Inovações na mecanização agrícola, o que vem por ai?

por Katiaíres Evangelista Delpin Malvezi e Ricardo Ralisch –  Prezados leitoras e leitores! Nada mais oportuno para esta edição da revista que marca a Agrishow 2023, que um artigo sobre inovações na mecanização, considerando que este evento traz, justamente, o lançamento das principais novidades colocadas no mercado, pela maioria dos fabricantes de equipamentos agrícolas e onde se apresentam novas empresas fornecedoras de bens e serviços para a mecanização e para os demais segmentos do setor.

A edição anterior, 74, já trouxe excelente artigo sobre o tema e pretendemos aqui aprofundar um pouco mais num dos assuntos abordados: o potencial emprego de equipamentos agrícolas para realizar levantamento de informações que serão empregados no monitoramento das lavouras.

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Operador “olheiro”

As pessoas que mais visitam a lavoura durante uma safra são os operadores de máquinas agrícolas, em função da frequência com que estas operações são realizadas. Numa produção anual de cereais, por exemplo, é comum que uma lavoura receba 12 ou mais operações agrícolas, considerando o manejo da cobertura, a semeadura, os tratos culturais e a colheita.

É por isso que em algumas propriedades os operadores são orientados a observarem e informarem aspectos da área e da lavoura que mereçam atenção, como a presença de manchas ou falhas na lavoura, ocorrência de plantas invasoras, sinais de degradação do solo como marcas de erosão ou de compactação, variação no desenvolvimento das plantas, entre outros parâmetros. Acontece também, em algumas propriedades, que o gestor da lavoura acompanhe algumas operações agrícolas, justamente para ter essa visão geral de alguma parte ou setor da área.

Com o advento do piloto automático, que liberou o operador da operação de direcionamento contínuo da máquina, possibilita ao operador dar mais atenção ao entorno da operação, sem afetar a segurança e a qualidade da operação. Esse fato ilustra a característica das operações agrícolas estarem continuamente visitando a lavoura, mas depender da observação, interpretação e apontamento dos operadores é uma fragilidade da estratégia. 

O que se apresenta como inovação e que está muito prestes a ser colocada à disposição do mercado, é que essas observações e apontamentos sejam feitos diretamente pelas máquinas, monitorando as condições das lavouras e do ambiente de produção agrícolas.

Máquina “olheira”

Trata-se de agregar mais uma função, ou tarefa, aos equipamentos agrícolas. O que a máquina observar, olhar ou monitorar vem das suas próprias funções e suas estruturas e características operacionais, de acordo com a operação realizada, que estará associada à uma condição da lavoura, em função de seu desenvolvimento e estágio. Vai depender das ferramentas empregadas para realizar uma operação específica, considerando que o equipamento deverá ser dotado de recursos capazes de fazer essa leitura.

Semeadoras “na prática”

Uma semeadora possui elementos e ferramentas que rompem o solo para abrir o sulco. Esses sulcadores podem ser dotados de sensores específicos que avaliam algumas características importantes, como a umidade, por exemplo. Essa informação é crucial para se determinar se a semeadura deve, ou não, continuar. Se for um sulcador do tipo haste, como o da Figura 1, pode-se dotá-lo de outro tipo de sensor que avalia a resistência do solo a essa ruptura, o que leva a avaliar a qualidade do solo.

Figura 1: haste sulcadora de semeadora, que tem contato com o solo e pode avaliar alguns parâmetros/Foto: Ricardo Ralisch

Ainda na operação de semeadura, outra possibilidade é fazer uma leitura da biomassa verde ou seca, na área em que está semeando. Essa informação é importante para se avaliar a qualidade da estratégia que se está adotando para otimizar o Sistema Plantio Direto, por exemplo e pode ser feita com sensores frontais, ou seja, antes da passagem da semeadora.

Sensores traseiros, colocados na parte de trás da semeadora, avaliam a qualidade da semeadura, em termos de solo exposto deixado nas linhas e outros parâmetros importantes da plantabilidade, como distribuição das sementes no solo. Essas informações poderão ser empregadas para determinar algumas características operacionais da operação em execução, para realizar uma boa semeadura, como ilustrado na Figura 2.

Figura 2: semeadura realizada sobre cobertura verde, que impõe algumas características à semeadora, para otimizar a semeadura e evitar a exposição de solo, como se vê ao lado/Foto: Ricardo Ralisch

Pulverizadores

São os pulverizadores que mais visitam as lavouras e, por isso, são justamente nesses equipamentos que se prevê a instalação da maior diversidade de sensores, para monitorar diversos aspectos ambientais, das lavouras e do solo. O momento da realização da aplicação em relação ao estádio de desenvolvimento da cultura tratada definirá a série de informações a serem obtidas (Figura 3).

Figura 3: pulverização em pré-plantio Foto: Ricardo Ralisch

Nas fases mais avançadas das culturas, a pulverização poderá analisar fase de desenvolvimento das plantas e levantar num banco de dados quais as principais ocorrências que prejudicam a cultura neste período. Poderão estimar a produção e a produtividade. Poderão avaliar a saúde aparente das plantas e a presença de plantas daninhas na área. Essas informações orientam as próximas intervenções na lavoura e há grandes possibilidades de se racionalizar as operações agrícolas e o uso de insumos ou defensivos, reduzindo os custos de produção e os impactos ambientais.

Colhedora

Para encerrar o ciclo da lavoura, a colhedora pode realizar algumas leituras que serão úteis para o gerenciamento da lavoura. Além da produtividade da cultura, as colhedoras passarão a avaliar a quantidade e a forma de distribuição da palha, informações que definirão alguns parâmetros da semeadura seguinte. No caso ilustrado na Figura 4, a colhedora estimará o volume de biomassa expulsa pelo saca-palhas, que exigirão a realização de uma correlação no campo por uma equipe técnica, para estimar o volume total da biomassa produzida.

Figura 4: colhedora colhendo milho e espalhando a palha, que será avaliada para estimar a boiomassa seca total da lavoura/Foto: Ricardo Ralisch

Tratamento de dados

As leituras que nos referimos aqui neste texto são apenas a parte inicial da obtenção das informações, pois todos esses dados deverão ser tratados e analisados para indicar uma solução ou alternativa mais adequada para a situação levantada. Esse processo será automatizado, com recursos já amplamente empregados na informática e que colocarão o Brasil ainda mais na vanguarda tecnológica do Agro.

Tratamos aqui de um processo de inovação que se aproxima da realidade, mas ainda não está disponível no mercado. Algumas empresas de tecnologia já vêm se preparando para prestar esse tipo de serviço ou fornecer estes dados e na área digital as coisas acontecem muito rapidamente. Fiquem atentos. Boas safras e até a próxima!

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