Estudo aponta viabilidade de painéis de fibra a partir dos resíduos moveleiros

Os painéis foram produzidos a partir de galhos de árvores com 11 anos de idade cultivados na área experimental da Embrapa em Acaraú, Ceará

Estudo aponta viabilidade de painéis de fibra a partir dos resíduos moveleirosO uso de coprodutos na agroindústria promove a sustentabilidade das cadeias produtivas e a preservação de recursos provenientes da biodiversidade. A Embrapa Agroindústria Tropical desenvolveu a tecnologia para a produção de painéis aglomerados a partir dos materiais sobressalentes do beneficiamento da madeira na indústria moveleira cearense.

Na publicação “Painéis aglomerados produzidos a partir de espécies florestais cultivadas no município de Acaraú, CE”, os pesquisadores da Unidade demonstram a aplicabilidade desse coproduto, além de identificar quais espécies florestais nativas apresentam as melhores características para a cadeia produtiva.

Com o avanço dos plantios florestais, o aumento de resíduos originários de podas, desramas, desbastes e do processamento da madeira são consequências. No entanto, gera-se uma biomassa rica de frações lignocelulósicas que, transformadas na indústria, podem servir de matéria-prima para a movelaria.

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Com essa possibilidade, a Embrapa Agroindústria Tropical realizou experimentos para sinalizar as características químicas desses materiais, principalmente das frações lignocelulósicas, que indicam a possibilidade de desenvolver rotas tecnológicas para agregação de valor desses resíduos devido ao elevado teor de lignina.

O estudo desenvolveu painéis de fibra a partir desse residual, sendo o produto final semelhante ao MDF utilizado em larga escala pela indústria moveleira.

A produção dos painéis de fibra

Os painéis foram produzidos a partir de galhos de árvores com 11 anos de idade cultivados na área experimental da Embrapa em Acaraú, no Ceará. As amostras de galhos foram trituradas e moídas. Logo após, foram secas em estufa de ar circulante a 105 ºC por 18 horas.

Painéis de 110 mm x 110 mm x 5 mm produzidos com as amostras foram cortados para formação dos corpos de prova utilizados nos ensaios clínicos. A formulação dos painéis foi de 26 g de fibras de madeira, 30 g de resina (Redemite), 6 g de água, 6 g de farinha de trigo e 1 g de sulfato de amônia (conforme indicação do fabricante da resina). A mistura foi pré-prensada em molde fechado à temperatura ambiente.

O colchão de fibras formado foi em seguida prensado em prensa aquecida a 180 °C. Após a prensagem a quente, as placas foram resfriadas sob compressão durante 18 horas, sendo então armazenadas a 25 °C e 50% de umidade por 48 horas; após esse período, os corpos de prova foram cortados em serra de disco. Após a fabricação dos painéis, analisou-se a flexão, a determinação da densidade, o inchamento e a absorção de umidade pelas placas.

Como resultado, a pesquisa aferiu que o aproveitamento dos coprodutos da produção de madeira por reflorestamento no estado do Ceará ou em outras regiões com condições análogas é tecnicamente viável e deve ser avaliado do ponto de vista ambiental e econômico. Quanto à qualidade do material, as fibras obtidas de galhos das espécies nativas e exóticas e de clones de híbridos de eucaliptos selecionados no projeto apresentam-se como matéria-prima viável para a produção de painéis.

Com ajustes na densidade, as propriedades mecânicas dos painéis podem ser melhoradas. O tratamento dispensado às fibras no processamento industrial (explosão a vapor e refino) e a mistura de espécies madeireiras, entre outras melhorias de processo, poderiam ser adotados para melhorar o desempenho técnico e econômico dos painéis produzidos.

A seleção das espécies cultivadas

Em 2010, as primeiras pesquisas voltadas para o setor buscaram selecionar espécies arbóreas para a indústria do polo moveleiro de Marco/CE, com foco em viabilizar soluções para aumentar a produtividade e disponibilizar mais informações técnicas acerca de qualidade de madeira para a região.

Com isso, o projeto analisou o desempenho de 39 espécies arbóreas, 29 nativas e 10 exóticas, não tradicionalmente utilizadas no setor moveleiro, e seis clones de híbridos de eucalipto. Após 11 anos de cultivo, as espécies nativas de Pau-d’arco-roxo (Handroanthus impetiginosus), Jatobá (Hymenaea courbaril) e Angico (Colubrina glandulosa), as espécies exóticas de Acácia-australiana (Acacia mangium) e Chichá (Sterculia foetida) e os clones de híbridos de eucaliptos VE38, VE41 e GG680 se destacaram pelo crescimento e desenvolvimento, sugerindo boa adaptabilidade à região. Também foram realizadas análises de qualidade, experimentos para estabelecer parâmetros de cultivo e testes de novos materiais genéticos.

 

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