Essa redução no teor de açúcares se deve ao efeito da geada não prevista na primeira estimativa, ao avanço da colheita mecanizada e ao clima mais chuvoso em maio e junho deste ano. Além disso, variáveis de menor expressão como a infestação de pragas (broca e cigarrinha, principalmente) e o prejuízo causado por doenças como a ferrugem alaranjada contribuíram, ainda que de forma pontual e com menor peso, para a retração na qualidade da matéria-prima em algumas áreas.
Em relação ao efeito do clima, os dados apurados pelo CTC comprovam que o índice de precipitação pluviométrica para a região produtora de cana registrou valor significativamente elevado em maio e junho: atingiu 106,70 milímetros em maio e 102,60 milímetros em junho desse ano, volumes superiores a média histórica em 64,15% e 150,24%, respectivamente. Essa condição alterou a evolução natural de maturação de algumas variedades, que voltaram a vegetar em um período do ano normalmente seco, e provocou um atraso significativo no ritmo de moagem nesse período.
No caso da geada, observou-se um estímulo à concentração de açúcares na planta nas poucas regiões em que a severidade do fenômeno foi baixa. Entretanto, a maior parte dos canaviais acometidos pela intempérie climática exigiu das unidades produtoras o corte imediato destas áreas impactadas, comprometendo o cronograma de colheita e, consequentemente, o teor de açúcares na planta.
O diretor Técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, explica que “quando os efeitos da geada causam queima de tecidos e morte de meristema, as usinas são obrigadas a colher rapidamente as áreas impactadas, tendo, por exemplo, que cortar áreas com variedades tardias mais cedo, quando a planta não apresenta concentração ótima de ATR”.
Essas alterações promovidas no cronograma de colheita também prejudicam a produtividade agrícola das áreas colhidas antecipadamente. Contudo, a retração na oferta de cana-de-açúcar nessas regiões não foi suficiente para reduzir a moagem total esperada para o Centro-Sul, pois houve um aumento significativo da produtividade nas áreas colhidas até o momento, decorrente do canavial mais jovem e da melhor condição climática observada na maior parte das lavouras.
De fato, dados apurados pelo CTC mostram que no acumulado desde o início da safra até setembro deste ano, o rendimento agrícola médio da área colhida na região Centro-Sul do País estava 10,28% superior aquele observado no mesmo período da safra passada: 83,7 toneladas por hectare este ano, contra 75,9 toneladas por hectare em 2012/2013.
A estimativa é de que a produtividade agrícola ao final da safra 2013/2014 não fique aquém das cerca de 80 toneladas por hectare estimadas em abril deste ano, mesmo considerando que nos últimos meses de colheita geralmente se observa uma retração neste indicador devido ao corte de áreas mais velhas.
O diretor da Unica ressalta que “essa nova estimativa de safra considera um clima mais próximo da normalidade até o final do ano, com chuvas mais intensas em outubro. Entretanto, dependendo das condições climáticas nos próximos três meses, podemos ter uma moagem próxima de 580 milhões de toneladas no caso de um clima mais chuvoso ou, em uma situação mais seca e menos provável, um volume processado superior a 587,00 milhões de toneladas de cana, já que a quantidade de cana disponível para colheita é ligeiramente superior a 600 milhões de toneladas”.