de todo o processo operacional, permitindo visualizar os produtos positivos e negativos. Como positivos, obviamente, os acertos e o atendimento pleno da prescrição agronômica. Como negativos temos que admitir que produzimos defeitos, falhas, desperdícios e perdas, entre outros. Como resultado dessa análise determinam-se as ações de gestão para minimizar ou solucionar cada um desses problemas.

Num enfoque mais holístico podemos admitir que a operação de semeadura produz segmentos de linha contendo falha de sementes, falha de fertilizantes, falhas de sementes e fertilizantes, mistura de sementes com fertilizantes, sulcos abertos, sementes descobertas, enfim, uma série de defeitos que precisam de gestão para serem minimizados. O enfoque sistêmico permite análise em pontos considerados importantes na busca do aprimoramento do operacional da semeadura. Nesse enfoque, a semeadora deve ser analisada como um conjunto de componentes interagindo dinamicamente com os insumos num ritmo operacional imposto pelo operador. 

Na verdade, uma semeadora clássica, como é a para plantio direto, é um sistema composto por componentes com funções bem diferenciadas, cada qual interagindo com insumos e ambiente de maneira totalmente diferente, produzindo efeitos para construção da linha de plantio. Cada um desses conjuntos deve ter estratégias e táticas diferentes de gestão. 

A semeadora é uma máquina que apresenta pelo menos 10 conjuntos de componentes e, para cada um deles, existem elementos para a gestão operacional eficiente e competitiva. Para cada um desses conjuntos apontamos a seguir os principais pontos de atenção.

Pontos de atenção 

Gestão da qualidade operacional na semeadura de grãos - Parte II O conjunto para acoplamento e transporte normalmente apresenta componentes para engates mecânicos, engates hidráulicos, chassi e rodados. Nos engates mecânicos, a atenção deve recair para a condição das travas e presilhas de segurança. Nos engates hidráulicos, é importante verificar as condições de vedação dos protetores machos e fêmeas, verificar o estado funcional das travas de segurança, verificar a fadiga e desgastes em molas e esferas de aço e muita atenção para ações de controle da queda e, principalmente, aumento da pressão hidráulica. Com relação ao chassi, atenção para o funcionamento pleno dos componentes de apoio e descanso, bem como inspeção constante da pressão dos cilindros levantadores e componentes de fixação, desgaste e pressão dos pneus de transporte. 

Para o corte da palha e dos restos vegetais, a semeadora apresenta um conjunto composto por disco de corte, eixo e rolamentos de fixação, molas tensoras, peças de articulação e fixação. Os fatores de atenção para pleno funcionamento recaem sobre checagem de desgaste e fadiga dos componentes ativos como o disco, molas e rolamentos bem com inspeção de desempenho do giro livre do disco e facilidade de manipulação dos componentes de articulação e fixação.

Nas semeadoras de plantio direto, a profundidade do rompedor de solo não deve ultrapassar dez centímetros, para não provocar grandes fissuras e a formação de torrões na linha de plantio. É necessária também a inspeção no tubo condutor responsável pelo posicionamento do fertilizante no solo.

No conjunto de componentes responsáveis pela dosagem, distribuição e posicionamento de sementes, os fatores de atenção recaem para as condições de funcionamento pleno do dosador, visto que, pequenas peças que o compõem (molas, injetores e raseadores) sofrem, além de fadiga, constantemente da aderência de partículas oriundas do tratamento químico das sementes, prejudicando progressivamente o desempenho dos mesmos ao longo da jornada de trabalho.

Atenção com a semeadura

Outro fator de atenção importante é a verificação do nível de danos sofridos pelas sementes que passam pelo dosador, podendo ser classificados como danos visíveis e invisíveis. Danos visíveis são quebras, trincas e traumatismos vistos a olho nu nas sementes, enquanto danos invisíveis são traumatismos imperceptíveis, causados pelo mecanismo dosador, que prejudicam a germinação das sementes ou mesmo produzem plântulas debilitadas. É sempre bom lembrar como fator de atenção a posição da semente em relação ao fertilizante – ela deve estar sempre acima e ao lado da linha de fertilização.

A roda estabilizadora de profundidade é um importante fator de atenção, pois o seu desempenho influencia diretamente a qualidade de implantação da lavoura, portanto, a checagem de seu desempenho em giro livre antes de iniciar os trabalhos é fundamental. O acompanhamento com inspeções frequentes durante toda a jornada de trabalho passa a ser um forte fator de atenção pelo gerente e principalmente pelo operador.

O exame para avaliação dos diferentes tipos de molas que compõem uma semeadora é também um fator de atenção, que deve ser trabalhado no momento da revisão anual de manutenção. Toda mola ao longo do tempo vai perdendo a capacidade de expansão e compressão. Esse fenômeno é conhecido como fadiga e tira a versatilidade da mola em manter a posição do componente depois de regulado. Normalmente utilizamos os pesos (lastros) dos tratores para avaliar a capacidade de expansão.

O conjunto de componentes responsáveis pelo fechamento e compactação do sulco de plantio também é considerado como fator de atenção. Composto basicamente por mecanismos de regulagens e roda de solo, esse conjunto é responsável pela uniformidade de germinação das sementes bem como pela qualidade da emergência das plantas. O exame frequente das condições dos componentes de regulagens é fundamental, pois os mesmos trabalham forçados e em condições adversas. 

Os mecanismos de transmissão compõem um importante conjunto de componentes responsáveis pela harmonização entre a velocidade operacional, o funcionamento de dosadores e o fluxo de fertilizantes. O exame frequente do estado de funcionamento de correntes, engrenagens, buchas e rolamentos é outro fator de importância, pois um pequeno defeito pode causar um prejuízo enorme, comprometendo a eficiência do plantio e da lavoura.   

Da mesma forma que a transmissão, defeitos de lubrificação aparecem metro a metro e provocam avarias de grande intensidade no desempenho da máquina e na qualidade do plantio. O fator de atenção recai na constante verificação do desempenho funcional de bicos graxeiros, retentores e vedação eficiente de tampas e caixas de graxas.

O pleno funcionamento dos marcadores de linhas também é fator de atenção, pois são imprescindíveis para o alinhamento e paralelismo de linhas, contribuindo para aproveitamento eficiente da área e construindo passagens eficientes para operações como pulverizações e aplicação de fertilizantes.

A opção pela utilização de insumos de qualidade comprovada é uma garantia de lavouras eficientes e competitivas. Assim como é de suma importância a preparação do operador com profissionalismo.

Outros fatores também podem ser importantes na gestão da qualidade na semeadura e a incorporação deles na rotina operacional é estratégico para o aprimoramento contínuo da qualidade e consequente melhoria da eficiência e competitividade da mecanização agrícola. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  • FEIGENBAUM, A.V. Controle da Qualidade Total; Ed. Makron Books, São Paulo, v. 1, 2 e 3; 1994.
  • HUNT, D.V. Gerenciamento para a qualidade. LTC Editora S.A., Rio de Janeiro, 264p, 1994.
Afonso Peche Filho e Roberto da Cunha Mello são pesquisadores científicos – Instituto Agronômico

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