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Juros norte-americanos e petróleo: volatilidade pode chegar ao Brasil

De um lado, a taxa de juros dos papéis da dívida norte-americana passaram a operar no nível mais alto desde 2007; de outro, o petróleo passou por grande volatilidade

Os dois principais ativos transacionados nos mercados financeiros internacionais são os títulos da dívida norte-americana e o petróleo. Nas últimas semanas (em outubro), os mercados de ambos os ativos se movimentaram de forma intensa; de um lado, a taxa de juros dos papéis da dúvida norte-americana passaram a operar no nível mais alto desde 2007, tornando os demais ativos financeiros menos atraentes para os investidores e; de outro lado, o petróleo passou por grande volatilidade (sem direção bepor Felippe Serigatie Roberta Possamai – Os dois principais ativos transacionados nos mercados financeiros internacionais são os títulos da dívida norte-americana e o petróleo. Nas últimas semanas (em outubro), os mercados de ambos os ativos se movimentaram de forma intensa; de um lado, a taxa de juros dos papéis da dívida norte-americana passaram a operar no nível mais alto desde 2007, tornando os demais ativos financeiros menos atraentes para os investidores e; de outro lado, o petróleo passou por grande volatilidade (sem direção bem definida) desde os atritos envolvendo o Hamas (grupo terrorista alocado na Faixa de Gaza) e o exército de Israel.

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Os movimentos desses dois ativos principais influenciaram (ou tem o potencial de influenciar) o comportamento de diversos outros ativos, como as taxas de câmbio de países emergentes e as commodities agropecuárias. Embora ainda não estejam claras quais são essas novas tendências, já é possível desenhar cenários importantes para o agro brasileiro.

EUA: juros de mercado em patamares históricos

A taxa de juros dos títulos da dívida norte-americana de 10 anos está operando no maior patamar desde outubro de 2007 – ou seja, anterior à deflagração dos piores momentos da crise financeira de 2008. Antes de detalhar os fatores que explicam por que a taxa de juros desses papéis está nos maiores patamares dos últimos 17 anos, é fundamental deixar claro a relação inversa entre o preço de mercado de um título e sua respectiva taxa de juros: quanto mais barato estiver um título (ou seja, menor o seu preço), maior o retorno potencial que ele pode proporcionar (ou seja, maior a sua taxa de juros).

Juros norte-americanos e petróleo: volatilidade pode desembarcar no BrasilApresentada a relação entre preço de mercado e a taxa de juros de um título, por que a taxa de juros de 10 anos da dívida norte-americana está tão alta?

Em seu esforço para controlar a inflação, o Banco Central dos EUA está elevando a taxa de juros básica daquela economia (a Fed Funds). No momento em que esse artigo é escrito, a taxa de juros básica efetiva dos EUA está em 5.33% a.a., apenas ligeiramente inferior ao pico de fevereiro de 2007 (5.41% a.a.). Caso esse último valor seja superado (como sugere as projeções de mercado), os EUA operarão com a sua taxa de juros no nível mais alto desde o início do ano de 2001. Quando o Banco Central eleva a taxa de juros básica da economia, todas as demais taxas tendem a acompanhar, inclusive dos papéis com prazo de vencimento mais longo, como os títulos de 10 anos da dívida norte-americana.

Desde o início da pandemia, o Banco Central dos EUA injetou muita liquidez na economia (ou seja, imprimiu e transferiu dólares para o mercado). Essa injeção de liquidez acontece quando o Banco Central compra títulos das instituições financeiras; ele adquire os títulos e faz o pagamento em dinheiro, ampliando as reservas de dólares dessas instituições. Passada a pandemia, esse processo de injeção de liquidez precisou ser revertido. Ao longo do ano de 2023, o Banco Central dos EUA está vendendo para as instituições financeiras os títulos que ele havia comprado, recebendo o pagamento em dinheiro e, portanto, reduzindo as reservas de dólares dessas mesmas instituições. Conforme há uma quantidade maior de títulos da dívida norte-americana no mercado, menor o preço desses papéis e maior a sua taxa de juros;

China, Japão e Arábia Saudita, entre outras economias, estão reduzindo os estoques de dívida norte-americana de suas reservas internacionais. China e Arábia Saudita estão se desfazendo desses papéis com o objetivo de diminuir a sua exposição ao risco de arbitrariedades dos EUA. Após os EUA terem “confiscado” as reservas russas no início da guerra da Ucrânia, diversos países passaram a ficar preocupados com a possibilidade de ter suas reservas também congeladas caso desagradem algum interesse dos EUA e adotaram a política de irem paulatinamente reduzindo a participação dos títulos da dívida dos EUA nos ativos que compõem as suas reservas internacionais. Naturalmente, conforme esses papéis são vendidos, menor fica seu preço no mercado e, por fim, maior a respectiva taxa de juros.

Como descrito anteriormente, há toda uma conjuntura empurrando o preço dos títulos da dúvida norte-americana para baixo (e, portanto, empurrando a sua respectiva taxa de juros para cima). Dado que esses papéis são considerados ativos de baixo risco (ao menos, para o setor privado e para os aliados dos EUA), quando eles ficam mais rentáveis (mais baratos e, portanto, proporcionando uma taxa de juros mais elevada), diversos outros ativos ficam menos chamativos. Essa dinâmica vale para ações, títulos privados, ativos de economias emergentes e commodities. Por exemplo, a alta nos juros norte-americanos acaba impondo uma espécie de teto para a redução da Taxa Selic aqui no Brasil; a taxa de juros brasileira não pode ser reduzida ao ponto de ficar mais atraente investir nos EUA do que deixar o capital por aqui.

Petróleo: elevada volatilidade (dos estoques norte-americanos aos atritos no Oriente Médio)

O mercado do petróleo é bastante sensível às perspectivas de crescimento da economia global (se há a projeção de que o mundo vai desacelerar, as cotações do petróleo passam a operar em níveis inferiores, e vice-versa) e aos fatores geopolíticos em importantes regiões produtoras (desde a Guerra da Ucrânia até os atritos envolvendo o Hamas e o exército de Israel). Além disso, para manter a cotação do petróleo em patamares adequados, os países produtores, especialmente aqueles representados pela OPEP+, podem combinar um aumento ou uma redução na produção diária de barris.

Juros norte-americanos e petróleo: volatilidade pode desembarcar no Brasil

Com os atritos entre o Hamas e o exército de Israel, a cotação do petróleo passou a operar com grande volatilidade, mas sem uma tendência definida. No momento em que esse artigo é escrito, a cotação do petróleo Brent continua a operar na faixa entre US$ 80/barril e US$ 95/barril, tal qual observado desde o início de julho, com exceção de alguns breves períodos. Todavia, é fundamental recordar que esse mercado tem operado com elevado nível de estresse, seja devido aos conflitos bélicos, seja devido à incerteza com relação à velocidade com que a economia mundial deverá desacelerar e com a decisão de cortes da produção diária de barris (principalmente, pela Arábia Saudita):

  • Caso os conflitos bélicos fiquem ainda mais turbulentos, a cotação do petróleo deve subir;
  • Caso o cenário de desaceleração da economia mundial se agrave (seja devido à elevação do juros dos EUA, ao desaquecimento da economia chinesa ou aos efeitos de segunda ordem das próprias turbulências geopolíticas), há espaço para redução da cotação do petróleo;
  • Ainda assim, os países-membros da OPEP+ podem decidir ajustar a sua produção para tentar manter a cotação do petróleo no nível que eles desejam.
O Agro pode passar ileso, mas é bom ficar atento

De forma mais imediata, o principal canal de transmissão dessas turbulências no cenário internacional para o universo agro é a taxa de câmbio brasileira. Caso aumente a aversão ao risco no mercado internacional (por exemplo, com a deterioração dos atritos geopolíticos) ou a taxa de juros nos EUA passe a operar em patamares ainda mais altos, a taxa de câmbio aqui no Brasil tende a subir.

Outro canal de transmissão importante é a influência da cotação do petróleo sobre os custos de produção do universo agro. Embora possa haver alguma defasagem na transmissão desse choque de custos, em geral, o agro tem grandes dificuldades para repassar um aumento de despesas para o consumidor final (seja quem ele for). Com isso, via de regra, um choque adverso de custos resulta em compressão de margens para o setor.

Por fim, há pressões baixistas para as cotações das commodities agrícolas, seja do lado financeiro (como a elevação da taxa de juros nos EUA), seja do lado macroeconômico (via desaquecimento da economia mundial), seja do lado dos fundamentos (das grandes commodities agrícolas, talvez apenas açúcar, algodão e arroz acumulam alta em dólares em 2023).

 

¹ Doutor em Economia pela Escola
de Economia de São Paulo (EESP/FGV), professor e pesquisador do Centro
de Agronegócios da FGV (FGV Agro). felippe.serigati@fgv.br

² Mestre em Agronegócios pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV) e pesquisadora do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro). roberta.possamai@fgv.br

 

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