Por Viviane Taguchi
Mercado de drones cresce exponencialmente em todo o mundo, e a agricultura representará a maior parte das vendas nos próximos anos
O Brasil está na lista de pessoas que mais consomem drones no mundo, mas ainda longe dos Estados Unidos que, em 2021 devem comercializar quatro milhões de unidades de drones e movimentar cerca de US$ 82 bilhões até 2025, segundo estimativas da Federal Aviation Administration (FAA). A instituição também estima que será a agricultura o setor responsável por 80% das vendas de drones na América do Norte. Por aqui, as vendas de drones devem atingir 400 mil unidades neste ano, o que representa um aumento considerável em relação a 2019, quando foram comercializadas 71 mil unidades.
Mas na era das fazendas conectadas, a tendência é seguir o caminho dos americanos. No campo, os drones estão gerando milhares de informações, de forma rápida e assertiva, com sensores inteligentes que cumprem tarefas no dia-a-dia, na agricultura e na pecuária. “O drone é uma ferramenta auxiliar, mas muito importante para a tomada de decisões”, afirma o pesquisador Lúcio André de Castro Jorge, da Embrapa Instrumentação, de São Carlos, interior de São Paulo. “Com a tecnologia embarcada nesses equipamentos, é possível obter informações precisas e adotar manejos mais eficientes com a agricultura de precisão”.
Um levantamento realizado pela consultoria McKinsey&Company, mostra que a aplicação de insumos em taxa variável (VRA) e os drones foram as tecnologias mais adotadas pelos produtores rurais brasileiros em 2020. A empresa ouviu 750 produtores em 11 Estados e 53% deles afirmaram que já utilizaram pelo menos uma tecnologia ou estão dispostos a adotar pelo menos uma nas próximas duas safras. “É um segmento que vai crescer muito, tem demanda enorme e são esperados ganhos de produtividade, redução de custos, mudanças gerenciais da fazenda com o uso de drones. A tecnologia está em todas as áreas”, afirmou Jorge, que atualmente coordena um estudo com “enxames de drones” no campo.
A demanda por drones tem sido tão crescente que na segunda semana de janeiro, uma startup mineira que utiliza drones, satélites e análises de solo para mapeamento de propriedades recebeu o aporte de R$ 1 milhão, em uma rodada liderada pela Domo Invest e Silver Angels. Através de dados coletados pelo drone, cruzados com uma rede de dados e informações, especialistas realizam análises capazes de identificar a variabilidade do estado nutricional da plantação, mapear a fertilidade do solo, quantificar a população de plantas, detectar plantas daninhas e pontos de incidência de pragas ou doenças e identificar áreas mais produtivas que outras. A startup atende hoje grandes empresas do agronegócio, como a Raízen, Philip Morris International, Algar Farming, Bayer, Sumitomo Chemical e Pedra Agroindustrial.
“Zangão”
Drones, que em inglês quer dizer Zangão, são veículos aéreos não tripulados (VANT) regulamentados pela Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC), que estabelece regras para seu uso de acordo com modelos, finalidade, peso. No campo, esse pequeno robô voador capaz de enxergar o que o olho humano jamais conseguiria tem feito um trabalho incrível: sobrevoos de áreas plantadas, mapas topográficos, mensuração, divisão de talhões, planejamento de curvas de nível. Mas especialistas apontam que são atividades como controle biológico de pragas e pulverizações que mais movimentam o mercado. “Com os veículos de pequeno porte é possível sobrevoar áreas de difícil acesso, realizar a pulverização localizada em locais com falha de controle, não causar o amassamento da cultura”, diz Jorge.
Veículo não tripulado e a AP
O sobrevoo do drone em uma lavoura permite que o equipamento envie para o sistema da fazenda, informações completas sobre toda a área produtiva e também, sobre rebanhos de criação. O aparelho, que tem um sensor poderoso, protegido por uma plataforma, normalmente utiliza câmeras RGB, que captura imagens de espectro visível, e NIR (Near Infrared), que captura informações na banda infravermelho próxima, invisível aos olhos humanos. Operações realizadas com essas duas câmeras podem realizar um “checkup” completo da lavoura.
Auxílio na gestão da fazenda
Análise da lavoura: podem analisar a plantação inteira, detectar pragas e doenças, falhas de plantio, excesso de áreas irrigadas, entre outros. Podem contar com softwares para análises de imagens e, do alto, é possível analisar até a coloração da planta para detectar presença de fungos, por exemplo.
Demarcação de plantio: são ideais para apontar áreas boas para o plantio, pois proporcionam uma visão aérea completa da área e podem analisar, de acordo com as imagens captadas, quais áreas da fazenda estão mais propícias para a semeadura.
Acompanhar o desenvolvimento da safra: para saber se a lavoura está desenvolvendo como o esperado, o “piloto” pode sobrevoar a plantação com a frequência desejada (a cada semana, por exemplo), captar as imagens e depois analisá-las cronologicamente no computador. Utilizando as informações da rede, tomar as decisões mais assertivas.
Pulverização: alguns protótipos conseguem embarcar até 18 litros de defensivos e a aplicação feita pelo drone pode ser mais eficiente pela proximidade das plantas (não há o risco de pulverizar lugares proibidos) e mais segura por não ter um piloto embarcado na aeronave.
Monitoramento de pastagem: do alto, é possível saber quais pastos devem ser reformados e quais estão bons para uso. Se precisar de uma análise detalhada, é possível escolher pontos estratégicos da fazenda para coleta de solo, que será enviada para laboratórios.
Monitoramento de desmatamento: o sobrevoo oferece uma visão ampla de lugares distantes e de difícil acesso. Com essas pequenas máquinas, é possível ir a lugares onde estejam ocorrendo desmatamentos e, com localização precisa, combatê-los.
Achar nascentes de água: como algumas nascentes podem estar em matas fechadas, os drones podem ir a lugares de difícil acesso e encontrar a origem da água.
Localizar áreas propícias para abertura de estradas: também driblando o problema da mata fechada, é possível determinar do alto quais as melhores coordenadas para abrir estradas e vias na fazenda.
Vigilância: pequenos e ágeis, foram criados para vigilância em guerras pelos governos, e também para a proteção de áreas vulneráveis como fronteiras. O mesmo uso pode ser adotado na fazenda para vigiar as divisas da propriedade.
Localizar focos de incêndio: drones conseguem sobrevoar incêndios para descobrir os focos do fogo e, consequentemente, controlá-los.
Telemetria: é possível medir propriedades usando as imagens de alta qualidade do drone.
Contar a boiada: com as imagens aéreas, é possível contar o rebanho