Revisão: manutenção em dia, produtividade em alta

Por Viviane Taguchi

As máquinas agrícolas são consideradas as maiores aliadas do agronegócio e, portanto, a sua manutenção ainda é a melhor forma de manter sua eficiência e vida útil. Para manter os motores em dia, é possível realizar três tipos de manutenções: as preventivas, as preditivas e as corretivas. Nesse caso, essa última é sempre melhor evitar, já que ela é a que vai corrigir problemas que já ocorreram e o objetivo é não deixar que problemas ocorram. “A manutenção dos motores é essencial para garantir a durabilidade da máquina agrícola”, diz Jean Freitas, gerente de serviços para a Case América Latina. “Hoje em dia, existem ferramentas on board e off board à disposição do usuário para que ele possa realizar a manutenção adequada, reduzir seus custos e evitar o que mais impacta o trabalho no campo: horas paradas durante a safra”.

A manutenção preventiva é realizada para reduzir ou evitar uma falha ou queda de desempenho do equipamento. Normalmente, segue um plano previamente elaborado pelo fabricante, com recomendações técnicas específicas e intervalos de tempo definidos para cada motor. “Também deve ser realizada de acordo com a quantidade de horas que os equipamentos foram utilizados”, lembra Freitas. Nesta manutenção, o usuário deve se atentar para itens como lubrificação, elétrica, eletrônica, mecânica e a segurança do motor.São as ferramentas off board.

O instrutor técnico credenciado do Senar/MT, Cassiano Cunha, explica que, na lubrificação é fundamental conferir a viscosidade do óleo e da graxa, dois componentes que agem entre as partes móveis dos mecanismos, reduzindo o atrito e auxiliando a limpeza do equipamento e até na temperatura. “Usar o óleo errado pode colocar em risco a saúde do equipamento”, alerta. “Outros pontos importantes são os equipamentos elétricos que atuam na partida do motor, acendimento de luzes, medidores do painel, tomada de potência”, diz o especialista. “A bateria é o componente do sistema elétrico que mais requer cuidado e por isso, o nível de solução eletrolítica e a limpeza dos terminais e cabos devem ser sempre realizados”.

Para a parte mecânica, Cunha diz que o usuário deve prestar atenção em itens que contribuem para manter o motor na temperatura correta de trabalho. “A troca da tampa do radiador a cada dois anos é importante e, nessa troca, é preciso prestar atenção na especificação da pressão adequada às marcas e modelos do motor”, alertou. “A troca do líquido de arrefecimento também é fundamental”. 

O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) tem cartilhas que orientam o usuário a realizar a manutenção preventiva. No material, é indicado ao operador ficar de olho em itens como a temperatura, rotação do motor, passagem de ar, lubrificação, nível do combustível e dos fluidos, pressão, filtros de ar, pontos de engraxe e sistemas elétricos.

Tecnologia prevê falhas

Com tanta tecnologia de ponta abarcada em motores agrícolas, hoje em dia são as próprias máquinas quem avisam os usuários de que algo não anda bem, ou melhor, avisa o condutor de que daqui a pouco, ela vai apresentar um problema. 

A telemetria e o compartilhamento remoto de dados sobre os veículos e suas partes, permitem antecipar problemas, inclusive as manutenções pelas quais os motores devem passar. É a chamada manutenção preditiva. 

“As ferramentas on board  do motor avisam o operador, através dos inúmeros sensores instalados no painel da máquina, que uma falha pode vir a ocorrer dali a tantas horas ou dias”, explica Jean Freitas, da Case. “Dá tempo de realizar o reparo, evitar que a máquina fique parada e reduzir o custo de uma manutenção corretiva”.

A manutenção preditiva, de acordo com especialistas, prediz o tempo de vida útil dos componentes do motor e as condições necessárias para que ele seja mais bem aproveitado, aumente a eficiência do trabalho no campo e redução de custos. 

Entre os benefícios estão a antecipação da necessidade de serviços de manutenção do equipamento, evitar desmontagens desnecessárias, aumento do tempo de disponibilidade do equipamento, aumentar a eficiência do equipamento e o desempenho. “É possível determinar previamente as interrupções para realizar as manutenções que exigem a parada da máquina”, diz Freitas. “O reparo sempre será mais simples e rápido”.

Segundo ele, essa rapidez pode realmente fazer a diferença. “Se um motor eletrônico apresentar um problema, tradicionalmente, a parada que ele exigiria seria de mais ou menos oito horas. Com a manutenção preditiva, essa parada se reduziria para 45 minutos”. 

De acordo com ele, hoje em dia cerca de 80% a 85% dos motores utilizados no campo já atuam com esse sistema, mas problemas inesperados, como o encurtamento da janela de colheita, por exemplo, tem gerado uma alta nos reparos. “O pessoal está no campo, precisa correr para aproveitar a janela e acaba negligenciando um pouco a manutenção, o que aumenta o risco de quebra. Com as novas gerações de motores que seguem a padronização Tier 3 e MAR-1, os motores eletrônicos exigem cuidados mais específicos, já que seu sistema permite o reaproveitamento dos gases de escape”, explica Freitas. “Quanto mais aumenta a tecnificação do motor, melhora o seu desempenho e exige cuidados específicos”, diz ele. 

Aplicativos e experiência

Não foi devido à pandemia apenas, mas as montadoras correram para investir em tecnologias na palma da mão voltadas para o produtor rural. 

“O Brasil é um país muito grande e, por mais que a rede de concessionárias esteja presente em todas as principais regiões agrícolas, os aplicativos ajudam o produtor a realizar manutenções na própria fazenda”, diz André Rocha, da AGCO Power, fabricante de motores. “Quando o carro quebra, você vai até a oficina. Quando uma máquina agrícola quebra, a oficina tem que ir até ela”. 

No entanto, especialistas garantem que, mesmo com toda a tecnologia disponível, “o olho do dono é que engorda a boiada”, por isso estar atendo a alguns detalhes é sempre importante: ruídos diferentes, cor da fumaça, vibrações anormais, atenção aos sensores, poeira em excesso no filtro de ar. “O motor hoje em dia conversa com o usuário, mas tem alguns cuidados que sempre serão de responsabilidade do operador”, finaliza Rocha.

Box: A hora de parar 

Esteja sempre atento aos seguintes parâmetros de funcionamento:

ω Temperatura além do intervalo

ω Rotação do motor

ω Indicador de restrição de passagem de ar

ω Falta de lubrificação

ω Nível de combustível

ω Nível de fluidos (cárter, transmissão, radiador etc.)

ω Pressão e estado dos pneus

ω Filtros de ar

ω Pontos de engraxe

ω Sistemas elétricos (partida, luzes etc)

ω Sensores do painel

Perigos da falta de manutenção

Negligenciar a recomendação do fabricante para as manutenções pode causar prejuízos e falhas como:

ω Queda na produtividade e no desempenho ω Riscos à segurança dos operadores

ω Redução de vida útil dos equipamentos

ω Aumento de custos operacionais

ω Falhas no momento de operação

Maus hábitos danificam motores

Além da falta de manutenção, algumas outras práticas muito comuns produzem danos às máquinas: 

ω Permitir que funcionários não treinados operem os equipamentos, pois as modernas máquinas estão cada vez mais complexas. Sem a devida capacitação, os operadores podem ocasionar problemas nos equipamentos e até provocar acidentes. ω Lembre-se: muitos fabricantes fornecem treinamentos para operações ao adquirir a máquina. Para saber manusear os equipamentos corretamente, os operadores devem participar desses treinamentos.

ω Ignorar as especificidades de cada motor: os fabricantes já determinam por padrão a periodicidade de manutenção de cada tipo de equipamento, as quais devem ser respeitadas. 

ω Ignorar as recomendações do fabricante. Por motivos óbvios, o fabricante do produto é o mais indicado para dar orientações sobre como cuidar de sua manutenção. Desprezar os procedimentos de fábrica e fazer do seu próprio jeito pode reduzir a vida útil do motor.

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