por André Diz, Felippe Serigati e Roberta Possamai – Em meados do primeiro trimestre de 2020, a pandemia de Covid-19 começou a atingir de forma intensa a saúde da população brasileira, bem como a economia da nação, impactando os setores em medidas diferentes e afetando, consequentemente, o mercado de trabalho do País. O agro (aqui entendido como agropecuária e agroindústria) não saiu ileso dessas turbulências em um primeiro momento, porém, conseguiu se recuperar de forma relativamente rápida.
Dessa forma, entre 2019 e 2022 (sempre média de quatro trimestres) o agro gerou, em termos líquidos, 344,15 mil postos de trabalho. Na realidade, foram geradas 359,62 mil ocupações formais, o que mais do que compensou a contração das informais (-15,47 mil). Com isso, as vagas formais, no ano passado, chegaram ao maior número desde o início da série histórica (2016), totalizando 5,59 milhões de ocupações. Consequentemente, a taxa de formalidade do setor atingiu o seu recorde, alcançando 40,1% das vagas do setor.
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Destruição de postos de trabalho no início da pandemia; depois, franca recuperação
De acordo com o levantamento do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGVAgro) com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), o mercado de trabalho do universo agro brasileiro superou o nível de pessoal ocupado observado antes da pandemia chegar ao País.
Ou seja, em 2019, o agro tinha 13,62 milhões de pessoas ocupadas. Três anos depois, em 2022, o setor alcançou 13,96 milhões de postos de trabalho. Assim, não só voltamos ao número de vagas do período pré-pandemia, como foram criadas 344,15 mil novas ocupações no setor, uma expansão de 2,5%. Apesar do resultado líquido positivo do mercado de trabalho do universo agro, é importante ressaltar que ele não passou ileso pelas turbulências causadas pela Covid-19, uma vez que logo que a pandemia alcançou o Brasil, o mercado de trabalho do setor sentiu seus efeitos negativos e só depois entrou em trajetória de recuperação e voltou a criar vagas de trabalho.
Isto é, entre 2019 e o primeiro trimestre de 2021 (pior momento da crise para o mercado de trabalho do setor) foram perdidas 603,3 mil vagas. A partir do segundo trimestre de 2021, o mercado de trabalho do agro voltou a se aquecer e gerar empregos, de forma que, desse período até o quarto trimestre de 2022 foram criados 947,45 mil postos de trabalho, mais do que compensando a perda de ocupações observada anteriormente.
Expansão dos formais e queda dos informais levou ao aumento da taxa de formalidade do mercado de trabalho do setor
É importante salientar, entretanto, que os trabalhadores formais e informais, naturalmente, sentiram os impactos da crise sanitária de formas diferentes. Vale destacar que, de modo geral, no mercado de trabalho de todos os setores econômicos, é esperado que o pessoal ocupado informal sinta de forma mais rápida os efeitos de uma crise, uma vez que as empresas tendem a demitir primeiro os trabalhadores sem vínculo e que tenham, portanto, um menor custo de demissão. Somente depois que os trabalhadores formais tendem a sentir os efeitos do desaquecimento do mercado de trabalho, uma vez que as empresas só passam a dispensar esses funcionários quando percebem que a crise persistirá, incorrendo, dessa forma, nas despesas de demissão.
Foi isso que ocorreu no início da pandemia de Covid-19 no mercado de trabalho do agro. Isto é, entre 2019 e o primeiro trimestre de 2021, as ocupações informais contraíram 6,3%, sendo responsáveis por 87,8% da queda nas ocupações do agro (529,83 mil das 603,30 mil vagas). No mesmo período, as ocupações formais caíram 1,4%, representando apenas 12,2% do total das ocupações perdidas (73,47 mil das 603,30 mil vagas).
Porém, assim como no início de uma crise os informais são os que mais são prejudicados, quando as empresas começam a se reerguer, voltam a contratar primeiramente os informais para depois formalizar as contratações. E foi isso que ocorreu no agro após o pior momento da pandemia para o setor. Entre o primeiro trimestre de 2021 e o quarto trimestre de 2022, houve um aumento de 514,36 mil ocupações informais (54,3% do total de 947,45 mil vagas criadas) e de 433,09 mil das formais (45,7% dos postos criados).
No período inteiro (isto é, entre 2019 e 2022), nota-se um aumento de 2,5% das vagas totais do universo agro, sendo que, enquanto os postos formais se expandiram 3,6%, os informais contraíram em 0,2%. Ou seja, mesmo com a forte recuperação após o primeiro trimestre de 2021, o número de postos de trabalho informais ainda está ligeiramente abaixo do verificado no período pré-pandemia.
Com essa dinâmica entre trabalhadores formais e informais, a taxa de formalidade do mercado de trabalho do universo agro aumentou entre o início da pandemia e o ano passado, saindo de 38,4% para 40,1% – alcançando, assim, o maior patamar de toda a série histórica, iniciada em 2016. Vale ressaltar que na indústria geral e no mercado de trabalho médio de todos os setores, a formalidade também cresceu, mas em nenhum dos dois casos atingiu patamar histórico, como ocorreu no agro.
Por fim, é válido destacar que a larga maioria dos produtores agropecuários é classificada como informais pela PNAD Contínua, mais precisamente como conta própria ou como empregadores sem Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) – essa característica do setor, deve ficar claro, tende a superestimar a real informalidade do mercado de trabalho a ele associado.
Em suma, durante o início da pandemia de Covid-19, o universo agro perdeu postos de trabalho, sobretudo, os informais. No entanto, o mercado de trabalho do setor se recuperou rapidamente, de forma que o número de postos de trabalho atualmente é superior ao período pré-pandemia (2019). Além disso, o número de formais atingiu o seu maior patamar (5,59 milhões de pessoas) e a taxa de formalidade também alcançou seu maior valor (40,1%), estando 1,6 ponto percentual (p.p.) acima do período pré-pandemia (38,4%).
¹ Mestre em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP) e pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro).
² Doutor em Economia pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV), professor e pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro). felippe.serigati@fgv.br
³ Mestre em Economia Agrícola pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV) e pesquisadora do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro). roberta.possamai@fgv.br
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