Não veremos mais máquinas como as atuais em pouco tempo. Não veremos mais operadores rurais como agora e também não teremos mais produtores amanhã, fazendo como fazem hoje. A agropecuária virá a ser um autêntico lego agrotecnológico. Na geração das sementes os genes, além se serem mexidos e remexidos, passam a ser agora criados e comandados. A saúde alimentar será cada vez mais percebida com a saúde vegetal.
Os sensores tecnológicos detectam o que a planta absorve, ou não, os micronutrientes que a enriquecem tanto para produzir como para depois alimentar melhor seu consumidor, passaram a contar o que antes já contava mas não podíamos contar; e a famosa “lei dos mínimos” vai sendo revelada e trabalhada. A mecanização vem farta em análise, computação, simulações, autolocomoção e redes conectadas entre cada uma dessas feras robóticas.
Irá vencer o jogo aquele que educar, preparar e ensinar melhor seus recursos humanos ao diálogo com as máquinas, a interpretação de suas linguagens, e ao buscar nas profundezas do nano saber as decisões para o macro lucrar, proteger e preservar: sustentabilidade intensiva. Esse jogo do futuro já está sendo jogado, aqui e agora. Numa conversa com o Pedro Valente, um moderno executivo de uma das maiores fazendas no Brasil, o grupo Amaggi (quase 300 mil hectares em safra e 2ª safra), e com sua equipe, perguntei: “quem é o melhor operador de máquinas hoje?”. E a resposta foi: “não é o operador, é a operadora, uma moça chamada Benigna, ela extrai a melhor performance dos equipamentos e ainda não deixa ninguém subir com botas sujas nas suas máquinas!”. Claro, isto serve de inspiração a uma nova visão de inteligências humanas dialogando e dominando esses seres vivos artificialmente. Por isso, a mulher – nata em sensibilidade e sensitividade, vai se configurando num recurso humano sagrado para os novos altares deste universo agro high tech.
Na FATEC Shunji Nishimura, na Fundação Shunji Nishimura de tecnologia, em Pompeia, interior de São Paulo, cerca de 200 jovens já receberam colação de grau de ensino superior como tecnológos de mecanização em agricultura de precisão. Na recente formatura da VI turma, em agosto de 2015, tive a honra de ser o seu patrono. Dentre 33 alunos, 22 já estavam empregados. O destino sendo principalmente empresas de máquinas agrícolas, fazendas e revendas.
Um jovem moço de 22 anos, estava saindo de Marília, para uma fazenda em Nova Mutum. Perguntei qual seria sua missão lá? E ele disse: ” treinar e preparar operadores e o pessoal para a mecanização da agricultura de precisão”. A inovação não conseguirá viver pela inovação do invento em si, mas pela sua utilidade e criação de valor, esse produto será sempre um meio, jamais um fim.
Portanto, toda inteligência artificial está condenada a ser pela inteligência humana, domada. A tecnologia atua de forma imperceptível recombinando neurônios humanos. Muito maior, mais profundo e mutante está no observar que essa montadora agrotecnológica muda pessoas, reconstrói seres humanos, e, em paralelo, a inovação, forjamos também cérebros que dão saltos de superação, e não apenas criam as inovações, mas aprendem a extrair delas uma nova equação sustentável e que os leva ao futuro, bem como nascem e formam uma nova classe: a dos domadores das novas feras agrícolas, as supermáquinas dotadas de inteligência e de reações intercambiáveis, que as permite aprender a aprender. Esse novo par romântico, pessoa e máquina, podem viver felizes para sempre ou se odiarem mutuamente, mas não importa o que pensem, precisarão aprender a conviver e saber discutir a relação. Nesta progressão exponencial da ciência e tecnologia, precisamos acender e acelerar a superação dos espíritos. Não sofremos mais por falta de informação, conhecimento, do acesso ao tecnológico, ou mesmo ao capital. Estudos revelam que a maioria das organizações que se aproveita das novas revoluções tecnológicas raramente é aquela que liderava o reino anterior. E mais de 90% das que extraem valor das novas ondas e eras, não são nem mesmo as que as inventaram e, sim, as que as assumem em altíssima velocidade essa nova linguagem.
Os exemplos são inúmeros: não foi uma empresa de sementes antiga que dominou e lidera hoje a fase da engenharia genética, não foi nenhuma empresa de telefonia que dominou o novo meio da intermet, bem como assistiu toda a grande mídia das Yellow Pages ser destroçada pelos revolucionários sistemas de buscas como Google. E fica aí um sinal de alerta para todos os atuais fabricantes em todos os segmentos da agrotecnologia: serão vocês que comandarão o futuro da mecanização agropecuária no mundo?
Serão os atuais produtores rurais que se transformarão nos fazendeiros sensoriais do futuro? Será você o executivo que saberá brincar e jogar nesse lego, um patchwork criativo de causa e efeito recombinante? Será você estudante e professor do agora, que está se construindo para um amanhã que jamais será como hoje? E, acionistas, serão vocês que estarão no controle empresarial do futuro pensando no valor de suas ações do presente, passado, e trocando o longo prazo pelo curtíssimo quarter a quarter? A maior de todas as revoluções passa a ser a superação dos espíritos, onde ou a inteligência humana lidera a artificial, ou assistiremos a ficção científica virar realidade, com um governo de hyper máquinas que aprendem a pensar. Ao olharmos para os atuais governos planetários, e o nosso brasileiro, não seria de todo mal, imaginar! Bem vindos domadores de feras, e muita alegria no gamification circense, onde os games assim como no teatro retratam a vida, e na vida terminam retratados. Shakespeare para sempre imortal.
José Luiz Tejon é professor de Educação, Arte e Cultura; coordenador do Núcleo de Estudos de Agronegócio da ESPM; conselheiro da CCAS e da ABMRA; colunista da Rede Jovem Pan de Rádio e diretor de Biomarketing