Por Leonardo Gottems
Tecnologia permite automatizar processos e acessar informações remotamente
A agricultura foi inventada e reinventada inúmeras vezes durante a história da humanidade e, agora, tem um novo capítulo revolucionário sendo escrito. A arte de plantar e colher vem sendo acompanhada de perto pela tecnologia e também pela transformação digital.
“Hoje já não existe mais separação entre os mundos físico e virtual, conectados para facilitar a vida das pessoas. Por trás dessa ideia está o conceito da Agricultura 4.0, também chamada de agricultura digital, uma clara referência à Indústria 4.0, inovação que teve início na indústria automobilística alemã e que agora conquista fábricas de diversos segmentos devido à completa automatização nos processos produtivos”, explicam as pesquisadoras Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá e Maria Angelica de Andrade Leite, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Umas destas “tecnologias” é a telemetria, que consiste na coleta e no compartilhamento remoto de dados sobre equipamentos, veículos e máquinas. De acordo com a Jacto, empresa brasileira referência na fabricação de implementos agrícolas, o uso da telemetria na agricultura de precisão consiste em um conjunto de hardware conectado a sensores embarcados nas máquinas, como sensores indutivos, capacitivos, de temperatura, de umidade relativa, de pressão de óleo e GPS.
“Esse recurso ajuda o produtor a fazer um diagnóstico completo da lavoura e a implementar ações que otimizem as operações. Dessa forma, o sistema pode aumentar a produção e a produtividade e gerar uma redução de custos de 3% a 15%. Isso é possível graças às informações retiradas do campo, como dados sobre o maquinário e as condições do solo e clima, que são monitoradas a todo o momento, servindo de base para a tomada de decisão”, diz a empresa.
Um exemplo disso é o processo de pulverização. Nele, é possível promover uma aplicação homogênea e em condições que favoreçam o controle. “O gasto de combustível dos veículos também pode ser gerenciado. Caso ocorra um uso além da média, o equipamento deve ser enviado para manutenção a fim de evitar desperdícios”, completa a Jacto.
A empresa lembra que a telemetria pode ser utilizada para monitorar dados operacionais da máquina, que vão desde saber qual a uniformidade da aplicação do defensivo até a quantidade da área sobreposta, as condições climáticas no momento da pulverização.
“As informações coletadas do campo por meio de componentes de hardware precisam de uma ferramenta eletrônica para serem armazenadas, analisadas e visualizadas. Então, se deseja utilizar telemetria em seu negócio, será necessário contar com uma plataforma de gerenciamento”, complementa a Jacto.
Como todas as tecnologias que surgem, a telemetria também levanta suspeitas sobre o seu uso, sua necessidade e também os seus pontos positivos e negativos. Nesse cenário, a empresa Datatem, que surgiu em 2012 para atuar com telemetria e Internet das Coisas (IoT), listou uma série de vantagens e desvantagens sobre o tema.
Vantagens x desvantagens
O principal empecilho citado pela Datatem é o alto custo dos equipamentos e softwares, que exigem um grande investimento e pessoas qualificadas para operar os sistemas. Além de possuir conectividade, o agricultor terá de instalar diversos equipamentos necessários e também tera que aprender a operá-los, o que pode ser mais difícil para pessoas com menos instrução escolar e também tecnológica. “Entretanto, o retorno que se tem sobre o investimento é muito grande, visto que a telemetria aumenta a produtividade e reduz os custos de diversas operações”, pondera a empresa.
Além disso, outro ponto negativo é a conectividade nas áreas rurais brasileiras, que é inexistente em grande parte do País. “Boa parte da comunicação entre máquinas que acontece na lavoura se dá através da rede GPRS (2G, 3G e 4G), com chips M2M instalados nos sensores e máquinas. A rede GPRS nada mais é do que a rede de telefonia celular móvel do Brasil. Então, ela costuma ser a escolha mais comum para a telemetria na agricultura, devido a sua cobertura nacional e seu baixo custo em relação a outros tipos de conectividade. Entretanto, dependendo da operadora, o nível de sinal em regiões rurais muitas vezes acaba não sendo bom, o que pode comprometer a automatização dos processos agrícolas”, explica.
As pesquisadoras da Embrapa explicam que “a dificuldade para acessar a Internet ainda é um dos limitantes para o avanço dos aplicativos móveis no meio rural. Entretanto, os indicadores de uso vêm melhorando ao longo dos anos. A pesquisa TIC Domicílios 2015, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), apontou avanço do uso dos telefones celulares para acessar a Internet tanto no meio rural quanto no meio urbano. De acordo com a pesquisa, em 2015, a proporção de indivíduos que possuiam telefone celular na região urbana era de 86%, e na rural, de 71%. Destes, 90% já acessaram a Internet na região urbana e 85% na região rural”, complementam.
O meio ambiente, segundo elas, também não fica de lado com o surgimento da telemetria, já que com “a telemetria incorporada nos processos de produção agrícola, há uma gestão melhor dos recursos utilizados, como água e fertilizantes. Então, os desperdícios são minimizados e o impacto que a agricultura causa no meio ambiente também. Sem contar que, com as máquinas conectadas a um único sistema, é possível saber por onde cada uma passou e evitar a aplicação desnecessária de insumos e defensivos em uma mesma área. Além de economizar recursos, isso contribui para uma maior longevidade do solo”.
“A telemetria na agricultura torna o processo de cultivo muito mais produtivo, preciso e inteligente, elevando todos os resultados da produção”, completam.
Como a telemetria consegue recolher imensas quantidades de dados de uma lavoura, a técnica utiliza a Big Data para interpretar esses dados. Big Data nada mais é do que a interpretação de grandes volumes de dados, segundo a engenheira agrônoma Ana Lígia Giraldeli, que é mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios, além de professora da UNIFEOB. “Os principais aspectos do Big Data são definidos pelos 5 Vs: Volume, Variedade, Velocidade, Veracidade e Valor. Os aspectos de Volume, Variedade e Velocidade, referem-se à grande quantidade de dados não-estruturados. Estes dados precisam ser analisados com as soluções de Big Data em grande velocidade e, em sua maioria, em tempo real. A Veracidade nos diz que as fontes e a qualidade dos dados precisam ser confiáveis. O V de Valor se refere aos benefícios que essas soluções de Big Data vão trazer para sua empresa”, conceitua ela.
Na agricultura, explica a especialista, o Big Data pode auxiliar na interpretação dos dados meteorológicos: “Com a interpretação correta de dados sobre a previsão meteorológica, o agricultor consegue administrar outras operações como a semeadura, a colheita, a irrigação e as aplicações de defensivos agrícolas. Outro exemplo que podemos citar da agricultura digital são as tecnologias que garantem o ajuste das doses de fertilizantes que são aplicados, o que reduz custos e perdas”.
“Com a correta interpretação dos dados levantados é possível otimizar processos na lavoura, reduzir custos e tomar decisões mais assertivas sobre os manejos. Também vimos que com o aplicativo de controle e gestão agrícola, consegue-se gerenciar diversos dados coletados do campo”, conclui.
Revolução agrícola
De acordo com Benjamin Cusit, gerente Geral do Colven Brasil, assim como inicialmente a mecanização revolucionou o agronegócio mundial, nos dias de hoje a Telemetria vem para revolucionar a máquina e a produção. “Uma atividade agrícola, seja plantio, pulverização ou colheita, todas estão sujeitos a muitas variáveis, trazendo muitos custos, ocultos ou conhecidos, mas sem a ferramenta para realizar a gestão certa da atividade”, aponta ele.
“É aí que aparecem as verdadeiras vantagens que a Telemetria traz para a agricultura mecanizada atual. Facilita o gerenciamento dos dados das atividades que acontecem no campo (em tempo real ou em alguns casos informações após dos trabalhos realizados), permitindo estes dados realizar, e ter precisão nos ajustes, alguns até em tempo real. Com isso se consegue o controle total da operação, fator clima, máquina ou humano, e assim focar os esforços em melhorar a qualidade das operações, realizar um trabalho com maior eficiência e isto se transforme no resultado final de maior produtividade, não só da produção em quilos, mas também da atividade realizada”, explica.
“Com a instalação de produtos e serviços nossos parceiros têm experiências únicas de baixa nas manutenções, aumento da produtividade e gestão total das atividades”, garante o gerente. De acordo com ele, a Colven Brasil prepara mais dois lançamentos: “O principal é o novo portal agrícola de telemetria GESTYA. Maiores informações, simplificação dos processos de gerenciamento de todas as unidades dentro da fazenda, controle total das manutenções, dashboards customizados para cada cliente, e muito mais. Também, estamos trabalhando em conjunto com uma empresa parceira, para o lançamento de um sistema de telemetria por sinal de rádio, para levarmos nossas tecnólogas até aquelas fazendas que hoje não tem conectividade no momento. Um processo interno que chamamos de democratização da telemetria”, conclui Benjamin Cusit.