Aposta na tecnologia. Na opinião do agrônomo Evaristo Eduardo de Miranda, coordenador na Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais da Presidência da República e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), há limites para expandir a área plantada e aumentar a oferta do setor. “As propriedades rurais no Brasil perderam 45 milhões de hectares em 20 anos, e a redução de área tende a continuar: pelo menos mais 100 milhões de hectares poderão deixar de pertencer a propriedades rurais brasileiras em 30 anos”, disse.
Segundo Miranda, devem ainda contribuir para manter essa estimativa os empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as exigências do novo Código Florestal brasileiro, como a recomposição de reserva legal e de áreas de preservação permanente (APPs). “O novo Código Florestal exige que haja recomposição da reserva legal e das APPs. A demanda de terra para outras utilizações, como unidade de conservação e unidade indígena, é outro motivo”, acrescentou.
Na visão de Miranda, o desafio do agronegócio para continuar crescendo sem ocupar novas áreas é utilizar tecnologias, de modo a colher mais alimentos na mesma área plantada. No entanto, o pesquisador afirmou que o Código Florestal “não empurra” para o seu uso. “Não é qualquer agricultura que estamos propondo, é usar tecnologia. Na revisão do Código tem que prever o uso da tecnologia”, defendeu.
Já o engenheiro agrônomo Alexandre Mendonça de Barros, sócio-consultor da MB Agro, acredita que, após quase um século de predomínio de oferta da agricultura internacional, a demanda passou a ser direcionadora do mercado agrícola. “Os preços agrícolas se mantiveram estáveis nos últimos três anos. Contudo, o que permitiu ao Brasil atender a essa demanda foi o grande boom de investimentos de capital estrangeiro na expansão da área plantada”, afirmou. Hoje somos o país produtor mais preparado para atender à demanda mundial. “Não há dúvida de que o estímulo e o ganho derivado das novas tecnologias, além do fluxo de pesquisa nessa direção, favoreceram o crescimento do agronegócio brasileiro”, destacou.
Para Paulo Herrmann, vice-presidente para América Latina da John Deere, a tecnologia exerce um papel vital no aumento da produtividade, dada a importância específica do sistema de integração Pecuária-Lavoura- -Floresta. “Com ele, é possível ter três safras no mesmo ano”, lembrou. Entretanto, Herrmann adianta que é importante ter gestão, processo e qualidade dentro da propriedade rural. “Esses conceitos precisam chegar ao agricultor, porque plantar soja como era feito antigamente é bem diferente de plantar dois ou três tipos de cultura com ciclos mais curtos.”
Mas mudanças significativas na questão da infraestrutura e logística dependem de uma ação governamental, acredita José Ronaldo Vilela Rezende, sócio da consultoria PwC. “O governo precisa ter coragem para quebrar barreiras que impedem o avanço das obras e, com isso, agilizar os processos. Hoje, tudo é moroso e não dá para acreditar em mudanças repentinas para o próximo ano, mesmo diante de 200 milhões de toneladas previstas para a safra 2013/14, em condições normais”, acrescenta.
Para Jorge Karl, diretor-presidente da Cooperativa Agrária Agroindustrial, o Brasil perde oportunidades com o atraso na infraestrutura. “Além do modal de transporte rodoviário ser inadequado, o custo logístico é muito alto, de cinco a seis vezes mais caro se comparado ao do produtor nos Estados Unidos ou na Argentina. Por isso, os investimentos são necessários, urgentes”, conclui Karl. Já Julio Pizza, da Brasil Agro, aponta a atração de capital internacional como um dos caminhos para resolver os gargalos.
Em meio à apresentação de centenas de dados e críticas, o também engenheiro agrônomo e ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues promoveu seu desabafo. “Este assunto, como é sabido, está na pauta há vários anos. Congressos e mais congressos e nada de avançar”. Nas considerações finais, ele pediu uma ação mais prática e efetiva para a solução do problema: “O diagnóstico já foi feito. Precisamos de uma agenda formal para 2014, ano eleitoral”. Como sugestão, Rodrigues propõe a ABAG registrar em cartório o que os políticos prometerão fazer. Para ele, “as discussões em congressos estão se tornando inócuas. O momento agora é de participação efetiva, de construir, e não mais de ficar discutindo”, concluiu.