Brasil é o terceiro maior produtor de feijão, cultivado principalmente nos estados do Paraná, de Minas Gerais e da Bahia
por Gustavo Paes – O feijão vem perdendo espaço para commodities como soja e milho, culturas que são mais rentáveis por serem voltadas para a exportação, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
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Nos últimos 16 anos, a produção de feijão diminuiu 21% no Brasil. Enquanto a produção de soja cresceu 159% e a do milho 138%. A área plantada também caiu. Nos últimos 12 anos, o feijão perdeu cerca de 1,2 milhão de hectares em razão da menor rentabilidade na comparação com as culturas que competem por área.
O maior recuo pode ser percebido no Nordeste, onde foi registrada uma queda de cerca de 33% na região. Porém, segundo a Conab, os agricultores deverão destinar maior área para semeadura de feijão na Safra 2023/24. Segundo estimativas, a área plantada do grão deve avançar 1,9%, pela primeira vez desde a safra 2016/17.
A produção de feijão somou 3 milhões de toneladas na safra 2022/23, uma alta de 1,7% em relação à temporada anterior. Já dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, hoje, a produção anual de feijão no País é de R$ 12 bilhões por ano, chegando a 2,8 milhões toneladas. Nos principais estados produtores nesse período (Paraná, Minas Gerais e Bahia) houve boas condições climáticas durante as fases mais críticas da evolução da cultura, permitindo alcançar um rendimento médio superior ao da temporada anterior. Apesar disso, a área plantada caiu 5,8%.
Irrigação
Os custos de produção elevados aliado ao alto risco de plantio e de comercialização, além da menor rentabilidade quando comparada a outros produtos como soja e milho, têm influenciado na área cultivada. “O produtor vem reduzindo a área plantada nos últimos anos devido à concorrência com a commodities e também porque o cultivo de feijão envolve riscos. Se chove, ele perde valor comercial”, avalia o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), Marcelo Eduardo Lüders.
Em setembro, a entidade promoveu, no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília (DF), o 9º Fórum do Feijão. O evento discutiu a diversificação com foco na exportação e o incentivo ao uso da irrigação na cultura. A adoção de sistemas de irrigação vem crescendo a cada ano e cerca de 30% das lavouras de feijão já são irrigadas, conforme Lüders. “A prática evita uma explosão de preços do produto no segundo semestre”, enfatizou.
O dirigente também ressaltou que o cultivo da leguminosa deixou de ser uma atividade predominantemente de pequenos e médios agricultores e, hoje, é também de larga escala. “Atualmente, 80% da lavoura de feijão é cultivada por grandes produtores, que usam cultivares adaptadas à colheita mecanizada e máquinas com muita tecnologia embarcada”, sublinha.
Além das condições climáticas e do melhor manejo nas lavouras pelos produtores, a pesquisa de novos tipos de sementes tem influenciado nas produtividades da cultura.
“O setor vem investindo em tecnologia desenvolvendo cultivares mais produtivas e de escurecimento lento, o que garante uma produção de forma a atender a demanda doméstica, ao mesmo tempo em que tende a facilitar a armazenagem do produto”, observa o analista de mercado João Figueiredo Ruas, da Conab.
Evolução
A mecanização da colheita do feijão no Brasil, no entanto, é recente. Até o começo da década de 1980, toda a produção era colhida de forma manual. Foi só a partir dali que algumas empresas começaram a fazer pesquisas – principalmente a Máquinas e Indústrias Colombo – e desenvolveram máquinas específicas, conforme o pesquisador José Geraldo da Silva, da Embrapa Arroz e Feijão, de Santo Antônio de Goiás (GO).
Segundo ele, os primeiros equipamentos para ceifar ou arrancar as plantas de feijoeiro tinham lâminas, discos, correias e barra de corte giratória ou serrilhada. As ceifadoras de lâminas eram acopladas na dianteira ou na traseira do trator e possuíam entre duas e oito lâminas, dispostas em ângulo para cortar o solo e arrancar as plantas, semelhante a um arado. Os equipamentos de disco eram acionados por motores hidráulicos, um para cada linha do feijoeiro-comum, e tinham sentido de giros contrários, permitindo juntar as plantas ceifadas de duas linhas numa leira. Eram dispostos na dianteira do trator ou entre os eixos.
Também existiram ceifadoras que, ao serem empurradas pelos tratores, giravam os discos livremente, cortando as plantas. Nas ceifadoras ou arrancadoras de correia o princípio de trabalho baseava-se na movimentação de duas correias paralelas, uma em sentido oposto à outra, para prender entre si as plantas e arrancá-las do solo.
Já as ceifadoras de barra giratória eram montadas na traseira do trator e possuíam até duas barras de ferro quadradas, com comprimento suficiente para operar em três ou quatro fileiras de plantas. As barras giravam abaixo da superfície do solo, acionadas pela tomada de potência do trator para arrancar as cie do solo, acionadas pela tomada de potência do trator para arrancar as plantas.
Já os equipamentos com barra de corte serrilhada, sem flexão para acompanhar as ondulações do terreno, eram compostos de navalhas serrilhadas com movimentos alternativos. Todos esses equipamentos foram considerados inadequados para o feijoeiro por apresentarem baixo desempenho, principalmente ocasionando elevada perda de grãos. E, mesmo possuindo bom desempenho, alguns desses equipamentos não eram indicados para muitas áreas, como àquelas sob o Sistema Plantio Direto, por mobilizarem muito o solo. “Aquelas primeiras máquinas arrancavam toda a planta, como se fossem um arado. Hoje, certamente seriam proibidas”, lembra Silva.
Ainda na década de 1980, começaram a ser fabricadas as primeiras recolhedoras trilhadoras, tracionadas por trator e providas de cilindro de trilha axial de plantas. Esse mecanismo de trilha proporcionava melhor qualidade dos grãos colhidos quanto aos menores percentuais de danos mecânicos e de impurezas, quando comparado com as colhedoras automotrizes de trilha radial existentes. O desempenho superior da trilha axial na cultura resultou em grande aceitabilidade dessas máquinas pelos agricultores e, atualmente, estão presentes em muitas propriedades do Brasil em que se cultiva feijão.
Na década de 1990 surgiram as colhedoras automotrizes, com barra de corte flexível e cilindro de trilha axial e desempenho bem superior às colhedoras convencionais com barra de corte rígida e cilindro de trilha radial, representando um avanço tecnológico nos processos de colheita do feijão. Nessas máquinas foi introduzido um conjunto de peças denominado “kit feijão”, que permitia menor perda de grãos, menos impurezas e danos mecânicos durante a operação de colheita.
Na década de 2000 foram desenvolvidas as máquinas ceifadoras enleiradoras de plantas, que operam acopladas em uma colhedora automotriz convencional, após a retirada da plataforma, ou acoplada na lateral de um trator.
“O mecanismo de corte, formado por barra flexível com navalhas serrilhadas, ceifa as plantas de feijoeiro próximo ao solo, enquanto a plataforma recolhedora, com pinos metálicos retráteis, recolhe e direciona as plantas ceifadas para a esteira transportadora, formando uma leira”, ensina.
Na operação, a máquina é transportada por quatro rodas que a mantém regulada distante do solo, permitindo que somente a barra flexível deslize no terreno, o que evita o revolvimento do solo.
O pesquisador observa que a mecanização do feijoeiro, nas diferentes épocas de cultivo, não apresenta inconveniente para a realização das operações que antecedem a colheita, pois podem ser utilizados equipamentos comuns às outras culturas, como arroz, milho e soja, para preparo do solo, semeadura e tratos culturais. Porém, diversos fatores relacionados com o tipo de planta e manejo empregado no plantio e na colheita, entre outros, têm impedido o emprego direto das colhedoras convencionais.
Para mecanizar a colheita, com baixo percentual de perda de grãos, são necessárias plantas de feijão com porte ereto, boa altura de inserção das vagens, uniformidade de maturação e resistência ao acamamento e à deiscência das vagens em condições de campo. “A colheita mecanizada do feijão é uma prática comum em lavouras de médio e grande porte. Mas requer cuidados especiais, porque muitas vagens situam-se próximas ao solo, fora do alcance das lâminas de corte das máquinas, causando perda significativa de grãos na operação e um obstáculo para a mecanização”, afirma Silva. “Este problema é agravado, interferindo no desempenho das colhedoras, se, após o plantio, o terreno ficar rugoso, mal nivelado e com sulcos”, completa.
As perdas, que podem chegar a 15%, não são o único desafio a ser solucionado na colheita mecanizada do feijão. Pelo fato de operarem próximas ao solo, as colhedoras captam muita terra, a qual acaba por sujar os grãos, durante a trilha. Para evitar a sujeira, o operador mantém a plataforma mais afastada do solo, deixando de colher parte significativa das plantas. “As colhedoras modernas contam com plataformas de corte flexíveis, de 4, 6 ou 9 metros de largura, e um conjunto de acessórios para reduzir os danos e a mistura de terra aos grãos”, salientou.
O supervisor de Marketing da Colombo/Miac, Leonardo Lopes, destaca que as colhedoras utilizadas na colheita do feijão evoluíram muito nos últimos anos, especialmente no baixo percentual de perdas de grãos, aumentando a produtividade. As máquinas permitem colher com alto rendimento operacional sem perda da qualidade final dos grãos, segundo ele. “As nossas colhedoras estão sempre em constante evolução, fator importante e que faz parte do DNA da marca”, observa.
Pulverização
Dentre as máquinas utilizadas no manejo da cultura estão os pulverizadores de alta precisão, que são empregados para a aplicação de defensivos. O gerente de Negócios da Jacto, Paulo Henrique Machado Silveira Bueno explica que o feijão é uma cultura que exige várias entradas do pulverizador na lavoura para fazer o controle químico de pragas, doenças, insetos ou diversas outras ameaças. “O manejo é parecido com o da soja e exige cerca de 27 operações na lavoura”, detalha.
A marca produz pulverizadores tratorizados e automotrizes que atendem desde o pequeno ao grande produtor. O pequeno produtor conta com a linha de equipamentos acoplados ao terceiro ponto do trator. Já o médio produtor tem à disposição os pulverizadores puxados por tratores. “Eles têm tanques com capacidade de 2 mil a 3 mil litros e barras de aplicação de 14 a 24 metros”, destaca o gerente de Negócios.
Já os pulverizadores automotrizes são voltados para agricultura empresarial e possuem tanques de 4,5 mil litros de capacidade. As barras de aplicação chegam até 42 metros. Essas máquinas são as que mais sofreram alterações e incorporaram tecnologias de ponta, como a Agricultura de Precisão, em que a aplicação dos insumos é realizada de forma localizada e a taxa variável, buscando redução de custos e atingir o máximo potencial produtivo.
O pacote tecnológico provocou mudanças no maquinário. Nos primórdios, as maiores dificuldades eram a precisão e qualidade na aplicação, assim como rendimento e segurança ao operador. Inicialmente, os pulverizadores realizavam a demarcação da largura de pulverização por meio da contagem das fileiras da cultura, evoluindo posteriormente para marcação por meio de marcadores de espuma e na sequência para o DGPS equipado com barra de luz.
“Hoje eles contam com piloto automático e GPS”, ressalta o executivo. Bueno lembra que, há dois anos, a Jacto apresentou a tecnologia PWM (Pulse Width Modulation) para pulverização automotriz. Trata-se de uma solução de controle de vazão nos bicos que permite manter o tamanho das gotas mesmo com as variações de velocidade da máquina e realizar a compensação da vazão durante a pulverização em curva. “Integrada ao sistema bico a bico, essa tecnologia faz a gestão automática da operação, sendo acionada somente quando necessária”, observou.
Em operações onde o talhão permite a velocidade constante, o sistema trabalha como se fosse uma pulverização normal. Em posição onde é detectada a variação de velocidade, o sistema automaticamente responde com controle de vazão adequando o PWM à nova condição de velocidade. “Com isso, a pulverização fica mais eficiente e com tamanho de gota dentro do especificado”, sublinha.
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